Calculadora uniu casal, mas câncer quase acabou com tudo duas vezes
Glendhel e Kallyne eram apenas colegas de trabalho com nomes diferentões. Mas como em muitas empresas, um dia um olhou para o outro e pronto: a paixão. O inusitado foi o motivo do encontro: a história de amor começou graças a uma calculadora e seguiu forte por envolver dramas que teriam separado muitos casais. A história foi compartilhada pela empresa onde ambos trabalhavam, a Unimed. Glendhel lembra de todo os detalhes: “Na época ela fazia faculdade e eu tinha uma calculadora científica, teve uma prova e ela precisava dela. Ela entrou na minha sala, porque soube que eu tinha, e pediu a calculadora para fazer a prova, mas quando ela chegou e eu a vi, naquele momento foi um negócio fora de série, eu vi que tinha algo diferente nela na hora”. Pronto, Glendhel já tinha um motivo para puxar conversa sempre que encontrava com a colega: os estudos em comum. A aproximação então virou rotina com horário marcado, sempre no almoço de conversas intermináveis. Apaixonado, tudo nela era único, confessa. “Eu também gostava muito quando ela ia com tranças no cabelo”. Em meio as tranças, garfos, pratos, idas e vindas pelos corredores, empréstimos de calculadora científica, a amizade foi imediata, mas o namoro demorou um ano e meio e só em 2007 eles assumiram a relação. Os dois se casaram, Kallyne deixou a empresa, engravidou e a família ia ficar completa, quando na 32ª semana de gestação veio o diagnóstico de câncer de mama. Entrou em cena então uma corrente do bem, de apoio e orações. A mãe seguiu firme, o menino nasceu com 37 semanas e uniu ainda mais Glendhel e Kallyne, literalmente. A junção dos nomes dos pais gerou Kallel. O tratamento começou 36 dias após o parto. “O Kallel nasceu em 28 de julho de 2017 e a primeira sessão de quimioterapia da minha esposa foi no dia 5 de setembro, um dia após o aniversário dela”. Se batalha de mãe de primeira viagem já é dura, imagine enfrentar oito ciclos de quimioterapia com um bebê e o trauma de um procedimento radical, a mastectomia total bilateral, com a retirada das duas mamas. “Kallyne precisou de 25 sessões de radioterapia e, por conta disso, teve queimaduras, quase de 2º grau. Por fim, depois de mais ou menos seis meses, ainda veio uma cirurgia de reconstrução para colocação das próteses”, lembra o marido sobre os dias mais difíceis. Mas a cada notícia que fazia o olho dela brilhar, outra derrubava Kallyne. Três anos depois, novamente o exame positivo de gravidez. Kauê nasceu bem, o casal curtia a criançada em casa até um autoexame quando ela mesma identificou um nódulo na mama reconstruída. “Em fevereiro de 2022 veio a confirmação de um novo câncer, que a princípio não era invasivo, mas após cirurgia para retirada do nódulo e biópsia, foi concluído que era algo invasivo”, diz o marido. Desta vez, a vida foi menos cruel. Foram quatro sessões de quimioterapia “para barrar qualquer célula que poderia vir a se reproduzir no corpo dela”, explica Glendhel. Para ele, duas coisas são poderosíssimas nesta história, o amor e a fé. “Do dia que recebemos a notícia até o dia em que os médicos anunciaram que minha esposa estava curada, nossa família não deixou de acreditar um dia sequer que a cura viria”. Mas como não foi fácil desde que decidiram casar, Kallyne voltou para o hospital, por conta de “infecção bacteriana e rejeição das próteses”. No dia 31 de março deste ano ela passou por nova cirurgia. Há poucos dias Glendhel compartilhou a notícia de que Kallyne “está livre de qualquer suspeita que venha a se transformar em um novo câncer" e, segundo palavras do médico, agora o final deve ser sempre feliz. "Ele até brincou com minha esposa, falou que ela está livre para uma nova vida”, conclui o marido.