Angela recomeçou com 4 marmitas e hoje faz sucesso com comida simples
Na cozinha modesta, o cheiro do alho fritando anuncia o cardápio do dia. Nada mirabolante: arroz, feijão, isca de carne acebolada e salada. Aqui, o que impera é a simplicidade. Esse é o tempero usado por Angela Maria da Silva há 13 anos e a chave para o sucesso da cozinheira. Os pratos, com gosto de casa de mãe, conquistam paladares diariamente e relembram o porquê da fama. Aos 51 anos a proprietária do Atalaias Lanchonete e Restaurante conta, sem perder o ‘timming’ da panela, que o amor pela profissão é tão grande que nem mesmo o câncer foi capaz de afastá-la do local. A história do restaurante começa com a venda de apenas quatro marmitas e termina com 50 clientes fidelizados. “Estou aqui cozinhando há quase 15 anos, agora só prato feito e marmitex. Na pandemia fiz até entrega, mas tive que parar porque fiquei sobrecarregada, tive um câncer de garganta e pescoço. Graças a Deus estou bem de novo. Eu amo isso aqui, cozinhar. Principalmente na hora da montagem. Acho que tem tudo a ver, o prato fica bonito, colorido”, disse. O diagnóstico veio com uma surpresa. Angela teria que abandonar os controles do avião - maneira como chama a cozinha - e se jogar de paraquedas no desconhecido. “Quando eu tive o diagnóstico, o médico me proibiu de cozinhar, disse que quimioterapia e fogão não combinavam, mas eu fiz mesmo assim, era o meu sustento. Eu falo que aqui é minha cabine e a cozinha é tipo um avião. Na hora do ocorrido eu mesmo faço tudo, me sinto bem”. Basta colocar a touca higiênica e o avental para a mulher se sentir preparada para enfrentar a vida. Nesse momento Angela muda de personalidade. "Eu viro outra pessoa. Igual o palhaço, eu me caracterizo e é o que amo fazer, cozinhar". A filha, Emanuelle Ywlly Osmar, 29 anos, conta que o período de descobrimento do câncer da mãe foi conturbado. “Em 2020 ela teve e mesmo assim cozinhou todos os dias, até com sonda e quase sem conseguir comer direito, devido a radioterapia. Só ela mexia nas panelas dela. Ela tinha ciúmes". Entre sorrisos, Angela compartilha o sonho de construir um restaurante, como ela mesma diz, com cara de restaurante. A vontade é uma das forças motrizes que impulsionam a cozinheira. Cardápio - O menu simples chama atenção dos apreciadores de um bom almoço caseiro, com aquele gostinho de casa de mãe. Um dos carros chefes do lugar e a guarnição mais pedida é o bifé acebolado. Mesmo que ele não esteja no cardápio, Angela faz questão de manter algumas unidades prontas só para agradar os clientes. “Sempre é uma mistura diferente mas o povo sempre quer Bife. Sempre tenho pra poder estar te atendendo”. Para ela, a dificuldade é montar o cardápio. Muitas vezes a mulher cozinha por intuição. Não existe um roteiro. Ela decide no dia. “Na cozinha, pra mim, a pior coisa é fazer o cardápio, fico pensando no que vou fazer, eu faço na hora. Muitas vezes vou no mercado pra ver o que tem de promoção”, acrescenta. O preço das marmita e do prato feito também são atrativos para os clientes. Ambos custam por R$ 15,00, mas o valor pode diminuir caso o interessado feche um pacote com o estabelecimento. O intuito é manter o preço e oferecer uma alimentação justa. Passado - A história do estabelecimento começa despretensiosa, com a vontade de Angela em mudar de área. Na época ela atuava como despachante. Em 2010 a mulher decidiu vender quatro marmitas na Avenida Fernando Corrêa da Costa, número 577. Antes de ser um restaurante, o estabelecimento já foi um galpão de materiais para escritório e uma lanchonete. A mágica acontece sob os cuidados de mais três pessoas, fora Angela: a filha, a irmã e de um amigo da família. “Eu fui de tudo nessa vida, aprendi muito e desde cedo. Comecei a vida como babá, depois trabalhei com muita gente de família, aprendi muita coisa. Me casei cedo, antes dos 15, comecei a trabalhar como despachante, depois fui pra lanchonete e depois caí nas graças de cozinhar, vi que era isso que gosto de fazer. O sonho começou com a venda de quatro marmitas e hoje são, em média, 50 clientes atendidos diariamente. “ Vendi as quatro no primeiro dia, aí fiquei animada. No outro dia foi sete, depois 14 e foi aumentando. Eu não aumento mais porque não tenho mão de obra, tenho que ter a base pra atender bem o cliente”. Clientes - São tantos anos no mesmo local que a equipe sente falta quando algum cliente não aparece. O sentimento é de irmandade. “Cria um laço, a gente já fica todo mundo amigo, como não é muita gente, fica tudo muito conhecido. Quando o cliente não vem a gente fica desesperado. Eu amo o que eu faço, me sinto totalmente realizada”, diz Angela. O restaurante fica na Avenida Fernando Corrêa da Costa, número 577. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) Receba a notícia no momento da publicação. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News .