Montadoras acusam BYD de concorrência desleal; ‘dinossauros’, responde a chinesa
A inauguração da fábrica da montadora chinesa BYD em Camaçari (BA), no antigo complexo da Ford, marcou o início de uma intensa disputa fiscal no setor automotivo nacional.
Com a montagem de carros elétricos a partir de kits importados da China, a estratégia da empresa gerou críticas por parte de fabricantes tradicionais como Volkswagen, General Motors, Toyota e Stellantis.
Essas montadoras acusam a BYD de concorrência desleal e alertam para possíveis impactos negativos no emprego, investimento e industrialização brasileira. O impasse chegou ao Palácio do Planalto.
O centro da controvérsia está no modelo SKD (Semi Knocked Down), adotado pela BYD. Nesse formato, os veículos são importados com a carroceria já pintada e parcialmente montada, sendo apenas finalizados no Brasil — sem etapas como soldagem ou pintura no território nacional.
A fábrica da BYD iniciou operações em julho de forma experimental, produzindo os modelos Dolphin Mini e Song Plus, ambos populares no mercado brasileiro. A empresa afirma que a nacionalização da produção ocorrerá gradualmente, conforme previsto em contrato com o governo da Bahia, com um prazo de até um ano para a transição.
Diante do pedido da BYD para redução das tarifas de importação dos kits SKD, os presidentes das maiores montadoras instaladas no Brasil enviaram uma carta ao presidente Lula. No documento, os executivos alertam que o modelo compromete a indústria automotiva nacional ao reduzir o valor agregado dos veículos e enfraquecer a engenharia local.
“Essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria”, afirmam as montadoras, que pedem igualdade de condições e o fim de “privilégios para a importação de veículos desmontados”.
Resposta da BYD
Em comunicado oficial, a BYD refutou as críticas e negou qualquer pedido por tratamento privilegiado. A empresa afirma estar cumprindo seu plano de industrialização e que sua proposta de redução temporária de impostos é justa e compatível com práticas anteriores do setor.
A marca também respondeu de forma provocadora, comparando os concorrentes a “dinossauros” diante de um “meteoro no céu”, insinuando que a resistência à BYD tem mais a ver com a perda de protagonismo do que com preocupações legítimas sobre a indústria nacional.
O impasse resultou em uma decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) que estabeleceu um meio-termo. A decisão permite que a BYD importe veículos em formato SKD sem pagar impostos por até seis meses, respeitando um teto de US$ 463 milhões.
Após esse período, as tarifas serão retomadas de forma escalonada, até atingir 35% em janeiro de 2027 — antecipando em 18 meses o cronograma original, que previa esse aumento apenas em julho de 2028.
A medida foi recebida com reserva pela indústria automotiva nacional. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) classificou a decisão como o “máximo aceitável” dentro do contexto atual. A BYD preferiu não se pronunciar publicamente após a resolução.
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