Advogado lança livro sobre Daniella Perez. Atriz da Globo foi assassinada por casal. Hoje estaria com 55 anos
1
Bernardo Braga Pasqualette é advogado, mas está se revelando um historiador e pesquisador do primeiro time. O livro “Me Esqueçam: Figueiredo — A Biografia de uma Presidência” (Record, 796) resulta de uma pesquisa exaustiva sobre um governo que parecia ter pouco a dizer. O autor mostra que não é bem assim e faz uma radiografia ampla do que aconteceu na gestão do general-presidente carrancudo.
Figueiredo era meio tosco, é claro. Mas, ao contrário do que chegaram a prever, conseguiu fazer a Abertura, o que é, sem dúvida, seu maior mérito. O general Ernesto Geisel o escolheu como sucessor para levar a Abertura adiante. Quando ocorreu o atentado do Riocentro, houve um recuo (tanto que Golbery do Couto e Silva decidiu sair do governo), com Figa “submetendo-se” à linha dura. Mas, ao final, tudo indica que foi a linha dura que teve de se submeter para não ser punida pelo presidente. Houve um pacto faustiano, mas que não prejudicou a Abertura. Pasqualette nos oferece as informações, colhidas com precisão, e não deixa de analisá-las com a competência e o distanciamento dos melhores historiadores do período.
Irrequieto, mal terminou uma pesquisa, que lhe deu um trabalho de Hércules, Pasqualette decidiu estudar e descrever um assunto que, digamos assim, ainda é problemático. Um caso que, embora acontecido há 30 anos, permanece atual. Porque, excetuando a atriz assassinada, Daniella Perez, um dos personagens relacionados aos fatos permanece vivo, circulando por aí. O ex-ator Guilherme de Pádua, que se apresentava como pastor da Igreja Batista, morreu. Sua ex-mulher, Paula Thomaz (novo nome: Paula Nogueira Peixoto), se casou novamente, tem outro filho (e tem um filho do casamento com Pádua) e se formou em Direito. Ela evita falar com jornalistas e pesquisadores, mas suas versões circulam por aí, em redes sociais, dezenas de reportagens e, sobretudo, nos processos judiciais.
Ante processos gigantes e personagens que se recusam a falar (e, pergunta-se, falar o quê?), e possivelmente “ameaçadores”, os pesquisadores escapam para temas menos complicados. Não é o caso de Pasqualette, que une sua formação de advogado à de pesquisador rigoroso. O historiador expõe os fatos, torna-os mais objetivos, e é ao apresentá-los de maneira nuançada que vai, ao longo do caminho, expondo suas interpretações (que são mais fortes e relevantes do que meras opiniões). No caso, obviamente, não há como ficar ao lado dos assassinos — duas pessoas de uma crueldade ímpar. Bons livros não precisam ser necessariamente isentos — precisam, isto sim, ser objetivos, nuançados. Conhecer bem um fato — narrá-lo e descrevê-lo com rigor e amplitude — é a maneira mais eficaz de compreendê-lo e, daí, julgá-lo.
O novo livro de Pasqualette tem o título de “Daniella Perez — Biografia, Crime e Justiça” (Record, 616 páginas). Já está nas livrarias há algum tempo e é o que se tem de melhor sobre a morte da atriz, filha da escritora de novelas Gloria Perez.
Sinopse da Editora Record
“O mais completo relato investigativo sobre as circunstâncias e motivações do crime hediondo que vitimou a estrela em ascensão Daniella Perez.
“Em agosto de 1992, enquanto no Brasil emergia o movimento ‘caras-pintadas’, na televisão estreava a novela ‘De Corpo e Alma’, escrita por Glória Perez. Em meio a artistas consagrados, estava Daniella Perez, cujo sobrenome revelava se tratar da filha da autora. Bailarina por vocação e engatando o terceiro trabalho seguido na televisão, a jovem atriz se via diante de um enorme desafio: vencer a desconfiança da crítica acerca de seu talento. Dando vida à Yasmin, personagem tipicamente suburbana que gerou forte identificação no público, Daniella conquistou o público.
“O crescimento de sua popularidade, contudo, veio acompanhado de críticas de setores da mídia, que atribuíam seu êxito à influência materna. Guilherme de Pádua, colega de elenco e futuro algoz da jovem estrela, também pensava assim e começou a assediá-la, num movimento silenciosamente percebido nos bastidores da novela. Mesmo após o crime, ele nunca negou que se aproximara da atriz por interesse.
“Escrito sob a forma de uma reportagem literária, Daniella Perez: biografia, crime e justiça é composto de um perfil biográfico de Daniella e uma minuciosa análise do crime que a vitimou. O trabalho se valeu majoritariamente de fontes primárias, além de terem sido analisadas inúmeras reportagens sobre a investigação criminal, o julgamento e a execução das penas dos condenados, além do processo que os condenou por homicídio duplamente qualificado.
“‘Daniella Perez — Biografia, Crime e Justiça’ é a história de uma estrela em ascensão e de sua partida precoce, mas é também o mais completo relato investigativo das circunstâncias e motivações de um crime hediondo, trazendo à luz todas as nuances de um crime bárbaro que causou enorme comoção em todo o país.”
2
Mulher que ajudou a matar a atriz Daniella Perez não tem direito ao esquecimento, diz STJ
Quanto ao passado de criminosa, Paula Nogueira Peixoto não tem o direito de tentar escondê-lo, quer dizer, de modificá-lo, de anulá-lo, de apagá-lo
Assassinos têm direito a serem esquecidos pela sociedade? Depois de cumprida a pena, jornais, revistas e emissoras de televisão devem perder o direito de mencioná-los? Não. Se a pessoa cometeu um crime, mesmo que tenha passado anos na cadeia e tenha, digamos, se regenerado, o que fez não merece olvido. O que editores, que pautam repórteres, têm de refletir é sobre o sensacionalismo a respeito das pessoas. Porque algumas vezes, mesmo sem ter informações novas, busca-se rememorar determinados casos única e exclusivamente para, com sensacionalismo, conquistar ou ampliar a audiência. Corre-se o risco de brutalizar ainda mais o que já é brutal.
Para matar a atriz Daniella Perez, em dezembro 1992, há quase 28 anos, o ex-ator Guilherme de Pádua Thomaz contou com a ajuda de Paula Nogueira Thomaz, com quem era casado. Mataram a jovem de 22 anos a facadas. Paula Nogueira Peixoto — seu novo sobrenome —, uma advogada de 50 anos, acionou a Justiça contra a revista “IstoÉ”, usando como base o chamado “Direito do Esquecimento”. Ela solicitou à Justiça que, quando a publicação da Editora 3 fizer reportagens sobre o assassinato da filha da autora de telenovelas Gloria Perez, não cite mais o seu nome. Sonegar uma informação verdadeira ao leitor é praticamente um crime.
Por isso o Superior Tribunal de Justiça decidiu contra Paula Nogueira Peixoto e a favor da “IstoÉ”, ou melhor, da liberdade de não omitir a verdade. O relator do caso no STJ, ministro Ricardo Villas Bôas, numa decisão criteriosa e acertada, disse que, se a Justiça acatasse o pedido, seria o “apagamento de trecho significativo não só da história de crimes famosos que compõem a memória coletiva, mas também de ocultação de fato marcante para a evolução legislativa mencionada”.
O professor de Direito Daniel Sarmento disse à coluna de Ancelmo Gois, de “O Globo”, que “o direito ao esquecimento não é da imprensa, ‘e sim da sociedade, que tem direito a conhecer sua história, sob pena de repetir os mesmos erros”.
Quanto ao passado de criminosa, Paula Nogueira Peixoto não tem o direito de tentar escondê-lo, quer dizer, de modificá-lo, de anulá-lo. O que precisa é zelar por sua história pós-crime e pós ter cumprido a pena. Se voltou a ser uma cidadã de bem, se não delinquiu mais, é o que importa, e, se alguém inventar alguma coisa a seu respeito, aí tem todo o direito de processá-lo. Quanto ao assassinato de Daniella Perez — a atriz faria 54 anos no dia 11 de agosto de 2025 —, trata-se de uma mancha que não vai desaparecer. Não há como apagá-la. É história.
O post Advogado lança livro sobre Daniella Perez. Atriz da Globo foi assassinada por casal. Hoje estaria com 55 anos apareceu primeiro em Jornal Opção.