PF afirma que Bolsonaro recebeu R$ 30,5 milhões em um ano
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu cerca de R$ 30 milhões em suas contas bancárias entre março de 2023 e fevereiro de 2024, de acordo com relatório da Polícia Federal (PF) anexado ao inquérito sobre suspeitas de obstrução do julgamento da trama golpista. As investigações resultaram no indiciamento do ex-presidente e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Segundo a análise, elaborada com base em informações fornecidas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Bolsonaro recebeu R$ 30.576.801,36 e retirou R$ 30.595.430,71 no mesmo período.
A análise da PF aponta que as movimentações financeiras ocorreram entre 1º de março de 2023 e 5 de junho de 2025. O documento registra que o ex-presidente foi identificado como parte envolvida em comunicações reportadas por unidades de inteligência financeira ao Coaf, o que levantou indícios de “lavagem de dinheiro e outros ilícitos penais”.
Conforme a PF, Bolsonaro recebeu R$ 19,3 milhões por meio de 1,2 milhão de transações via Pix, mais de 60% do total registrado em créditos. O volume coincide com a campanha organizada por aliados em 2023 para arrecadar recursos destinados ao pagamento de multas e advogados. Entretanto, o relatório não relaciona formalmente as transações à campanha.
Ainda entre os valores recebidos, constam R$ 8,7 milhões provenientes de resgates de CDB/RDB, R$ 1,3 milhão de operações de câmbio, R$ 373,3 mil de proventos do cargo de ex-presidente, R$ 304 mil de transferências, R$ 166 mil de resgates de aplicações e R$ 99,6 mil de previdência privada.
Do lado das despesas, os relatórios mostram que Bolsonaro aplicou R$ 18,3 milhões em CDB/RDB, realizou quatro transferências via DOC/TED que somaram R$ 7,5 milhões e pagou R$ 1,5 milhão em títulos, como boletos. Além disso, foram registrados R$ 1,1 milhão em 266 operações via Pix, R$ 749 mil em transferências para previdência privada, R$ 198 mil em 97 saques e R$ 52 mil no pagamento de tributos. O ex-presidente também gastou R$ 13 mil com energia elétrica, R$ 13 mil com telefonia e outras despesas menores, além de compras diversas e pagamentos com cartão de crédito.
Entre os principais beneficiários de recursos pagos por Bolsonaro estão os advogados Paulo Cunha Bueno, que recebeu R$ 3,3 milhões, e o escritório DB Tesser, também com R$ 3,3 milhões. A lista inclui ainda uma empresa de engenharia (R$ 900 mil), um escritório de arquitetura (R$ 235 mil) e uma loja de veículos (R$ 130 mil).
Transferências para familiares
O relatório da PF destaca movimentações feitas pelo ex-presidente a familiares. Em 13 de maio de 2025, Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões a Eduardo Bolsonaro, fato confirmado pelo próprio deputado em depoimento. Contudo, a análise também identificou transferências de R$ 30 mil em março e R$ 40 mil em abril, quando Eduardo já estava nos Estados Unidos, ele chegou ao país em 27 de fevereiro.
Outro ponto ressaltado é a transferência de R$ 2 milhões para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em 4 de junho de 2025, apenas um dia antes de Bolsonaro prestar depoimento. Para a PF, essa operação teve o objetivo de evitar bloqueio judicial dos recursos. Além disso, às investigações apontam repasses de Eduardo para sua esposa, Heloísa Bolsonaro, que segundo a PF, foram feitos “como forma de escamotear” os valores antes encaminhados a ele pelo pai.
Outro elemento que chamou a atenção da Polícia Federal foi o uso frequente de dinheiro em espécie. Entre janeiro e julho de 2025, Bolsonaro realizou 40 operações de saque em caixas eletrônicos e em guichês de agências bancárias, somando R$ 130,8 mil. A PF ressalta que, embora despesas de pequeno porte sejam comuns, o volume de transações em espécie levanta suspeitas, já que dificultam a rastreabilidade dos recursos e podem indicar a intenção de financiar ações ilícitas.
A defesa de Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre os apontamentos da Polícia Federal. Em nota divulgada na quinta-feira, 21, os advogados afirmaram apenas que receberam “com surpresa” a notícia do indiciamento e reforçaram que “jamais houve o descumprimento de qualquer medida cautelar previamente imposta” pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Eduardo Bolsonaro, por sua vez, reagiu na noite de quarta-feira, 20, classificando como “crime absolutamente delirante” as conclusões da PF que motivaram seu indiciamento.
O documento que embasou o indiciamento também menciona que tanto Jair Bolsonaro quanto Eduardo recorreram a “diversos artifícios para dissimular a origem e o destino de recursos financeiros, com o intuito de financiamento e suporte das atividades de natureza ilícita do parlamentar licenciado no exterior”.
A investigação ainda aponta que, apesar de ter o passaporte retido e estar proibido de deixar o país, Bolsonaro movimentou R$ 105.905,54 em operações de câmbio durante o período analisado. Esse detalhe reforçou as suspeitas sobre a tentativa de dissimulação financeira.
O relatório da PF integra o inquérito que apura suspeitas de obstrução do julgamento da chamada trama golpista, processo que levou ao indiciamento de Bolsonaro e de Eduardo. A análise abrangeu 50 comunicações de operações financeiras envolvendo pessoas ligadas às investigações da trama. Destas, quatro tratavam especificamente de Jair Bolsonaro e quatro de Eduardo.
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