O tempo é inimigo da paciência
Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? — Cícero, senador romano
A Suíça é frequentemente vista como um exemplo singular de democracia. Sua população reduzida, o alto nível educacional e uma cultura capitalista consolidada permitem a prática de um sistema de voto direto. Cada questão relevante é submetida à decisão popular nos cantões, sem o exibicionismo característico das democracias representativas.
Os Estados Unidos, pela dimensão continental e diversidade regional, optaram por uma democracia representativa em modelo federativo. Os Estados mantêm ampla autonomia, enquanto o governo central exerce funções mínimas, conforme idealizado pelos “pais fundadores” para viabilizar a união nacional.
O Brasil, também vasto e culturalmente diverso, inspirou-se nesse modelo federativo americano. Porém, na prática, tornou-se um sistema híbrido: formalmente uma federação, mas de fato um Estado centralizado em Brasília. Essa centralização, uma deturpação do modelo, resulta em duplicação de estruturas — ministérios que coexistem com secretarias estaduais equivalentes —, com perda de eficácia e aumento de custos.
Essa concentração de poder ignora a riqueza cultural do país e alimenta tensões regionais que fragilizam a unidade nacional. Para conciliar diferenças e permitir que cada estado colha os frutos de seu próprio esforço — ou enfrente as consequências de suas escolhas — é essencial reforçar o espírito federativo.
O princípio da subsidiariedade, que determina que as decisões sejam tomadas o mais próximo possível da realidade local, assegura maior racionalidade e respeita as vocações regionais. O Brasil é grande demais para ser administrado de Brasília e diverso demais para a padronização rígida de leis e costumes.
Infelizmente, a centralização criou uma nomenclatura política que dificilmente abrirá mão de privilégios. Diferente da Suíça, onde líderes atuam quase no anonimato, em Brasília a política é marcada pela exposição e pela disputa pelo comando. E, ao contrário dos Estados Unidos, os estados brasileiros não possuem poder real para moldar-se às suas próprias realidades.
O país, cuja renda per capita está estagnada há décadas, sinaliza a necessidade de reformas estruturais. É preciso escolher: ou adotamos de fato o federalismo, com governo central mínimo e fortalecimento da autonomia estadual, ou continuaremos presos a um modelo que mina a produtividade e ameaça a coesão nacional.
Até quando os que poupam, investem e produzem aceitarão a atual representatividade distorcida, em que o voto de um eleitor de certos estados vale mais do que o de outros? Até quando, como mostra o gráfico que encabeça este texto, estarão dispostos a pagar a conta de um populismo centralizador, travestido de justiça social? Até quando os catalinas abusarão da nossa paciência?
O tempo é inimigo da paciência.
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