“Vereadores estão inconformados com o Sandro Mabel ‘advogado de Goiânia’ porque trabalham por interesses próprios”
Oito meses após assumir a Prefeitura de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil) avalia que a capital começa a “respirar” depois de um período de desorganização administrativa e endividamento. Herdando, segundo ele, “uma bomba complexa” com dívidas que somam R$ 5,3 bilhões e mais R$ 400 milhões em precatórios, o prefeito afirma que sua gestão tem se concentrado em cortar gastos, enfrentar vícios históricos da máquina pública e reorganizar serviços essenciais como saúde, trânsito e limpeza urbana.
Na entrevista ao Jornal Opção, Mabel detalha medidas adotadas nesse início de mandato, como a ampliação do atendimento pediátrico nos Cais, a implantação de mais de 100 direitas livres para melhorar a fluidez do trânsito, a reestruturação do aterro sanitário e a renegociação de contratos considerados superfaturados. O prefeito também comenta a polêmica em torno da Taxa de Limpeza Pública (TLP), a relação com a Câmara de Vereadores e os desafios para equilibrar as contas do município, mesmo após a melhora da Capacidade de Pagamento (Capag) junto ao Tesouro Nacional.
O prefeito de Goiânia fala ainda sobre projetos de revitalização de áreas comerciais tradicionais, como a Avenida Bernardo Sayão, a reorganização da Comurg e a profissionalização da gestão do Imas. Aborda também temas políticos, destacando a importância da parceria com o governo estadual e sua avaliação sobre as pré-candidaturas de Daniel Vilela ao governo de Goiás e de Ronaldo Caiado à Presidência da República em 2026.
Ton Paulo — Qual era exatamente a gravidade do déficit fiscal em Goiânia? O que já foi feito para recuperar as finanças da Prefeitura?
A bomba herdada na Prefeitura de Goiânia é uma bomba complexa. Muitas armadilhas e vícios nós já tiramos. A Prefeitura estava cheia de um pessoal que não queria mudança, porque estava bom demais pra muita gente — era mamata. Isso foi mudando.
O Jornal Opção mostra exatamente qual é o maior gargalo financeiro: os problemas com servidores. Devemos R$ 400 milhões em precatórios — o suficiente para construir 30 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de nível 8, que é o mais sofisticado. Esses precatórios existem por relaxo; os antigos gestores não cuidavam, deixavam as coisas acontecerem de qualquer jeito. As ações trabalhistas iam se acumulando, uma de funcionário aqui, outra ali, e ninguém resolvia.
Não se corrigiram os erros trabalhistas, por exemplo, na Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg). O sindicato, em conluio com a advocacia da própria Comurg, faturou uma bagatela de R$ 12 bilhões em honorários e fizeram rachadinha. Desembargadores me disseram que, na prática, os advogados da Comurg estavam do mesmo lado do advogado do reclamante. Ou seja, essa estrutura montada pela Prefeitura pegava o dinheiro do contribuinte e sumia com ele.
Essa falta de cuidado com o dinheiro público é o maior problema, porque corrói a capacidade de investimento. Nós fomos cortando aqui, tesourando ali, fazendo ajustes por toda parte. E isso está nos dando condição de fazer intervenções que exigem recursos, inteligência e disposição.
Ton Paulo — O que já foi possível consertar nas áreas críticas da cidade?
A melhoria no trânsito, por exemplo, já é uma realidade. A agilidade aumentou. Já implantamos mais de 100 direitas livres, e é possível fazer até 300 na cidade. Não fizemos mais por falta de dinheiro e de contrato. Não renovamos o contrato com a empresa que estava aí, que pintava faixas de qualquer jeito, com tinta de má qualidade e contrato superfaturado. Eu tive Deus e o mundo em cima de mim — esse dono da empresa fez todo tipo de ação para que eu renovasse o contrato. Mas não vamos renovar. É ruim pra cidade. Esse tempo acabou.
Essa mudança de postura nos permite dar um novo ritmo à cidade e encontrar recursos para ações importantes. Um exemplo é o serviço pediátrico de urgência em todos os Centros de Atenção Integrada à Saúde (Cais), que implantamos logo nos primeiros 15 dias de gestão. Fizemos uma pesquisa — ainda em conclusão —, mas os primeiros números mostram que 65% dos usuários do sistema de saúde com desconto consideram que houve grande melhora. Agora eles encontram médico, pediatra, remédio. Tem todos os remédios? Não, ainda não. Mas já temos cerca de 75%.
Ton Paulo — A Prefeitura está em uma luta para mostrar que o aterro sanitário tem condições de funcionar com gestão do Paço, mas há pressão pela terceirização do espaço. Como está o processo de reestruturação que o senhor havia prometido para o aterro?
A reestruturação está andando em uma velocidade que nunca se viu. Em oito meses, fizemos o que não foi feito nos últimos 30 anos. Instalamos os equipamentos, os aparelhos de medição da qualidade da água, de estabilidade. Também instalamos todo o sistema de tratamento do chorume primário, que não estava em boas condições. Demos uma arrumada boa.
Agora, passamos a fazer um tratamento aeróbico, que permitirá o descarte da água no próprio manancial — embora, por enquanto, ainda continuaremos enviando para a Saneago, já tratada. Estamos aguardando a chegada de um equipamento, nos próximos meses, que vai tratar a água a ponto de deixá-la cristalina. O chorume vai ser cristalino.
A reestruturação está andando em uma velocidade que nunca se viu
O aterro não é simplesmente: “Vamos colocar um aterro privado e acabou o problema”. Não é assim que funciona. O aterro é um organismo vivo. Ele continua gerando chorume, produzindo gás, continua em atividade mesmo sem receber mais resíduos. Isso exige muito cuidado.
Estão querendo que eu pague R$ 10 milhões a mais por mês para enviar o lixo a um aterro particular. Eu não vou fazer isso. Não posso. Estou lutando com todas as forças, e hoje já cumprimos mais de 66% das condicionantes necessárias para o licenciamento do aterro. Isso está apavorando algumas pessoas que achavam que a gente não conseguiria avançar. Eles querem que o aterro seja fechado antes que consigamos cumprir todas as condicionantes.
Há muito interesse econômico por trás disso. Hoje, o aterro custa R$ 2 milhões por mês para o município. Se terceirarmos, o custo vai para R$ 12 milhões — e ainda teremos que continuar cuidando do aterro antigo.
Ton Paulo — E qual é a vida útil do aterro hoje?
Da forma como estamos conduzindo, a vida útil do aterro é praticamente infinita. Estamos consumindo o lixo antigo conforme depositamos o novo. Vamos iniciar um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para aproveitar o gás metano — hoje estamos queimando esse recurso, precisamos transformá-lo em energia elétrica. Vamos instalar uma estação geradora de energia dentro do próprio aterro, o que vai nos permitir abrir mais espaço do que o volume de lixo que entra diariamente.
O aterro será “infinito” porque a metodologia será de lixo zero. A meta é implantar, nos próximos anos, uma política de aproveitamento de 100% dos resíduos que seriam descartados.
Ítalo Wolff — O procurador-geral do Município de Goiânia, Wandir Allan, afirmou que existe a possibilidade de interpelar juridicamente contra a revogação da Taxa de Limpeza Pública (TLP), ou “taxa do lixo”. Ele disse que isso dependeria apenas da vontade política do senhor. O senhor pretende recorrer ao Judiciário contra a revogação da taxa do lixo?
A taxa do lixo não é uma escolha minha — é uma imposição do Marco do Saneamento, que somos obrigados a implementar. O ex-prefeito Rogério Cruz (SD) conseguiu aprovar essa taxa, com a nossa ajuda, nos últimos dias do mandato, justamente para sair da Prefeitura tendo cumprido esse compromisso.
Ela é obrigatória, e o gestor pode ser responsabilizado se não a implementar. Eu não serei responsabilizado, porque estou lutando para colocá-la em prática. Se a Câmara revogar, todos os vereadores que votarem pela revogação podem ser processados por responsabilidade — ou, no caso, por falta de responsabilidade. Isso está claro. Eles podem até perder o mandato. Assim como o gestor que não aplicar a taxa também corre esse risco. Eu não vou perder o meu mandato.
O que estamos fazendo agora é aperfeiçoar a taxa, para que as pessoas que não têm condições de pagar sejam isentas, e quem produz mais lixo pague mais. Vamos garantir que quem ganha pouco possa, inclusive, receber de volta o que já pagou. Acabamos de ajustar o cadastro, que está em processo de refinamento. Hoje, todo mundo está pagando o mesmo valor, R$ 21 — o que não é justo. Em breve, vamos diferenciar conforme a produção de lixo, entre estabelecimentos comerciais e residenciais, entre outros critérios.
Patrícia Moraes — Com o apoio do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e do Ministério Público (MP), o senhor mostrou a situação de calamidade financeira da Prefeitura quando assumiu. Mesmo assim, tem sido pressionado pela Comissão Especial de Inquérito (CEI) do consórcio Limpa Gyn, criada pela Câmara de Vereadores. Por que essa dificuldade na relação com os vereadores?
Eu não tenho problema de relação com os vereadores. Tenho problema com alguns vereadores — “bezerrões” que “mamavam” na gestão anterior. Foi isso que quebrou a cidade. Não foi culpa só do prefeito anterior; o problema é que ele [Rogério Cruz] foi abrindo espaço para todos os vereadores, e eles fizeram uma festa na Prefeitura. Só que a conta ficou para alguém pagar — ficou pra mim. Agora temos R$ 5,3 bilhões em dívidas e mais R$ 400 milhões em precatórios.
Tudo isso é resultado de falta de gestão, de ausência de um corpo jurídico forte para defender as ações da Prefeitura como deveriam ser defendidas. Esses vereadores estão inconformados com o Sandro Mabel, advogado de Goiânia.
Patrícia Moraes — Então, alguns vereadores trabalharam contra Goiânia?
Eu não diria que trabalham contra Goiânia, mas trabalham por interesses próprios. E o reflexo disso acaba prejudicando a cidade, mesmo que não haja uma intenção direta de prejudicar. O problema é que os interesses de alguns são diferentes do que Goiânia precisa, entende? O que estamos fazendo agora é conscientizar esse pessoal.
Eles vão entender que política é entregar obra, é fazer a máquina pública render, é garantir vagas em creches — como nós já garantimos para 10 mil crianças. Zeramos o déficit de vagas nas creches. Chamamos os pais, perguntamos “Onde o senhor mora? Onde o senhor trabalha?”, e mostramos com tecnologia um mapa com as creches localizadas no trajeto dos ônibus que eles pegam. Foi uma busca ativa. Criança não pode ficar fora da creche. Isso custa muito dinheiro.
Fiz essas entregas junto com os vereadores de cada região. Dividir essas conquistas com os parlamentares é nosso papel, e o deles também. O vereador está aí para fazer leis, trazer os problemas para o Executivo e buscar recursos. Vamos criar um programa de obras comunitárias, desenvolvido com a comunidade e com os vereadores. Eu divido tudo com eles. Esse é o trabalho da política. É isso que eu quero fazer por Goiânia.
É preciso muito profissionalismo para administrar um plano de saúde — não dá para ser amador. Quem conduziu o Imas até hoje foi, em grande parte, bem-intencionado mas amador.
Ton Paulo — A Comurg passou por reformulação, cortes e enxugamento. Outro órgão que pode precisar desse processo é o Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores (Imas), que recentemente teve troca no comando e recebeu determinação do senhor para um diagnóstico. O que foi detectado até agora? O que pode ser feito no Imas?
Os planos de saúde, em geral, vivem sempre apertados financeiramente. Até os privados trabalham no limite. É preciso muito profissionalismo para administrar um plano de saúde — não dá para ser amador. Quem conduziu o Imas até hoje foi, em grande parte, amador. O prefeito é amador nessa área, os presidentes do Imas nunca foram profissionais em gestão de planos. Muitos foram bem-intencionados, mas faltou experiência técnica. Precisamos profissionalizar o Imas.
É isso que estamos fazendo: profissionalizar a gestão e os processos de contratação. Houve situações em que o cliente chegava ao hospital para uma emergência e saía de lá com 40 exames feitos, sem nenhum critério. Não havia limite. E vamos aprendendo com os planos privados que, ou profissionalizamos, ou não conseguimos manter.
Ton Paulo — Como seria essa profissionalização? Existe a possibilidade de contratar uma Organização Social (OS) para gerir o Imas?
Não. Trata-se apenas da gestão. O pessoal e as despesas continuam sendo nossos, os pagamentos são nossos. O que precisamos é treinar para que o Imas saiba contratar corretamente, ordenar os serviços sem prejuízos e autorizar procedimentos realmente necessários, com estimativa de custos. Não dá para autorizar tudo para todos — exames e internações sem qualquer limite.
Já contratamos um programa de auditoria que, diariamente, verifica quem está internado, se os serviços têm justificativa e se os custos estão adequados. Também renegociamos as tabelas dos hospitais e fornecedores. Antes, o Imas pagava até 40% a mais do que o Ipasgo e a Unimed. Isso era pura falta de gestão. Agora estamos trazendo profissionais que atuam em grandes empresas de saúde para oferecer treinamento em contratação, controle de despesas e cálculos de custos e procedimentos. Nosso objetivo é, com o mesmo recurso, atender muito melhor os associados.
Fabrício Vera — O senhor definiu nesta semana a criação do cargo de vice-liderança na Câmara. Como está sendo o diálogo com o novo líder, Wellington Bessa (DC)? Como vai funcionar o vice-líder? Quais vereadores o senhor vai apontar para essa função?
O Bessa é uma pessoa de quem a maioria gosta muito — eu também. Durante a campanha, ele foi meu professor de educação pública, então tivemos uma convivência intensa. É uma pessoa inteligente, de fácil trato, que busca harmonizar relações e é respeitada na Câmara.
Sobre o cargo de vice-líder, eu disse ao Bessa que deveríamos ter, como na Câmara Federal, a figura dos vice-líderes. Esse cargo não existe na Câmara de Goiânia, mas, enquanto não é criado, os vice-líderes serão informais, para ajudar na condução. Hoje há uma CEI em andamento. O líder não consegue estar, ao mesmo tempo, na CEI, no Conselho de Justiça e na CCJ, porque tudo acontece simultaneamente. Então precisamos de três ou quatro vice-líderes para dar suporte. Essa escolha eu deixei a cargo do Bessa, porque o time é dele.
Ton Paulo — E por que o senhor decidiu fazer essa troca na liderança?
Por infidelidade do líder anterior, Igor Franco (MDB). Como é que um líder do governo pode assinar a criação de uma CEI, pedir para os outros assinarem também, sem falar com o prefeito? Como pode montar grupo e trabalhar contra o governo que deveria defender?
Já havia pedido que ele renunciasse. Três ou quatro semanas antes, falei: “Igor Franco, pede para sair, para eu não ter que tirar você. Pede para sair, porque não tem jeito de você ficar”. Mas ele se recusou, dizendo que trabalhava pelo governo. E eu dizia: “Você está indo contra a visão do governo. Você não é obrigado a concordar comigo, nem eu quero que concorde, mas pede para sair”. Ele resistiu. Esperei passar o momento mais tenso da abertura da CEI, quando a confusão estava maior. Assim que se definiu que a CEI seria instalada, tiramos o Igor.
Patrícia Moraes — O que de fato aconteceu para o líder do prefeito se voltar contra o governo?
Muitos não se conformam com a forma como estamos administrando. Antes, havia vereadores que controlavam R$ 200 mil, R$ 300 mil, até R$ 500 mil em cargos na Prefeitura. Eles mandavam em secretarias inteiras. Isso acabou. Não tem mais como existir, porque foi justamente isso que deixou R$ 5,3 bilhões de dívida para eu pagar. Não foi culpa apenas do prefeito Rogério, mas de todos que estavam ao redor dele e que, em vez de ajudar na gestão, contribuíram para destruí-la ao priorizar interesses próprios. Isso acabou. A cidade não aguenta mais.
Quando a gestão muda de fato, a cidade respira. A coleta de lixo é um exemplo: melhorou. Fizemos uma pesquisa recentemente: 62% da população entende que a coleta de lixo melhorou, e 59% percebe melhoria na limpeza pública. Por quê? Porque acompanho o trabalho da Limpa Gyn diariamente, de manhã, de tarde e de noite. Estou nas ruas, ligo para a empresa, cobro resultados.
Fabrício Vera — Como classifica os serviços da Limpa Gyn? Há possibilidade de outra empresa assumir, ou de a Comurg passar a fazer a totalidade dos serviços?
Bom, a Comurg vai abarcar todo o serviço de limpeza urbana agora no novo contrato que ela vai fazer. Ela vai ficar com todo o serviço. O contrato da Limpa Gyn tem mais alguns anos para correr. Eles vem em um processo de melhora. Eu te diria que hoje classificaria o trabalho deles de regular para bom. Quando eu entrei estava péssima, passou para ruim, e agora é de regular para bom.
Durante a campanha, o pessoal do consórcio me procurou dizendo: “Aqui a gente toca conforme a música”. Eu respondi: “O que eu quero é uma cidade limpa, vocês precisam colocar mais 20 caminhões de limpeza”.
Estive na Itália, onde os caminhões de lixo têm uma mangueira que passa por cima dos carros estacionados e empurra com ar a sujeira para debaixo do caminhão que está recolhendo. Mostrei isso para eles, e me disseram: “Nós temos essa mangueira também”. Então por que não usavam? Montaram o programa e começaram a utilizar. Essa limpeza das ruas vai ficar muito mais organizada.
Também pedimos que colocassem contêineres em locais como mercados centrais e feiras, para evitar acúmulo de lixo, principalmente aos domingos. No Jardim Canaã, por exemplo, instalaram 100 contêineres, e a situação melhorou bastante. Lá, a população jogava até peças automotivas nas caçambas, e os caminhões recolhiam. Antes, tudo isso ficava abandonado nas calçadas.
O consórcio tem acompanhado esse processo de organização. Por isso digo: não quero mexer no que está funcionando, mas sim aprimorar. Conversei com os vereadores: “Vocês querem a cidade limpa? Então vou pedir que a Limpa Gyn contrate um profissional de Relações Institucionais (RI) para atender às denúncias de vocês sobre lixo. O consórcio terá de três a quatro dias úteis para resolver cada denúncia”. Serão 37 vereadores atuando nisso. Hoje, quem faz esse acompanhamento sou eu e a vice-prefeita, Cláudia Lira. Eles aceitaram.
Sobre a CEI, não é possível auditar o lixo recolhido no ano passado, porque naquela época não existiam as câmeras que mandei instalar. Hoje temos tecnologia: é possível verificar por onde o caminhão passou, se fez ou não a coleta, e até os horários. Isso muda a gestão e dá mais eficiência.
O que não faz sentido é discutir o contrato firmado no tempo do Rogério Cruz. É o mesmo contrato que está em vigor hoje, público e acessível. O que fiz foi assumir a responsabilidade e corrigir agora o que estiver errado, pensando no presente e no futuro — não em discutir o passado.
Ítalo Wolff — Nesta terça, servidores ligados ao ex-líder Igor Franco foram exonerados, a maioria deles na Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Indústria, Comércio, Agricultura e Serviços (Sedicas). Já há um novo nome para chefiar a Sedicas, que estava sob comando de Diogo Franco, irmão de Igor Franco?
Ainda não. Estamos discutindo o assunto com o setor empresarial e com o Partido Liberal. O Diogo Franco não foi uma escolha minha — foi uma indicação do Fórum Empresarial, respaldada politicamente por vereadores. Foi uma surpresa para mim. Os cargos são técnicos, e ele foi apresentado como alguém com experiência no comércio.
Não penso em reforma administrativa, mas sim em mudanças contínuas nas pastas que não estiverem funcionando. Se uma secretaria não anda, pode mudar. No caso do Diogo, eu já havia dito a ele: “Sua pasta não anda. Você não apresenta nada”. Pedi à Federação das Indústrias e à Federação do Comércio um plano para a cidade, mas a secretaria não conseguiu implementar.
A Sedicas é especialmente importante para mim porque é a minha área. Quero criar vários pequenos polos industriais em Goiânia, desenvolver arranjos produtivos. Mas certas coisas que pedi não saíram do papel. Então, independentemente de qualquer circunstância, esse secretário seria demitido.
Agora tracei um perfil mais rigoroso para que o Fórum Empresarial indique um nome. Quero alguém mais especializado, porque essa área é muito importante para a cidade. Goiânia ficou anos sem atrair indústrias. Temos grandes bairros em que a população precisa se deslocar longas distâncias para trabalhar, como nas regiões Noroeste e Sudoeste. Temos que levar o emprego para esses locais.
Não é preciso trazer todo mundo para o centro. Nas cidades modernas, o desenvolvimento se organiza em núcleos menores, onde a pessoa encontra serviços, escolas, farmácia e também o emprego. Muitos prédios hoje já seguem essa lógica, sendo metade residenciais e metade comerciais. Essa concepção moderna é o que precisamos implementar: levar o trabalho para perto das pessoas, para que possam ir a pé ou de bicicleta.
Ítalo Wolff — Como foi seu diálogo com o consórcio Limpa Gyn? O que pensa da CEI?
Durante a campanha, o pessoal do consórcio me procurou dizendo: “Aqui a gente toca conforme a música”. Eu respondi: “O que eu quero é uma cidade limpa, vocês precisam colocar mais 20 caminhões de limpeza”.
Estive na Itália, onde os caminhões de lixo têm uma mangueira que passa por cima dos carros estacionados e empurra com ar a sujeira para debaixo do caminhão que está recolhendo. Mostrei isso para eles, e me disseram: “Nós temos essa mangueira também”. Então por que não usavam? Montaram o programa e começaram a utilizar. Essa limpeza das ruas vai ficar muito mais organizada.
Também pedimos que colocassem contêineres em locais como mercados centrais e feiras, para evitar acúmulo de lixo, principalmente aos domingos. No Jardim Canaã, por exemplo, instalaram 100 contêineres, e a situação melhorou bastante. Lá, a população jogava até peças automotivas nas caçambas, e os caminhões recolhiam. Antes, tudo isso ficava abandonado nas calçadas.
O consórcio tem acompanhado esse processo de organização. Por isso digo: não quero mexer no que está funcionando, mas sim aprimorar. Conversei com os vereadores: “Vocês querem a cidade limpa? Então vou pedir que a Limpa Gyn contrate um profissional de Relações Institucionais (RI) para atender às denúncias de vocês sobre lixo. O consórcio terá de três a quatro dias úteis para resolver cada denúncia”. Serão 37 vereadores atuando nisso. Hoje, quem faz esse acompanhamento sou eu e a vice-prefeita, Cláudia Lira. Eles aceitaram.
Sobre a CEI, não é possível auditar o lixo recolhido no ano passado, porque naquela época não existiam as câmeras que mandei instalar. Hoje temos tecnologia: é possível verificar por onde o caminhão passou, se fez ou não a coleta, e até os horários. Isso muda a gestão e dá mais eficiência.
O que não faz sentido é discutir o contrato firmado no tempo do Rogério Cruz. É o mesmo contrato que está em vigor hoje, público e acessível. O que fiz foi assumir a responsabilidade e corrigir agora o que estiver errado, pensando no presente e no futuro — não em discutir o passado.
Ítalo Wolff — Nesta terça, servidores ligados ao ex-líder Igor Franco foram exonerados, a maioria deles na Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Indústria, Comércio, Agricultura e Serviços (Sedicas). Já há um novo nome para chefiar a Sedicas, que estava sob comando de Diogo Franco, irmão de Igor Franco?
Ainda não. Estamos discutindo o assunto com o setor empresarial e com o Partido Liberal. O Diogo Franco não foi uma escolha minha — foi uma indicação do Fórum Empresarial, respaldada politicamente por vereadores. Foi uma surpresa para mim. Os cargos são técnicos, e ele foi apresentado como alguém com experiência no comércio.
Não penso em reforma administrativa, mas sim em mudanças contínuas nas pastas que não estiverem funcionando. Se uma secretaria não anda, pode mudar. No caso do Diogo, eu já havia dito a ele: “Sua pasta não anda. Você não apresenta nada”. Pedi à Federação das Indústrias e à Federação do Comércio um plano para a cidade, mas a secretaria não conseguiu implementar.
A Sedicas é especialmente importante para mim porque é a minha área. Quero criar vários pequenos polos industriais em Goiânia, desenvolver arranjos produtivos. Mas certas coisas que pedi não saíram do papel. Então, independentemente de qualquer circunstância, esse secretário seria demitido.
Agora tracei um perfil mais rigoroso para que o Fórum Empresarial indique um nome. Quero alguém mais especializado, porque essa área é muito importante para a cidade. Goiânia ficou anos sem atrair indústrias. Temos grandes bairros em que a população precisa se deslocar longas distâncias para trabalhar, como nas regiões Noroeste e Sudoeste. Temos que levar o emprego para esses locais.
Não é preciso trazer todo mundo para o centro. Nas cidades modernas, o desenvolvimento se organiza em núcleos menores, onde a pessoa encontra serviços, escolas, farmácia e também o emprego. Muitos prédios hoje já seguem essa lógica, sendo metade residenciais e metade comerciais. Essa concepção moderna é o que precisamos implementar: levar o trabalho para perto das pessoas, para que possam ir a pé ou de bicicleta.
Cilas Gontijo — Goiânia tem a Avenida Bernardo Sayão, que já foi um polo ativo da confecção e do comércio têxtil. Hoje, a avenida está praticamente sem atividade. Existe algum projeto para revitalizar a Bernardo Sayão?
Temos sim. Revitalizamos a área da Rua 44, que estava morrendo, com o shopping com mais de 30% de desocupação. Por quê? Porque a bagunça dos camelôs afastava os clientes. Ninguém acreditava que seria possível resolver, mas nós entramos. Não tiramos os camelôs das ruas, nós os assentamos no lugar certo: construímos barracas na Feira Hippie, de graça, compramos pontos para eles ou oferecemos lojas em galerias. Eles puderam escolher. Agora, na rua não ficam. Quem gosta de bagunça não gosta de Sandro Mabel; comigo a coisa é arrumada.
Com a Bernardo Sayão será o mesmo. Ela precisa evoluir. A Sedicas pode ajudar a organizar a rua com treinamento, modernização e nova forma de comércio. É como o bairro de Campinas, que também precisa de revitalização. Fizemos intervenções na Rua 24 de Outubro, e os comerciantes dizem que as vendas melhoraram. Vamos colocar estacionamento rotativo para facilitar o acesso dos clientes. Assim, a região se revitaliza.
O centro da cidade já começou a respirar. A Rua 8, por exemplo, estava abandonada. Hoje virou rua de lazer, iluminada, policiada, fechada para carros. Vários restaurantes abriram ali. Essas são as ações que estamos fazendo para revitalizar setores de Goiânia.
Ton Paulo — Como está a situação fiscal de Goiânia? Há expectativa de melhorar a Capacidade de Pagamento (CAPAG), hoje nota C?
Na realidade, já estamos na nota B, embora isso ainda não tenha sido publicado. Isso significa que já podemos contratar qualquer tipo de financiamento. Internamente, no Tesouro Nacional, já temos autorização para operações de crédito com aval da União.
Com isso, pretendemos contrair empréstimos. Um dos grandes projetos é a obra no Córrego Cascavel, orçada em quase R$ 600 milhões. Estamos iniciando os estudos e analisando possibilidades tanto no BNDES quanto no BRICS.
Patrícia Moraes — Mesmo com essa melhoria, a situação de calamidade financeira ainda se justifica?
Sim. A nota não significa que a situação financeira esteja resolvida, mas que estamos no caminho de resolver. O problema é que, na gestão passada, gastaram tanto que deixaram de investir. Nós estamos investindo. Mas, no final das contas, a dívida é de R$ 5,3 bilhões. Não temos recursos para pagar isso.
Para comparação: Iris Rezende foi o prefeito que fez o maior superávit, R$ 1,5 bilhão em seu mandato. Já Rogério Cruz fez R$ 280 milhões de superávit em quatro anos. Para quitar R$ 5 bilhões, seriam necessários quatro mandatos inteiros apenas pagando dívidas acumuladas desde 1992.
Para superar a calamidade, estamos em grandes negociações com a Receita Federal. A expectativa é reduzir em até 90% as dívidas do município. É uma negociação dura, mas estou confiante. Como contador, conheço bem esse processo e vamos aproveitar todas as oportunidades para reduzir o endividamento.
É importante destacar: não temos impostos atrasados, não temos FGTS atrasado de ninguém. Da nossa gestão para cá, pagamos tudo. O problema é a herança do passado — essa é a cultura que estamos mudando.
Ítalo Wolff — Estamos nos aproximando de 2026, ano eleitoral. Qual a sua avaliação sobre as pré-candidaturas de Daniel Vilela (MDB) ao governo do Estado e de Ronaldo Caiado (UB) à Presidência da República?
O Daniel Vilela, assumindo um governo bem avaliado como o de Ronaldo Caiado, tem grande chance de se reeleger e continuar como governador. Vou ajudá-lo muito nesse objetivo. A parceria entre governo estadual e municipal é fundamental. Hoje trabalhamos juntos em tudo: as ambulâncias atuam de forma integrada, temos um centro de controle único; nossas polícias trabalham juntas; temos um centro de controle das viaturas.
Na saúde, quando surge um problema, todos se unem para resolver. Antes, Goiânia tinha sua regulação, Aparecida outra e o Estado mais uma. Agora, caminhamos de forma cada vez mais sincronizada. Na assistência social também: estamos retirando moradores de rua e a primeira-dama, Gracinha Caiado, oferece o Aluguel Social. Os programas são integrados, os cadastros se comunicam.
Na segurança, a parceria também é estreita. A Guarda Municipal atua, mas quando necessário a PM está pronta a apoiar. Reunimos os comandantes praticamente toda semana, o que garante mais eficiência nas ações.
Seria muito importante para Goiânia manter essa parceria entre governador e prefeito. Acho que Daniel tem grande chance, está preparado, vem com o histórico do governo Caiado e provavelmente contará com boa parte da equipe dele. É uma eleição fácil? Não. Marconi Perillo (PSDB) vem crescendo nas pesquisas, apesar da alta rejeição, e Wilder Morais (PL) também é um nome forte. Mas acredito que a máquina política do União Brasil, MDB e partidos da base tem grandes chances de permanecer no governo.
Ronaldo Caiado, por sua vez, enfrenta um desafio nacional. Seu discurso tem força e consistência. Onde ele vai, há respaldo. Acredito que tem chance, porque apresenta uma gestão bem avaliada, principalmente na educação e na segurança pública. Se conseguir ampliar sua presença fora de Goiás — e eu tenho procurado ajudá-lo nisso —, será bom para o Brasil.
“Ronaldo Caiado tem força, consistência e respaldo. Se ampliar sua presença nacionalmente, será bom para o Brasil”
Patrícia Moraes — O partido vai apoiar a candidatura dele?
Existe um acordo — que eu mesmo ajudei a construir: se ele alcançar 10% de intenção de votos nas pesquisas, o partido e a federação vão apoiá-lo. Esse acordo foi fundamental para viabilizar a federação entre União Brasil e PP.
Patrícia Moraes — O senhor aprovou a federação entre União Brasil e PP?
Sim, tem que sair. O governo tem filosofias muito diferentes das da federação. Acho que Ronaldo Caiado tem razão nisso também.
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