Com Bolsonaro atrás das grades, qual será o destino do PL?
Pela segunda vez, Jair Messias Bolsonaro entrou para a história do Brasil. A primeira foi em 2022, quando o capitão reformado do Exército tornou-se o primeiro presidente da República a pleitear a reeleição e fracassar. Foi derrotado pelo atual presidente Lula da Silva, seu nêmesis político, que conseguiu chegar ao terceiro mandato no Palácio do Planalto. Foi, inclusive, uma das eleições mais polarizadas desde a redemocratização.
O segundo marco histórico envolvendo Bolsonaro ocorreu neste ano, em 11 de setembro. Por quatro votos a um, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou o ex-presidente a 27 anos e três meses de prisão por liderar uma trama golpista para se manter no poder. Com isso, Jair também se tornou o primeiro presidente da República condenado por tentar dar um golpe de Estado.
Ele cumprirá pena pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; organização criminosa armada; dano qualificado pela violência e grave ameaça; e deterioração do patrimônio tombado.
O curioso e irônico é o quão profético, e ao mesmo tempo equivocado, Bolsonaro foi anos antes da condenação. Em 2021, quando possivelmente o plano golpista já dava seus primeiros passos, declarou em Goiânia: “Eu tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, estar morto ou a vitória. Pode ter certeza que a primeira alternativa não existe”. Acertou ao levantar a possibilidade de prisão (hoje cumpre domiciliar e tem grandes chances de ir para o regime fechado), mas errou ao considerar que era a única alternativa impossível, sendo que foi justamente a que se concretizou.
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O fato é que o destino do ex-presidente se definiu justamente quando seu partido, o PL, e seu projeto político, de eleger um sucessor, mais precisavam dele. Bolsonaro, já inelegível e em prisão domiciliar, em breve deverá ir para trás das grades, perdendo qualquer possibilidade de liderar ou mesmo participar das articulações para 2026.
Vale destacar: para os mais atentos, a disputa presidencial já começou em 2024. Mesmo ciente de sua inelegibilidade e da quase inexistente chance de reversão, Bolsonaro se recusou a anunciar quem disputaria o Planalto com sua “bênção”. Mais que isso, parece ter dado aval implícito para que sua prole atacasse nomes da direita – sobretudo governadores com intenções eleitorais – que ousassem se movimentar fora do eixo bolsonarista.
Leia-se: mesmo se anistiado, pauta que virou prioridade da direita, Bolsonaro não poderá disputar. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o senador e presidente do PP, Ciro Nogueira, enfatizou o que já circulava nos bastidores: a “anistia ampla, geral e irrestrita” não inclui a inelegibilidade do ex-presidente.
A bem da verdade, sem Bolsonaro, figura central e de maior poder do PL, o partido pode seguir dois caminhos: a autofagia, com lideranças e amigos do ex-presidente se digladiando para se colocar como o “novo Bolsonaro” dentro da sigla; ou o reordenamento, acatando escolhas de Bolsonaro de dentro da cadeia e, ao mesmo tempo, se articulando de forma menos radical para recuperar alianças e caminhar com segurança – ainda que enfraquecido – até 2026.
É irônico pensar que Bolsonaro e o PL poderão, em breve, viver situação semelhante à de Lula e o PT, quando o petista esteve preso. Na época, Lula era constantemente consultado por lideranças sobre movimentos decisivos. O mesmo pode ocorrer com Bolsonaro. Mas, com a corrente bolsonarista mais descolada e independente do criador, a fidelidade pode ser bem menos intensa.
Há também os recortes regionais. Em Goiás, por exemplo, o caminho do PL é incerto, mas, sem Bolsonaro, lideranças locais terão maior poder. A tendência é que o senador Wilder Morais, presidente estadual do partido, e o deputado federal Gustavo Gayer, dirigente municipal em Goiânia, articulem com mais desenvoltura – sempre em nome de Bolsonaro.
Sem ele, o risco de implosão do PL será máximo. Importa dizer: assim como o PT, o PL é um partido de grandes egos. Se Bolsonaro terá força e habilidade para controlar a situação de dentro do cárcere, aí já são outros quinhentos.
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