Estudo mostra que 913 jornalistas foram perseguidos e exilados entre 2018 e 2024
O repórter César López Linares, da “LatAm Journalism Review”, publicou na terça-feira, 9, a importante reportagem “Estima-se que mais de 900 jornalistas da América Latina estejam reconstruindo suas vidas e carreiras no exílio” (o texto completo pode ser conferido no link: https://tinyurl.com/yc3art26).
Baseado no relatório “Vozes Deslocadas — Radiografia do exílio jornalístico latino-americano 2018-2024”, López Linares informa que, “de 2018 a 2024, cerca de 913 jornalistas de 15 países latino-americanos foram forçados a se mudar para outros países para proteger suas vidas, sua segurança e a de suas famílias”.
Os autores do relatório sublinham que o “número representa uma ferida aberta nas democracias latino-americanas”.
Porém, o número básico apresentado — e o relatório é preciso — indica que o problema tem a ver não com as democracias, e sim com as ditaduras latino-americanas. Portanto, não há “uma ferida aberta nas democracias”. (A rigor, é a única discordância apontada pelo Jornal Opção. Mas é uma ressalva relevante.)
Assinala a reportagem: “O relatório descobriu que Venezuela, Nicarágua e Cuba são os países dos quais mais jornalistas fogem, representando 92% dos deslocamentos na região”.
Então, as democracias latino-americanas “não” estão perseguindo — ou perseguem muito menos — jornalistas. Quem persegue profissionais da mídia são ditaduras — casos de Cuba, Venezuela e Nicarágua — e isto precisa ser claramente fixado. As ditaduras cubana, venezuelana e nicaraguense são, por sinal, de esquerda.
Pesquisador da Universidade da Costa Rica e coordenador de pesquisa do relatório, Óscar Mario Jimenez relata: “O fato de 15 países terem expulsado jornalistas pelo simples fato de fazerem seu trabalho revela que as democracias na América Latina estão passando por um processo bastante significativo de erosão”.
Não há dúvida de que a pesquisa é relevante e séria. Mas, ao interpretá-la, Óscar Mario Jimenez não percebeu o que é essencial, e por isso é necessário insistir: não são as democracias que deveriam ser questionadas, ao menos de maneira tão enfática, e sim as ditaduras, as que mais perseguem e expurgam, direta ou indiretamente, jornalistas.
[O relatório foi elaborado pelo Programa de Liberdade de Expressão e Direito à Informação (Proledi) da Universidade da Costa Rica, pela organização Fundamedios e pela Cátedra Unesco em Comunicação e Participação Cidadã na Universidade Diego Portales do Chile, com o apoio da Unesco.]
Se há países que perseguem, às vezes de maneira brutal, há também nações que acolhem. “Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Estados Unidos, Espanha e México são os países que mais recebem jornalistas deslocados.”
O relatório sublinha que “as duas principais razões para o deslocamento internacional de jornalistas são a perseguição política e as ameaças do crime organizado ou de atores corruptos”.
De acordo com os autores da pesquisa, o número de jornalistas deslocados pode ser maior do que o verificado, 913. “Muitos jornalistas não reportam [sua saída] a nenhuma organização, e os Estados não mantêm um registro das pessoas que saem ou das pessoas que entram.”
López Linares afirma que, desde o fechamento da pesquisa, o quadro do deslocamento de jornalistas se agravou por uma série de razões. Por exemplo, “a eliminação nos Estados Unidos do ‘parole humanitário’ que o país concedia a venezuelanos, cubanos, nicaraguenses e haitianos, e a consolidação da guinada autoritária do presidente Nayib Bukele em El Salvador, cujas mudanças constitucionais aceleraram o sufocamento do jornalismo”.
Óscar Jiménez acrescenta: “El Salvador, que em dezembro de 2024 estava na categoria de país com saída moderada, subiu um patamar na categorização que fizemos, porque apenas nos últimos meses a Associação de Jornalistas de El Salvador (Apes) indicou que saíram aproximadamente 40 ou 50 comunicadores do país”.
Depois de Cuba, Venezuela e Nicarágua, os países que mais expulsam jornalistas são Guatemala, Equador, El Salvador, Haiti e México (onde o crime organizado é quase um Estado paralelo). Em seguida, estão Colômbia, Bolívia, Honduras, Peru, Chile, Paraguai e Argentina.
Não há registro de saídas forçadas de jornalistas em Belize, Costa Rica, Panamá, República Dominicana, Porto Rico, Uruguai e Brasil.
O post Estudo mostra que 913 jornalistas foram perseguidos e exilados entre 2018 e 2024 apareceu primeiro em Jornal Opção.