Luiz Antônio Araujo: 1913
As cenas iniciais de 1913 reproduzem trechos do filme A Vida dos Judeus na Palestina, de Noah Sokolovsky. Realizada antes da I Guerra Mundial, a produção foi dada como perdida e causou comoção ao ser redescoberta em 1998, na França. Mostra desembarque de imigrantes, colonos sorridentes, crianças de mãos dadas saindo de escolas. A certa altura, diante de um desses flagrantes festivos, uma produtora pergunta ao arquivista Yaakov Gross, responsável pela recuperação dos negativos:
– Quem está ali no topo da tela?
– O que você quer dizer, essas pessoas aqui? – pergunta Gross. – Eu não sei.
Lentamente, a câmera fecha em um grupo à margem da comemoração: homens, mulheres e crianças, a maioria com longas vestes brancas e negras, que observam à distância. “Na Palestina otomana de 1913, árabes e judeus viviam juntos em relativa harmonia. Como esse lugar, tão diverso e rico em cultura, tornou-se o palco da luta aguda e aparentemente inconciliável de hoje?”, indaga a narradora.
A partir dessa pergunta, o documentário recua até o século 19. Com base em registros históricos, dá voz a personagens há muito esquecidos, como o representante de Jerusalém no Parlamento Otomano, Ruhi al-Khalidi, o proeminente judeu otomano Albert Antebi, o chefe do Escritório Sionista na Palestina, Arthur Ruppin, e o líder árabe Khalil Sakakini. Aficionados de filmes de mocinho e bandido ficarão decepcionados com 1913.
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