Marielle: por que se fez agora em 5 meses o que não fizeram em 5 anos
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Quando olhamos para trás, encontramos momentos cruciais que impediram o avanço das investigações, relembra Tereza Cruvinel
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Segundo a delação de Élcio de Queiroz, enquanto ele dirigia em direção ao bairro de Rocha Miranda, aonde encontrariam “Orelha” para acertar a desmontagem e o sumiço completo do carro Cobalt prata usado na execução de Marielle Franco e Anderson Gomes, Ronnie Lessa ia jogando sobre a linha férrea, de tempo em tempo, as centenas de pedacinhos em que haviam cortado a placa verdadeira do carro. Jamais seriam achados, assim como a submetralhadora do crime, que Ronnie disse ter serrado em pedaços e jogado em área funda do mar da Barra. O crime perfeito, entretanto, não existe. Se não ficaram rastros, surgirá um delator.O que foi divulgado ontem, e a leitura é de dar engulhos, é apenas o anexo 2 da delação de Élcio. Outros anexos, mantidos em sigilo, dão às autoridades, a começar do ministro Dino, a convicção de que em breve saberemos quem foram os mandantes do crime. Mas saberemos também por que a Polícia Federal conseguiu agora, em cinco meses, o que não se conseguiu nos cinco anos em que as investigações ficaram a cargo da Polícia Civil estadual e do Ministério Público do Rio de Janeiro.Dino evita acusações, diz que provas e elementos da fase estadual foram aproveitadas, que muitos trabalharam direito mas haverá o momento de separar-se o joio do trigo. E certamente muito joio impediu que se chegasse ao esclarecimento completo do crime em cinco anos. Quando isso acontecer, muita lama vai jorrar.Quando olhamos para trás, encontramos momentos cruciais que impediram o avanço das investigações. Em setembro de 2017, vésperas do encerramento de seu mandato, a então Procuradora Geral da República Raquel Dodge pediu ao STJ a federalização do caso, afirmando estar havendo obstrução no âmbito estadual. Na peça, ela denuncia por obstrução o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, Domingos Brazão. Através de um policial federal (ou ex) lotado em seu gabinete, Gilberto Ribeiro, ele teria feito chegar à polícia uma testemunha falsa, o miliciano Ferreirinha. Este prestou depoimento e acusou um acerto Orlando Curicica pelo duplo assassinato. Por quase um ano a polícia seguiu essa pista falsa. Dodge denunciou estes quatro ao STJ porque este é o foro para membros dos tribunais de contas.Antes da decisão, o STJ determinou uma investigação da investigação, que foi conduzida pelo delegado federal Leandro Almada. Meses depois o tribunal recusou o pedido de Dodge e o caso seguiu no âmbito estadual. Naquela fase, nem a família queria a transferência do caso para a PF comandada pelo bolsonarismo.Almada ficou no ostracismo e no início do novo governo Lula foi indicado como Superintendente da PF no Rio, o que gerou muitas resistências, inclusive de políticos do estado. Até o governador teria tentado impedir a nomeação. Mas Lula, Dino e o diretor-geral da PF, Andrei Passos, bancaram a escolha. Foi sob o comando de Almada que as investigações agora avançaram, tendo como responsável pelo inquérito o delegado Guilhermo de Paula Catramby.Este foi um dos momentos em que as investigações poderiam ter mudado de rumo, mas não mudaram. Outro foi aquele em que o porteiro do condomínio disse que Élcio pediu para ir à casa 58, a de Bolsonaro, e diante da reação do ex-presidente e de seu ministro da Justiça, Sergio Moro, recuou e disse ter se equivocado.Então, saberemos não apenas quem mandou matar Marielle, pois é óbvio que havia mandantes acima de Edmilson Macalé, aquele que foi executado em 2021, e segundo o delator Élcio foi quem “arrumou o trabalho” para Ronnie Lessa. E saberemos também por que ficou tudo empacado durante cinco anos.Aliás, a paralisia do processo contribuiu para que Élcio fizesse a delação. Ele conta que, já preso, Ronnie recebia R$ 10 mil mensais de Maxwel, o Suel preso ontem: R$ 5 mil iam para o pagamento do advogado de ambos e a outra metade ficava para ele, Élcio, que não tinha como manter a família. Depois o dinheiro foi minguando até que foi totalmente cortado por Suel. Ronnie estava rico. Preso e abandonado, e tendo descoberto mentiras do parceiro, fez o acordo e rompeu o pacto de silêncio.No mais, é repugnante a leitura da delação. Depois do assassinato, os dois encontraram Suel num bar da Barra onde beberam até altas horas. Estavam de ressaca no dia seguinte quando foram levar o carro para o desmanche, enquanto os pedacinhos da placa eram disseminados na linha férrea.Nem por isso, impedirão que venha logo a resposta para a pergunta que nunca calou: quem mandou matar Marielle?