Países com fome eram os menos beneficiados pelo acordo de grãos, denuncia Rússia
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O governo russo suspendeu a iniciativa em razão do não cumprimento de demandas acordadas pelos signatários do pacto
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La Jornada, Diálogos do Sul - No que o Kremlin denomina de modo oficial como “golpes de vingança” pelo recente ataque contra a ponte de Kerch, que une a península da Criméia, anexada em 2014, com o resto da Rússia, o exército russo bombardeou na última quinta-feira (20) com mísseis de cruzeiro e drones, pela terceira madrugada consecutiva, Odessa e Mikolayiv, dois dos portos que a Ucrânia usava para exportar seus cereais.A defesa antiaérea ucraniana, de acordo com Kiev, pôde derrubar 19 dos 38 artefatos, que deixaram um morto e aproximadamente vinte feridos, causando danos e incêndios sobretudo em infraestruturas portuárias. O exército ucraniano respondeu mandando drones contra “instalações militares” na Criméia, que a Rússia assegura ter interceptado. As autoridades da península reportaram a morte de um adolescente.O ministério da Defesa russo sustenta que o ataque noturno foi dirigido contra “oficinas de fabricação de lanchas não tripuladas” e seus depósitos na cidade de Odessa e na localidade de Ilichovsk”, na mesma região.Recentemente, foi suspensa a chamada iniciativa alimentar do mar Negro, auspiciada pela Turquia e pela Organização das Nações Unidas (ONU), após a decisão russa de não prorrogar o acordo. O governo russo aponta que não foram cumpridas as demandas acordadas pelos signatários do pacto, o que deve inclusive à aplicação de sanções de Washington contra Moscou. A descontinuidade do pacto aumenta ameaça de fome que, nestes momentos e segundo dados da ONU, afeta já mais de 50 milhões de pessoas só na África.Além disso, estimam observadores, surge um novo cenário bélico que pode trazer consequências graves ao envolver possíveis terceiros países. Assim, ninguém se atreve a predizer o que poderia acontecer se um navio mercante, sob qualquer bandeira, que pretender chegar a um porto ucraniano, pelo mesmo corredor que antes gozava de garantias de segurança por parte da Rússia, for atacado ao ser considerado agora como “eventual portador de armamento para o exército ucraniano”, ou se afundar pelas minas que uns e outros colocaram nos acessos aos portos.Embora o Kremlin tenha comunicado que ordenou aos seus especialistas abandonar o Centro de Coordenação em Istambul, criado para organizar a revisão e a saída dos cargueiros para e desde portos ucranianos, analistas locais se inclinam a pensar que a retirada da Rússia não é definitiva e, com isso, só busca pressionar ao máximo a Turquia e a ONU, mediadores e artífices do pacto inicial, para que estes – por sua vez – advoguem ante os Estados Unidos e outros países sobre a necessidade de levantar os obstáculos que bloqueiam as demandas russas.A favor de sua hipótese sustentam que, por paradoxal que pareça, a decisão do Kremlin de sair do pacto afeta dois países que mais têm ajudado a solucionar as sanções ocidentais, Turquia e China, que ao mesmo tempo são os maiores compradores de grãos ucranianos (casualmente as 60 mil toneladas de cereais que se perderam durante o bombardeio russo estavam destinadas para a China).Como razão adicional para abandonar a iniciativa do mar Negro, a Rússia denuncia que a Ucrânia envia de maneira direta aos países mais necessitados só uma mínima parte de suas exportações de cereais, e Kiev responde que o esquema proposto pela ONU para aliviar a crise alimentar no mundo pressupõe que potências como a China comprem grãos não para consumo próprio, mas para doá-los ou vendê-los a preços reduzidos aos países que sofrem fome na Ásia e na África, consolidando desse modo sua influência nessas regiões.Na próxima semana, em 27 e 28 de julho, será celebrada em São Petersburgo a cúpula Rússia-África, na qual se espera que o presidente Vladimir Putin concretize o oferecimento que fez em março, no sentido de que, se não fosse estendido o pacto dos cereais, a Rússia ofereceria de forma gratuita grãos aos países que mais precisam.A seca deste ano deixou em uma situação crítica Somália, Etiópia, Eritréia e Djibuti, ao mesmo tempo que Quênia, Sudão do Sul ou Nigéria dependem completamente da importação de grãos.