Governo Lula barra pedido dos EUA para extraditar suposto espião russo
247 — Uma fonte graduada do governo brasileiro, sob condição de anonimato, revelou à coluna que o Ministério da Justiça indeferiu preliminarmente o pedido do governo de Joe Biden para extraditar o suposto espião russo Sergey Vladimirovich Cherkasov para os Estados Unidos, informou o Metrópoles. Cherkasov, que é apontado como integrante do GRU, braço da inteligência militar russa, foi detido pela Polícia Federal em São Paulo, no aeroporto de Guarulhos, em abril do ano anterior, por uso de documentos falsos, e encontra-se preso em uma ala especial da penitenciária federal de segurança máxima de Brasília. O suposto espião russo viveu no Brasil durante anos e assumiu uma identidade brasileira, que utilizou para viajar e até fazer um curso nos Estados Unidos, o que levantou suspeitas e resultou em investigações também no território americano. A prisão de Cherkasov ocorreu após autoridades holandesas desarticularem um plano para infiltrá-lo, usando sua identidade brasileira, na Corte Penal de Haia, na Holanda, onde correm processos contra o presidente russo, Vladimir Putin. Interceptado ao chegar na Holanda em um voo originado de Guarulhos, ele foi repatriado ao Brasil, onde foi detido pela PF, acionada pelas autoridades holandesas.O governo dos Estados Unidos solicitou a extradição do suposto espião Cherkasov em razão das suspeitas de que ele tenha operado em solo americano enquanto utilizava sua identidade brasileira falsa. No entanto, esse pedido foi bloqueado pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, que é responsável pelas tratativas com países estrangeiros em questões como extradição e colaboração em investigações criminais.A legislação estabelece que o DRCI realize uma análise preliminar para verificar se os pedidos de extradição atendem aos requisitos administrativos e legais antes de encaminhá-los ao Supremo Tribunal Federal para julgamento. Mesmo que a Corte decida favoravelmente, a decisão final sobre a extradição cabe exclusivamente ao presidente da República, que pode basear-se em critérios políticos para atender ou negar as solicitações. Neste caso, o processo de extradição do suposto espião Cherkasov foi interrompido ainda na primeira etapa, sendo rejeitado durante a análise pelo departamento subordinado ao ministro Flávio Dino, sob a justificativa de que não foram cumpridos os pressupostos necessários. Portanto, o caso não chegou a ser encaminhado ao Supremo Tribunal Federal.Além do pedido dos Estados Unidos, a Rússia também busca a extradição de Cherkasov, alegando que ele é um criminoso comum. Essa é uma estratégia comum utilizada pelos russos para repatriar seus espiões detidos no exterior. Contudo, as autoridades brasileiras já têm conhecimento de que essa alegação é falsa e, nos bastidores, se opõem à ideia de enviá-lo de volta para Moscou. O pedido de extradição feito pelo governo russo também está em trâmite no Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria do ministro Edson Fachin, há vários meses. A recusa do Ministério da Justiça em atender ao pedido do governo americano facilita a situação do presidente Lula, que, caso ambos os pedidos - o da Rússia e o dos Estados Unidos - avançassem, teria que tomar a decisão final, envolvendo o Brasil em um complicado impasse diplomático. A história, no entanto, ainda terá muitos desdobramentos, pois, teoricamente, o governo Biden poderá refazer a solicitação ao Brasil, preenchendo as lacunas que resultaram na negativa do governo Lula neste primeiro momento.