Cinema: Marielle vive nelas
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A chama de Marielle Franco foi mantida acesa pelas candidatas que aparecem em campanha no documentário “Sementes: Mulheres Pretas no Poder”.
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Quem mandou matar Marielle Franco? A pergunta continua sem resposta, mas as investigações se aproximam de um desfecho, agora que temos um governo de fato interessado em elucidar o crime em vez de acobertá-lo.De qualquer maneira, a reação das mulheres pretas rapidamente se fez sentir na política brasileira. Nas eleições de 2018, 4.398 delas se candidataram a cargos legislativos, ou seja, 93% a mais que nas eleições anteriores. As cineastas Ethel Oliveira (preta) e Julia Mariano (branca) acompanharam a campanha de seis candidatas a deputada federal e estadual do Rio de Janeiro. O resultado foi o documentário Sementes: Mulheres Pretas no Poder, disponível nos canais de streaming Filme-Filme, ClaroTV+ e Vivo Play.O filme foi lançado em 2020 como uma injeção de esperança em meio ao ataque do fascismo. Em 2018, Jaqueline Gomes (professora trans, PT), Mônica Francisco (ex-assessora de Marielle e pastora evangélica, PSOL), Renata Souza (jornalista, PSOL), Rose Cipriano (professora, PSOL), Tainá de Paula (arquiteta e urbanista, PCdoB) e Talíria Petrone (professora, PSOL) tomaram a bandeira de Marielle e partiram para a caça ao eleitor em todas as áreas do Rio, Baixada, Niterói e São Gonçalo. Desde o lançamento das candidaturas até a expectativa e as emoções da contagem de votos, as guerreiras são vistas no corpo a corpo da panfletagem, em marchas, reuniões, rodas de conversa, gravações de propaganda, retoques na aparência, cenas domésticas e em atritos com uma polícia protofascista.Este é mais um título para o acervo dos documentários brasileiros sobre campanha eleitoral, onde se encontram Entreatos, Vocação do Poder, Intervalo Clandestino e os mais distantes Maranhão 66 e Pinto Vem Aí. Mas não se trata de uma campanha qualquer. Aquelas seis mulheres, cada qual em seu partido e com suas particularidades, estavam unidas por uma garra comum – a de confrontar o domínio masculino, branco, homofóbico e direitista que quase sempre prevaleceu na política brasileira mas se agravou drasticamente após o golpe de 2016.A campanha “Ele Não” fez a liga mais forte e elevou as tensões à medida que as eleições se aproximavam e o espectro da extrema-direita se desenhava no horizonte. Passado o pleito, o filme segue com as três eleitas até as respectivas posses na Alerj e no Congresso. Num ano em que os piores instintos conquistaram cadeiras e postos de governo, as vitórias de Renata, Mônica e Talíria foram ganhos de resistência e dignidade. Era a hora de restaurar o nome de Marielle no centro do poder.O filme se avizinha bastante do estadunidense Virando a Mesa do Poder, que enfocou a campanha de quatro ativistas progressistas nas eleições de 2018. Lá como aqui, o atraso prevaleceu no geral, mas as mulheres eleitas foram sementes de um processo que poderá frutificar em breve.Juntas, a estreante no longa-metragem Ethel Oliveira e a experiente Julia Mariano demonstram senso de oportunidade jornalística, capricho documental e qualidade técnica impecável. Sem recorrer a entrevistas nem narração, elas souberam captar a batalha pelo voto com poucos recursos e sem máquina eleitoral, a garra e a personalidade de cada candidata, assim como o valor simbólico de suas campanhas.