"Incompetência ou conluio": KPMG e PwC não convencem deputados na CPI das Americanas
Por Filipe Calmon, especial para o 247 - Os representantes das empresas de auditorias KPMG e Price, ambas implicadas pelo atual CEO das Americanas em depoimento anterior à CPI das Americanas, apresentaram, na tarde desta terça-feira (1), estratégias distintas aos parlamentares. Porém, o resultado foi o mesmo: não convenceram. Para a deputada federal Fernanda Malchionna (PSol-RS) e os deputados Tarcísio Motta (PSol-RJ) e Mendonça Filho (União-PE), mesmo após as exposições dos sócios das auditorias, restou uma grande dúvida: "incompetência ou conluio?".A expressão foi usada diversas vezes pelos parlamentares durante a audiência pública como resultado das inúmeras tentativas dos auditores de se esquivarem de qualquer responsabilidade na fraude bilionária da varejista. Tanto para Carla Bellangero, sócia de auditoria da KPMG no Brasil, quanto para Fábio Cajazeira, sócio da PricewaterhouseCoopers, também chamada de Price ou PwC, as empresas de auditoria são vítimas de uma fraude muito bem engendrada pelos executivos e funcionários da Americanas, cujas mais modernas e eficientes regras de auditoria jamais seriam capazes de detectar. >>> Presidente da Americanas expõe provas de fraudes em CPI e culpa ex-executivos e ex-CEOA estratégia estava clara para os dois lados. Enquanto Carla Bellangero e sua advogada se sentaram no plenário, à vista de todos, aguardando o atrasado início dos trabalhos para fazer uso da "oportunidade para esclarecimentos", Fábio Cajazeira e seu advogado aguardaram serem chamados reservadamente em outra sala, distantes do centro da discussão.Ambos relataram décadas de serviços prestados às empresas, das quais atualmente são sócios, e discorreram sobre a importância das auditorias. Mas, para Bellagero, a honra estava em jogo. Ela se exaltou para se defender de insinuações de conluio, não parecendo estar tão emocionalmente envolvida quando acusada de incompetência. Neste caso, sempre foi bastante calma e ponderada, justificando tecnicamente suas condutas. >>> CPI da fraude nas Americanas deve ouvir auditorias PwC e KPMGPor sua vez, o representante da Price, Fábio Cajazeira, pareceu sempre muito confortável na posição de convidado da CPI. Longe de levar para o lado pessoal, palestrou professoralmente com se fosse um mero colaborar dos parlamentares. Nem a insistência do deputado Tarcísio e do deputado Mendonça sobre e-mails trocados entre funcionários da Price e da Americanas combinando textos para dar menos margem a interpretações que prejudicariam a empresa auditada na própria auditoria empreendida pelo remetente, seu funcionário, abalou seu calmo semblante. Para ele, a troca de mensagem esteve dentro do normal.A posição tão clara de normalidade e de vitimismo por parte dos convidados levou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) a, de forma jocosa, afirmar que todos os depoentes são inocentes. "O CEO das Americanas esteve aqui e atacou abertamente as auditorias. Me parece que ele tem razão. As auditorias vêm aqui, reagem à direção da Americanas e me parece que também têm razão", debochou. Ele ainda perguntou: "Como que uma fraude de bilhões e bilhões pode ter passado despercebido nas análises dessas auditorias notáveis e conhecidas internacionalmente? O volume causa perplexidade".O deputado Tarcísio achou por bem contextualizar a audiência pública para deixar evidente aos que a assistiam que não se tratava de um convite para colaboração técnica. "É sempre bom lembrar o que estamos fazendo aqui. Há uma fraude bilionária. A maior do mercado de capitais da história brasileira. Sobre a qual há suspeitas se há ou não há conluio das empresas de auditoria representada pelos senhores. Se os auditores foram enganados - eles que deveriam detectar as fraudes e impedir que elas acontecessem - a quem é que vamos recorrer para que essas fraudes e crimes não continuem ocorrendo", questionou.A deputada Fernanda Melchionna enfatizou informação relevante para o andamento dos trabalhos e, assim como antes o deputado Orlando Silva havia declarado, se mostrou preocupada com o prazo para que a CPI conclua seus trabalhos. "Nós aprovamos aqui hoje o requerimento, e esperamos receber em breve, do texto completo da auditoria interna realizada pela Americanas e resumida em plenário pelo atual CEO. Ao contrário da promessa feita naquele mesmo dia, até hoje o documento não está à disposição dessa Comissão para exame".Em seguida, a deputada foi enfática dando a tônica das impressões dos parlamentares. "O que temos aqui, no caso dos dois depoimentos, ou é um atestado de incompetência ou conluio. Simples assim. Estamos falando de um roubo continuado de uma década. De um rombo que teve conluio com as instituições bancárias e com as empresas de auditoria, ao que tudo indica. Nós temos aqui duas auditorias para inglês ver".Depoimentos frustrados - Havia ainda grande expectativa sobre a presença do então CEO da Americanas à época dos fatos, Miguel Gutiérrez que, além de ter conseguido um habeas-corpus para, dentre outros, se manter calado no depoimento, apresentou um atestado médico por meio de seus advogados e requereu nova data para depor.O deputado federal Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE), presidente da CPI, disse que concordaria com a nova data, mas relembrou que a presidência da CPI usará de todos os procedimentos possíveis para que as convocações sejam atendidas, "inclusive, se necessário, a condução coercitiva".O ex-diretor financeiro e de relações com investidores da varejista Fábio Abrate, também de posse de habeas-corpus, compareceu à Camara porém não respondeu a nenhuma das perguntas a ele dirigidas.Encaminhamentos - A reunião desta terça-feira serviu ainda para votar e aprovar 21 requerimentos e eleger como 2º e 3º vice-presidentes os deputados federais Diego Coronel (PSD-BA) e Mourão (MDB-SP), respectivamente. A Comissão volta a se reunir na próxima terça-feira (8).