Chacinas policiais não derrotam o crime organizado
img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20230803190824_4022a81c2e709e2bf93e7757695983defef55b250e23c2f7ce634f7efada977c.jpg" width="610" height="380" hspace="5" /
A polícia do governador Tarcísio provou ser vingativa, na pior acepção da palavra, em vez de eficiente
br clear="all"
A polícia do governador Tarcísio provou ser vingativa, na pior acepção da palavra, em vez de eficiente. É notório entre a bandidagem que matar um tira, ainda mais de grupamento especial, gera reação igualmente mortal. Ocorre que o morticínio possui a face cruel de alcançar inocentes, além de, comprovadamente, não reduzir o poder das organizações criminosas - estas têm de ser atacadas nos seus cofres.Quem entende de crime organizado no Brasil é o desembargador aposentado Wálter Fanganiello Maierovitch, que tem espaços no UOL e na rádio CBN e que já foi colunista de Carta Capital. Ano passado, Maierovitch ganhou o Prêmio Jabuti pelo livro “Máfia, poder e antimáfia - Um olhar pessoal sobre uma longa e sangrenta história”. É figura midiática.Há alguns anos, este colunista entrevistou longamente o jurista, fundador do Instituto Giovanni Falcone de Ciências Criminais. A imersão no conhecimento de Maierovitch amplia a visão sobre o modus operandi do crime, e, hoje, faz com que a ineficiência de ações como a da polícia do governador Tarcísio no Guarujá - e das policiais brasileiras em geral - seja clara como água.O Brasil está atrasado em termos de política criminal, especialmente em relação ao crime organizado, ensina-nos Maierovitch. Verificadas a legislação europeia e a Convenção de Palermo, primeiro instrumento jurídico a tratar de “organizações criminosas”, percebe-se que o crime organizado é de difícil desmantelamento. Identificam-se facilmente associações delinquenciais comuns – quadrilhas e bandos -, mas apenas resvala-se da estrutura dos grupos mais complexos.Organizações como o PCC controlam territórios, exercem domínio social e possuem grande poder econômico. O Primeiro Comando da Capital já adquiriu caráter transnacional - é uma máfia, portanto. Como combatê-la? Não é chacinando um bairro pobre.“O mundo sabe disso, isso é preconizado no mundo, e no Brasil não se pratica: você só consegue combater crime organizado mexendo no bolso, mexendo no caixa da organização. Vale dizer: desfalcando-a. E o governo de São Paulo ainda não de preocupou em desfalcar o PCC. Quando um comércio ou uma indústria quebram? Quando não têm dinheiro”, dizia-nos Wálter Fanganiello Maierovitch no longínquo ano de 2014. Nada mudou.É óbvio que se entranhar nas movimentações financeiras do crime organizado dá trabalho, requer preparo técnico, recursos tecnológicos, dedicação exclusiva, tempo e dinheiro. É disso que a polícia precisa, não de estímulos a um estúpido desejo de vingança.