Caitlin Johnstone: perturbe as Guerras Culturais

Gerentes de ambas as facções do mainstream desviam constantemente toda a energia política para longe das questões que ameaçam os interesses dos poderosos
Por Caitlin Johnstone, em seu site - Um dos grandes desafios enfrentados pelos ocidentais que se opõem ao atual status quo é a maneira pela qual os gerentes de ambas as facções do mainstream desviam constantemente toda a energia política para longe das questões que ameaçam os interesses dos poderosos – como a injustiça econômica, a guerra, o militarismo, o autoritarianismo, a corrupção, o capitalismo e o ecocídio – e a conduzem para questões que em nada ameaçam os poderosos, como o aborto, o racismo, o sexismo, a homofobia e a transfobia.Este método de controle social serve aos poderosos de algumas maneiras muito óbvias e está sendo usado muito eficazmente. Porquanto siga sendo eficaz, este método continuará sendo usado. Quanto piores as coisas fiquem, mais urgente se tornará a necessidade de combater na guerra de classes e quanto mais urgente se torna combater a luta de classes, tanto mais vitriólica e intensa se tornará a guerra artificial de cultura, a fim de evitar as mudanças políticas que são inconvenientes para os poderosos. Isto é 100% garantido. E o complicado é que toda esta intensidade vitriólica criará a ilusão de que a guerra cultural se tornou mais importante, quando, na verdade, é a guerra de classes que é assim.É simplesmente um fato claro e direto que, quanto mais miserável, empobrecido e impotente o público se torna, tanto mais odiosa e onipresente se tornará a guerra cultural artificial, a fim de evitar a revolução. É isso que tem ocorrido e é isso que seguirá ocorrendo. Você pode odiar ouví-lo e você pode me odiar por dizê-lo. Mas isto é um fato, e eu penso que todos nós sabemos muito bem que é um fato.Então, o que fazer sobre isto? Obviamente, não é uma opção simplesmente jogar os grupos impotentes aos lobos e ignorar os abusos que eles estão sofrendo sob o ódio dirigido que os persegue, vindo da direita. E, obviamente, não é uma opção correr para o outro lado da divisória partidária e colaborar com a facção do mainstream que diz que devemos focar apenas nas questões da guerra cultural – como no famoso argumento de Hillary Clinton que quebrar os bancos não acabará com o racismo e o sexismo.Assim como para a maior parte dos problemas, o primeiro passo para se encontrar uma solução é conscientizar-se sobre o que está ocorrendo. Chame atenção para o fato que os grupos marginalizados estão sendo usados e abusados pelos gerentes da narrativa do mainstream para evitar que o público preste atenção nos abusos dos seus dominadores. Chame atenção para a maneira pela qual os gerentes direitistas da narrativa dirigem o ódio aos f=grupos marginalizados, para manter o ódio longe dos nossos dominadores e para a maneira pela qual os gerentes da narrativa liberal se aproveitam disso para conduzir o seu rebanho para longe das questões que podem ser inconvenientes para os poderosos e focalizem exclusivamente na guerra cultural.Impeça que as pessoas sejam sugadas pela encenação e, ao invés disso, chame atenção para aquilo que realmente está acontecendo aqui. Aja como um idiota vociferante numa sala de cinema que insiste em berrar “Nada disso é real! Estes são atores num set de filmagens!”Você pode imaginar quão difícil seria perder-se na narrativa de um filme, se alguém estivesse constantemente fazendo isso com você? Após um tempo, você pararia de assistir o filme Oppenheimer e você só seria capaz de ver Cillian Murphy [o ator que faz o papel de Oppenheimer no filme].Basicamente, tudo que você está tentando fazer é tirar o calor emocional daquilo que está sendo desviado para a rixa partidária sobre questões cujos resultados jamais serão minimamente inconvenientes para o poder e conduzirão aquele calor emocional para as pessoas que estão dirigindo tudo isso. Isso é fácil de fazer e também é completamente honesto, porque quão fodido é que eles estão fazendo isso? Quão fodido é que as vozes mais influentes na nossa sociedade, em ambos os lados da divisória do mainstream partidário, estão facilitando o abuso de grupos marginalizados, a fim de proteger os poderosos.Esta é uma coisa tão repugnante quanto você possivelmente poderia inventar. Eles estão opondo um ser humano a outro, às custas dos membros mais vulneráveis da sociedade e assistem do alto a luta entre eles, como deuses gregos. Você consegue pensar em alguma coisa mais vil?Chame atenção para o quão nojento é o que eles estão fazendo. Chame atenção para o quão profundamente maligno é este comportamento. Siga berrando naquela sala de cinema, chamando atenção para aquilo que realmente está ocorrendo, para salientar o quão profundamente depravados são estes monstros.Chame atenção para esta dinâmica, seja onde for que a veja. Quando os “opulistas” de direita balbuciem sobra as conspirações LGBTQ e gritam sobre 'wokeness' [estar vigilantes], faça troça deles pelo rebanho ridículo que eles são ao cairem na dinâmica que serve diretamente as estruturas de poder da elite a qual eles alegam opor-se. Quando os liberais ignoram a injustiça econômica, a guerra, o militarismo, o autoritarismo, a corrupção, o capitalismo e o ecocídio, para focalizarem nas batalhas da guerra cultural, cujos resultados jamais criarão inconveniências para os poderosos, saliente a maneira nojenta pela qual eles mesmos alimentam uma dinâmica que coloca em perigo as comunidades marginalizadas que eles alegam defender.As pessoas de ambos os lados desta linha divisória farão objeções a esta mensagem. A fonte da objeção delas é a programação exata que eu acabo de descrever. A verdade se esconde logo abaixo daquela objeção. Em algum nível, vocês todos sabem que isto está ocorrendo.Continue rompendo a magia e chame atenção para aquilo que realmente ocorre, assim você poderá pisar sobre o abuso na sua fonte.* Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz para o Brasil 247.