Somos todos vítimas de uma política de segurança fracassada
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A política de segurança baseada no confronto nos territórios mais pobres nunca deu certo
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A recente escalada da violência policial em São Paulo, Rio de Janeiro e na Bahia lança um alerta urgente para toda a sociedade. Em apenas 10 dias, cerca de 50 pessoas foram mortas em operações nos três estados, a maioria jovens, quase todos pretos, todos pobres, todos vítimas de uma política de segurança que há décadas escreve uma história de absoluto fracasso.A política de segurança baseada no confronto nos territórios mais pobres nunca deu certo. A prova disso é o crescimento desenfreado do crime organizado, inclusive das milícias, é o avanço do grande tráfico de drogas ilícitas, que não está nas favelas e nem nas periferias, mas nos endereços nobres do país. É um negócio que, no Brasil, gira em torno de R$ 17 bilhões, por ano, segundo afirmou o general da reserva Alberto Mendes Cardoso, em 2018. Esse dinheiro, definitivamente, não passa nem perto das favelas, onde vivem quase 20 milhões de brasileiras e brasileiros. A política de segurança baseada na cultura da Morte gera vítimas de todos os lados. Mata o menino Thiago Menezes, de 13 anos, vítima de uma operação da PM na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio; uma operação em que nenhum dos agentes usava câmeras nas fardas, que poderiam ajudar a identificar de onde partiu o tiro.Mata Severina da Silva Nunes, a querida Dona Severina, como a chamávamos, de 63 anos, que tomava um café na calçada quando policiais militares invadiram o Morro do Turano atirando.Mata agentes policiais, pois a polícia que mais mata, no mundo, é também a que mais morre. Em 2022, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 173 policiais civis e militares foram mortos de forma violenta, um aumento de 30%, em relação a 2021.A chacina promovida na Baixada Santista, em São Paulo, resultou em mais de 16 mortes, inúmeros feridos e mais de 80 presos e levou o pânico a milhares e milhares de moradores de três comunidades da região, especialmente no Guarujá. Espalhou o medo entre crianças, jovens, mulheres e homens de todas as idades.A chacina foi uma reação ao triste assassinato do soldado da Rota Patrick Bastos Reis, de 30 anos, pai de um menino de 3 anos. Mas, de todos os mortos, feridos, presos e afetados pela ação, apenas três são acusados de participar do assassinato, sendo que dois deles nem estavam na cena do crime. Quanta desproporção. Ao denunciar esse despropósito, o professor Claudio Silva, Ouvidor Geral das Policias do Estado de São Paulo, passou a sofrer ameaças de morte, tornando-se mais um alvo do ódio, do preconceito. Eu me pergunto qual o resultado de uma política de segurança baseada na vingança, estruturada na crença de que pobres e pretos são todos alvos prontos a serem atingidos. Basta apenas afirmar que eram suspeitos? Eu me pergunto com que autoridade a polícia julga e executa uma pena de morte que é proibida pela Constituição brasileira?Desobedecer a Constituição é crime, e não se combate crime com mais crime.É preciso mudar radicalmente essa lógica, é preciso pensar a segurança pública de modo inteligente, com forte investimento na investigação, e também no policiamento humanitário, com respeito às pessoas e às diferenças, sem qualquer preconceito.O Estado precisa, sim, entrar com força total nas favelas e periferias, mas não para matar. Precisa entrar com toda a força e vigor para levar justiça social, inclusão, saneamento, saúde, educação, trabalho e renda. Em solidariedade aos familiares do menino Thiago, D. Severina, do soldado Patrick e de todos os mortos por essa violência, e em memória deles, precisamos urgentemente transpor o estado de barbárie para o da civilização.