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Август
2023

Sem alça

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Nem mala pesada, muito menos sem alça, Beto era o mala-bacana

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No primeiro ano de casamento, a primeira viagem e a primeira e, inesquecível, briga. Chegaram à Itália apaixonados e saíram quase divorciados. Choro, raiva e gritaria do casal assustaram até o mais escandaloso dos italianos.- Some da minha vida.- E você me esquece.Então, depois de onze horas a trinta mil pés de altura, resolveram a primeira crise, desembarcaram em Cumbica a rir da quase desgraça.A encrenca começou ainda em Ribeirão Preto, quando num almoço de família a tia Olga pediu a ela um jogo de panelas de porcelana, cinco peças com suas pesadas tampas de vidro, artigo de luxo que na época só havia em Milão.Leonardo, afilhado dele, quis uma coleção de livros de moda em papel brilhante e capa dura. Mais 5 quilos. Fora um sino de bronze, tapetinho e quatro pratos de cerâmica. Pechinchas de brechó, que ela decidiu levar para um casal amigo. Além de um casaco de couro pra ela mesmo.- Quando você insiste, melhor concordar.- Pelo menos eu sei o que eu quero.A mala dela era vermelha, brilhante e com uma novidade que aos poucos se tornava uma revolução pra milhões de viajantes: as rodinhas. A dele, bem grande, de tecido sintético e emprestada por um amigo, conseguia ser incômoda e feiosa. Foi ali que as encomendas se apertaram. Ele sentou em cima. O zíper resfolegou, quase se partiu, mas a grande arca, enfim, estava fechada.- Me ajuda.- Também tô ocupada.- Egoísta.- Cala a boca.O drama agora era levar a pesada geringonça. Oito graus no outono italiano e o suor a escorrer pela testa. Aí, ele deu de cara com a escada rolante travada na estação de metrô de Roma.Exausto, nervoso, carregou a mala em cima da cabeça, até conseguir despachar o trambolho. Por causa do excesso de peso, teve que gastar as últimas liras. Aquelas que tinha guardado para comprar a garrafa de Grappa.- Como eu fui deixar isso acontecer? Você gastou todo o nosso dinheiro?- Não gastei, investi. Me deixa em paz.Como disse, a crise acabou nas últimas horas de voo e, vinte e oito anos depois, Alfredo e Rosângela, ainda juntam milhas para a viagem de todo ano.Lembrei do caso e do casal depois de dar uma informação errada no último texto, quando escrevi que a mala de rodinhas era invenção brasileira. Peço desculpas mais uma vez, inclusive ao verdadeiro inventor, um homem nascido nos Estados Unidos.- A de rodinhas pode ser deles, mas “a mala sem alça” é nossa, nem precisa de patente, brincou uma solidária leitora.“Mala pesada”, “mala difícil de carregar”, outros leitores lembraram das variações que no fim do milênio passado se espalhavam como notícia ruim.O chato, adjetivo certeiro, virou “o mala” e como toda boa gíria, ainda deve ter vida longa.Beto Bacana também era chamado de mala Bacana – já vamos saber porquê. Um quarentão que sempre riu do mau humor.Na TV em que nos conhecemos, uma das diversões diante daquele mar de telefones beges e seus teclados pretos eram os trotes.Ele ligava para os próprios colegas que estavam a quinze ou vinte metros e imitava a voz de um famoso político reclamando de uma reportagem. Na véspera de uma Copa, se fingiu de Zagalo.Por pouco não levou um tapa na orelha depois de ligar três vezes pra chefia de reportagem avisando de um incêndio devastador dentro de uma piscina na Freguesia do Ó.- O mais engraçado é ver o trouxa recebendo o trote, me sussurrava o Beto. Numa viagem de trabalho ao sertão baiano, finalmente entendi o verdadeiro sentido da expressão o Mala Bacana. A história se repetiu em outras coberturas e até fora do Brasil.Cinegrafista experiente, ele gravava as imagens para a reportagem, garantia também as entrevistas e, então, pedia aos assistentes que fizessem outras cenas.Orientava os novatos, entusiasmados com a chance de aprender. Enquanto todos trabalhavam para finalizar as gravações, Beto distribuía nas malas com os equipamentos e também nas bagagens pessoais, pedras e tijolos que recolhia sem que ninguém visse. Tudo embrulhado em jornal.Estranhávamos as bolsas pesadíssimas. Mas ele ia lá na frente gritando, sem deixar ninguém parar.- Vamos gente, vamos perder o avião. Corram. Tô falando sério.A gente obedecia e só quando chegava em casa ou no almoxarifado da TV entendia porque o mala-pesada tinha passado a viagem às gargalhadas.O mala-mais-parceiro-do-mundo fez faculdade de jornalismo e hoje é um respeitado editor de imagens. Em dias mais tranquilos, os colegas se assustam com estranhos telefonemas que se repetem insistentemente na redação. O último foi assim.- Bom dia, aqui é Jonas, do Palácio Bandeirantes, vocês não foram avisados da entrevista coletiva do governador?











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