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Август
2023

Larissa Manoela e a comoção da branquitude com o mi mi mi de uma pobre menina milionária

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A mesma branquitude que considera inadmissível o caso de Larissa Manoela, naturaliza a violência racial e a miserabilidade social

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É sempre bom lembrar que, quando falamos em branquitude, não estamos apenas nos referindo à pigmentação da cútis de um determinado grupo de pessoas. Branquitude é um conceito, talvez, uma ideologia, que está para muito além de um corpo branco. Tem a ver com a representação de um padrão social considerado vencedor e superior, com um quadro socioeconômico que classifica o homem branco como a força motriz da expansão capitalista que, historicamente, só fez explorar a força de trabalho de seres humanos não brancos, que foram sequestrados de suas origens e escravizados para o progresso e aniquilados em suas existências. É preciso aprofundar cada vez mais os estudos sobre a branquitude, sobretudo, para descobrir e entender como, mesmo sendo a África o berço da humanidade, os brancos conseguiram se apropriar de tudo o que hoje existe sob o sol.

Essa ideologia branca, por exemplo, consegue promover uma onda de comoção social em torno da figura de uma menina milionária que teria sido vítima de pais abusivos, que administravam a fortuna de maneira tão usurpadora, que não lhe dava dinheiro sequer para comprar uma espiga de milho cozido na praia. As acusações de má festa de um patrimônio avaliado entre 20 e 30 milhões de reais, tomou conta dos noticiários em meio a milhares de coisas socialmente mais relevantes, mas que a branquitude ignora. A fome de milhões de meninas e meninos, pobres e pretos, que talvez só tenham vindo a saber o que é uma espiga de milho através do "sofrimento" de Larissa que, ao fazer 18 anos de idade teve acesso a um cartão de crédito sem limites, é um grande exemplo. Essa realidade social da branquitude nativa e daqueles que passaram a assimilar o mesmo conceito, e aqui eu incluo muitos pretos aculturados também, é distópica, dissonante e disruptiva no processo de desconstrução dos privilégios sistêmicos que a beneficia. Ao mesmo tempo em que é um projeto de poder racial, é também um pouco de uma raça que tem medo da fumaça dos movimentos sociais que lutam por igualdade, e não quer se submeter a uma revisão histórica de sua existência. Muito menos, conceder reparação aos grupos que ela escravizou para se estabelecer e permanecer ditando as regras. Aliás, mesmo com todo o debate gerado em torno dessa pauta, o branco escravizador, que ainda existe nos dias atuais, consegue se manter em condição de invisibilidade. Como alguns gostam de dizer: "eu nunca escravizei ninguém", portanto, não me cobrem por apenas querer desfrutar do privilégio que a sua escravização me dá.

É essa branquitude que considera inadmissível o que os pais de Larissa Manoela fizeram com ela, se é que fizeram da forma que está sendo dita, mas naturaliza e legitima a violência racial contra não brancos e a miserabilidade social a qual esses grupos são submetidos. Isso explica o fato de a condição social de uma menina preta que vende bala no farol, não despertar a mesma indignação na sociedade e nem ocupar todos os sites de notícias com a sua história. Aqui existe também a ideia de um privilégio simbólico, além do material, que condiciona uma sociedade racializada a crer que os membros da branquitude não devem sofrer ou passar por dificuldades. É como num sistema político ou religioso, onde os ideólogos de tal posicionamento ou professantes de uma determinada fé, devem ser vistos como referência de moral, bons costumes, boa cultura e mais dignos de viverem com liberdade e prosperidade.A despeito do trabalho jornalístico corporativo realizado na cobertura da saga da nova Cinderella dos brasileiros, encontramos profissionais respeitados e com longos anos de carreira, alegando que o papel do jornalismo é ouvir os dois lados. Por isso, a discussão foi ampliada e todos os detalhes envolvendo a vida pessoal de uma família branca e rica, que deveriam interessar somente a ela, precisavam vir à tona. Mas qual seria o nosso real interesse nesse assunto? Nenhum. Mas a branquitude também controla a mídia, principalmente, a mídia, e nos empurra goela abaixo, não só aquilo que a exalta, glorifica e faz o mundo mais branco, como também nos obriga a se comover com os seus dissabores. Ainda que não queiramos chorar o seu choro ou sorrir o seu sorriso. Até porque, ela só é amiga de si mesma. E só admite a existência de não brancos para servi-la, diverti-la e admirá-la.

Observem que falei muito mais sobre a branquitude, do que sobre a Larissa Manoela, que é uma atriz talentosa e tem a oportunidade de colher os frutos do seu trabalho, mas que talvez assim não seria se ela não fosse branca. Quantos talentos pretos e periféricos são descartados ou deixam de ser aproveitados por não se encaixarem no padrão da branquitude sistêmica? Ou ainda, quantos desses talentos pretos e periféricos chegam em um determinado momento de suas carreiras sem oportunidades e acabam sucumbindo ao ostracismo e falta de recursos para sobreviverem? O gênio Cartola, fonte inesgotável de poesia e musicalidade onde muitos outros artistas beberam e gravaram suas obras, morreu pobre e morando "de favor" numa casa doada pela prefeitura do Rio de Janeiro. Por que isso não indignou a imprensa e a sociedade? Preciso mesmo responder? O pior é quando percebemos que falar sobre branquitude, é falar sobre quantas espigas de milho Larissa Manoela ainda poderá comprar com sua fortuna e com o seu cartão black sem limites. Tadinha dela.











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