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Август
2023

Precisamos falar sobre Madeleines

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O Brasil precisa olhar para seus Brasis. E isso inclui Marias, Madalenas e Madeleine, que têm sido tratadas como a nossa Geni no exterior

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Precisamos falar sobre Madeleine. Tenho repetido essa frase há cinco anos, desde que filmo a manifestação da Lavagem da Madeleine, que inicialmente começou como um candomblé dentro da igreja católica, depois, sob pressão, a igreja recuou, e restringiu o ritual às suas escadarias. O filme Madeleine à Paris não é a primeira tentativa de registrar e refletir sobre a potência dessa festa. Outros antes de mim tentaram e ficaram no meio do caminho. Nos arquivos que mergulho para contar essa história, tem imagens de Péricles Palmeira, de Juliano Bacelar, só para citar alguns colegas. Esse filme e as outras tentativas que vieram antes de mim, transitam nesse limbo dos inclassificáveis: muito brasileiro para França e longe demais para o Brasil. Pelo menos esse foi o retorno enviado à produção do filme pela comissão de diversidade do CNC - Centro Nacional do Cinema da França, que pré-selecionou o filme e depois não foi adiante por “ser brasileiro demais”.Por outro lado, apresentar um filme de Candomblé, de imigrante, queer e muitas outras etiquetas da “margem”, seria perda de tempo no Brasil das trevas dos últimos cinco anos. E assim, esse filme foi seguindo com suas próprias pernas, como seu protagonista, o dançarino negro Roberto Chaves, um trabalhador da noite parisiense no Cabaré Paradise Latin, onde ele é o hostess da casa, uma especie de versão latina do famoso Moulin Rouge. Além de Robertinho e da sua cidade de Santo Amaro da Purificação, a mesma da minha família materna, o filme reúne relíquias como a primeira baiana da Lavagem: a condessa Luana de Noailles, manequim que desfilou para Yves Saint Laurent e foi a modelo negra brasileira de maior sucesso na Europa. Mas, essa festa de rua é maior do que o cinema: o filme só existe porque elas e eles resistem. O desfile acontece pelas ruas de três bairros de Paris, saindo da Praça da República, passando pela Ópera Garnier até chegar na Igreja de la Madeleine. O cortejo surgiu há 22 anos, ainda na Igreja de Sacre Coeur, por iniciativa de Robertinho que, ao chegar em Paris, precisou lidar com o “banzo” do imigrante. Para matar a saudade da sua terra natal, o então dançarino do grupo de lambada Kaoma, criou esse ritual inspirado na Lavagem do Senhor do Bonfim, de Salvador. Desde o ano passado, a Lavagem da Madeleine chegou à Portugal, acontecendo na semana posterior à Paris, desfilando nas ruas de Lisboa graças à luta do mestre Giba, do grupo de percussão feminina Batalá, da ativistas afro-feministas Nelma Barretto e Aline Silva, do Babalorixá Pai Pote, irmão de santo e de sangue de Robertinho. O cortejo reúne manifestações populares de todas as regiões do Brasil, como grupos de samba-reggae, maracatu e escolas de samba. Nos últimos anos, além das Alas das Baianas, vem se destacando o grupo Mulheres da Resistência, que traz pautas feministas para o centro do desfile. O nome da santa, Madalena (em português) / Madeleine (em francês), também dar o tom feminista ao cortejo. Perseguida dentro da igreja católica como prostituta e, para outros, a mulher de Jesus, Madalena foi santificada. No filme, o filósofo Jean-Yves Leloup, autor do livro “Evangelho de Maria”, conta como o machismo estrutural já estava ali, denunciado nos escritos de Maria-Madalena.Madalena deu origem ao hino da Lavagem, “Madalena Abençoar”, uma composição em parceria de Roberto Chaves e Carlinhos Brown. Esse também é o nome de Dona Madalena, mãe de Carlinhos Brown, conhecido na Europa como “Carlito Marron”.Nessas duas décadas, a Lavagem já atraiu grandes artistas, muitos baianos, como Caetano Veloso, Margareth Menezes e Daniela Mercury. O ator francês Vincent Cassel, também costuma aparecer, afinal ele é padrinho da Lavagem há sete anos. A Lavagem da Madeleine integra a programação oficial da prefeitura de Paris e faz parte da Rota dos Escravizados da UNESCO. Isso tudo dito, me parece um grande paradoxo: porque essa festa é tão pouco acolhida pela Bahia e pelo Brasil? Seu criador, Roberto Chaves, segue colocando dinheiro do próprio bolso para “botar o bloco nas ruas” de Paris. Observo e tiro o chapéu para Robertinho, esse ex office-boy de Gilberto Gil que recebeu a medalha de Honra ao Mérito do Senado Francês pelo seu trabalho como embaixador informal do Brasil na Europa. Aliás, a medalha essa, também recebida pela cantora brasileira negra de ópera Maria D’Apparecida, que segue esquecida. O Brasil precisa olhar para seus Brasis. E isso inclui Marias, Madalenas e Madeleine, que têm sido tratadas como a nossa Geni no exterior.











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