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Сентябрь
2023

Santiago 50 anos depois: a volta dos que não foram

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Um violento golpe patrocinado pelos Estados Unidos interrompeu o sonho e instalou sangrentamente um regime de exceção
Na semana que passou, tive a grata satisfação de voltar ao Chile, dessa vez com minha família e um grande grupo de amigos e de brasileiros vitimados pela ditadura militar no Brasil e no Chile, a maioria deles membros do grupo “Viva Chile!”, uma iniciativa de ex-exilados brasileiros naquele país que organizou a ida de mais de 140 brasileiros numa ação entre amigos que custearam suas próprias viagens para acompanhar os eventos de rememoração dos 50 anos do golpe do Chile.Estavam lá meus pais, João e Janete Capiberibe, meu filho Thomas, meu irmão Camilo com suas filhas Cloé e Julia, minha irmã Artionka e seu marido Ronaldo, com seu filho Antonio, todos nós marcados, de forma direta ou indireta, por esse passado chileno.Encontrei pessoas que têm, como eu, a cidade de Santiago na certidão de nascimento por uma razão muito particular. Nascemos lá porque nossos pais buscavam refúgio da ditadura brasileira, que caçava, torturava e matava quem era contra o regime.O Chile era o único país da América Latina a ter elevado o socialismo ao poder pela via democrática do voto. O povo estava no poder, a Unidad Popular de Allende mobilizava o coração e os sonhos de chilenos, brasileiros e de pessoas de todos os lugares do mundo, que lá chegavam em busca de um refúgio e de uma utopia.Eram todos muito jovens.Um violento golpe patrocinado pelos Estados Unidos interrompeu o sonho e instalou sangrentamente um regime de exceção. Grande parte das vítimas, fatais ou não, tinha pouco mais de 20 anos de idade, mesma faixa etária de nossos filhos. Em janeiro de 1974, quatro meses após o golpe, deixamos para trás aquele país onde meus pais, e tantos outros brasileiros, eram felizes e pensavam em se instalar pelo resto da vida.Um tempo de incerteza e tragédia precedeu nossa saída do Chile - o garoto Eduardo, de apenas 4 anos, filho de um casal de brasileiros também refugiados afogou-se na enorme piscina de um estabelecimento católico em Padre Hurtado, transformado pelo ACNUR/ONU, em abrigo de refugiados brasileiros no Chile, foi encontrado pelo meu pai, que chegou a tempo de ver minha irmã mais velha, então com 3 anos, em pé na borda, olhando o corpo do amiguinho sem vida - no retiro Católico de Padre Hurtado. Ainda no refúgio, uma bala disparada por militares do lado de fora atingiu a moldura da janela do quarto onde estava nossa família.A saga de minha família não começava ali. Meus pais foram presos e torturados pela ditadura brasileira e protagonizaram com minha irmã mais velha, que era um bebê de colo, uma fuga espetacular pela selva amazônica. Passaram também pelo golpe na Bolívia, onde tentaram asilo e acabaram sendo testemunhas de outro golpe de Estado.Finalmente, depois de pouco mais de três meses de refúgio, em 1974 o Canadá se abre para a ida de exilados do Chile e eu e minha família rumamos para lá, onde ficamos por quatro anos e depois partimos para Moçambique na África, país que meus pais escolheram para trabalhar como cooperantes. Com a abertura, em 1980 “voltamos” ao Brasil, onde nos instalamos em Olinda-PE, onde meu pai trabalhou dois anos com Miguel Arraes.“Voltamos”?Esse voltamos entre aspas tem uma razão: eu e meu irmão nascemos no Chile, antes da abertura política nunca tínhamos vindo ao Brasil, mas sempre ouvimos nossos pais falando em voltar para o nosso país de origem. Então eu sempre me referia à vinda para o Brasil como um retorno, e continuo me referindo, mesmo não conhecendo o Brasil físico, pois tinha uma enorme referência do país imaginário que vivia na cabeça dos meus pais e que eles nos repassavam. Dividíamos com eles as angústias do desejo de voltar ao Brasil, que durou nove anos para eles e minha irmã.Retornar ao Chile, velar os mortos, ver as fotos que o fotógrafo Evandro Teixeira expôs no Museu da Memória em Santiago e reviver o passado que ajudou a me moldar na vida fez com que eu pensasse no presente. Uma frase que vi em vários lugares de Santiago durante essa visita: “um povo sem memória é um povo sem futuro” ganha todo um significado quando pensamos no passado recente de ameaças à democracia do Brasil e do mundo.Ser refugiado político é ir sem ter ido, é uma violência sem tamanho. Não podemos admitir, nem sequer por brincadeira, que momentos antidemocráticos como os que vivemos recentemente no Brasil recrudesçam e tenhamos de volta momentos de violência política como os que já vivemos aqui e em vários outros países da América Latina. Ditadura nunca mais! Viva a democracia!










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