Filho de compadre de Ricardo Nunes faturou R$ 31 mi em contratos sem licitação com a Prefeitura
img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20230914090916_16b27075b801d03757d21d71ae4e45b717aea02cff0b4346a0023c6aa7734eba.jpg" width="610" height="380" hspace="5" /
DPT Engenharia e Arquitetura LTDA foi fundada em setembro de 2019 e pertence a Pedro José da Silva Junior, filho de Pedro José da Silva, compadre de Ricardo Nunes
br clear="all"
Igor Carvalho, Brasil de Fato - A DPT Engenharia e Arquitetura LTDA faturou, entre dezembro de 2021 e agosto deste ano, R$ 31,4 milhões em contratos para obras emergenciais – que dispensam licitação – com a Prefeitura de São Paulo, de acordo com levantamento feito pelo Brasil de Fato. Todas as contratações ocorreram no período em que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) está à frente do governo municipal.A empresa, fundada em setembro de 2019, pertence ao engenheiro civil e arquiteto Pedro José da Silva Junior, de 31 anos, filho de Pedro José da Silva, compadre de Ricardo Nunes. Silva é padrinho de Izabela Nunes, filha do prefeito.Pedro José da Silva coordenava o gabinete da liderança do MDB na Câmara dos Vereadores entre 2013 e 2016, período em que Ricardo Nunes era vereador e líder do partido na Casa. A dupla também trabalhou junto no setor de jornais de bairros, onde o atual prefeito fez carreira.Servidores da Prefeitura confirmaram ao Brasil de Fato que a relação entre Pedro José da Silva e Ricardo Nunes é "extremamente próxima" e que o compadre do prefeito, apesar de não estar na relação de trabalhadores do atual governo e do município e não ter cargo oficial no governo, é visto com assiduidade nos corredores do prédio que sedia o poder municipal, no Viaduto do Chá.No Instagram, Pedro José da Silva, que usa seu perfil pessoal para divulgar vídeos e imagens da gestão de Nunes, está marcado em 18 publicações da conta oficial do prefeito no último ano.Em 21 de janeiro de 2020, Pedro postou uma foto com a afilhada, Izabela Nunes, a parabenizando por seus 14 anos. Nos comentários, a primeira-dama de São Paulo, mãe da jovem, celebrou a amizade com o compadre."Obrigado, Pedrinho, por sempre estar perto da nossa família e acompanhar nossa caminhada. Obrigada pela amizade verdadeira", disse Regina Carnovale Nunes, esposa do prefeito.A experiência do pai - Embora a empresa esteja no nome do filho, é Pedro José da Silva quem tem experiência na área de construção civil. O compadre do prefeito já foi dono de duas construtoras, a Tomaz Silva Construção Civil S/S Ltda e a PJS Construção e Empreendimento. A primeira segue ativa, a segunda está inapta.Nas duas construtoras, Pedro José da Silva acumula R$ 2,4 milhões em débitos ativos com a União, de acordo com a lista de devedores da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.Os débitos do compadre de Nunes estão distribuídos da seguinte forma: R$ 1,7 milhão pela PJS – sendo R$ 117 mil com a Previdência, e R$ 712 mil pela Tomaz Silva, R$ 363 mil são débitos previdenciários.Além das construtoras, Pedro José da Silva é dono da Gráfica e Editora Jornal Notícias da Região de Santo Amaro Ltda, empresa que fundou em 1990 e que funciona como gráfica, mas também produz o site e o jornal "Notícias da Região", que circula na zona sul da capital paulista.Dois anos antes, em 1988, Nunes havia fundado o jornal "Hora de Ação", que também circulava na zona sul de São Paulo, região que se tornou o reduto eleitoral do atual prefeito.Contratos - Dos dez contratos entre a DPT e a Prefeitura de São Paulo, levantados pelo Brasil de Fato, nove foram feitos via Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb). O primeiro, em 21 de dezembro de 2021, seis meses após Nunes assumir o poder municipal, em decorrência do falecimento de Bruno Covas.No mês de junho de 2022, Junior faturou R$ 21 milhões em apenas três contratos, todos na categoria "Emergencial", com contratação direta para a contenção de talude em Itaquera (R$ 11,2 milhões); a recomposição do sistema de drenagem do Parque Cocaia (R$ 6,4 milhões); e a contenção de talude em Guaianases (R$ 3,3 milhões).Dos dez contratos, oito foram feitos sem licitação, com a contratação direta da construtora de Júnior. Os outros dois, com disputa de processo licitatório, renderam R$ 962 mil à DT Engenharia.A vereadora Elaine Mineiro (PSOL) chamou a atenção para o possível conflito de interesse na relação entre a construtora de Junior e a Prefeitura. "Um dos princípios básicos da administração pública é a moralidade além da impessoalidade, logo é preciso uma auditoria do TCM nos contratos e uma apuração sobre quais são as relações diretas com o prefeito Ricardo Nunes, a população tem o direito de saber se essas contratações seguem os princípios da administração pública", afirmou.Para a também vereadora Luna Zarattini (PT), "a Prefeitura do Ricardo Nunes não tem planejamento, não se organizou no início da gestão para resolver os reais problemas da cidade e agora quer gastar tudo via contratações emergenciais, sem a realização de licitação. De 2021 para 2022, os valores gastos por esse instrumento aumentaram quase 10 vezes, chegando à cifra de R$ 1,9 bilhões de reais. É preciso que a Câmara e os órgãos de controle acompanhem de perto como esses recursos estão sendo gastos", disse.Outro lado - Sobre o período em que trabalhou na liderança do MDB na Câmara dos Vereadores, Pedro José da Silva afirmou ao Brasil de Fato que "servia à bancada do partido, que na época tinha quatro vereadores na Câmara, prestando assessoria e auxílio a estes parlamentares".Para Pedro José da Silva, o apadrinhamento da filha do prefeito não interfere nas relações comerciais da DPT Engenharia com a Prefeitura. "Sempre participei das campanhas do partido na região. E a orientação das lideranças do partido foi no sentido de apoiar os candidatos regionais, sempre atuando na região reivindicando melhorias para a comunidade. O prefeito não tem e nunca teve qualquer relação com a empresa. A empresa foi fundada em 2019 prestando serviços no setor público e privada desde a sua fundação. É importante ressaltar que os serviços prestados antecedem ao período da gestão do prefeito, não havendo qualquer interferência na atuação da empresa."A Prefeitura de São Paulo foi procurada, mas preferiu não se manifestar sobre o caso.