Chanceler do Uruguai renuncia após vazamento de áudio em que pede para ocultar informações sobre um narcotraficante
img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20231101221136_fc0e0ca12f5895e586a0d76794d7932684c745224ea6fd714c7eb9292d12cd6d.png" width="610" height="380" hspace="5" /
O narcotraficante Sebastián Marset é um criminoso que, na última década, atuou no Uruguai, Paraguai e Bolívia
br clear="all"
Télam - O chanceler do Uruguai, Francisco Bustillo, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (31), horas depois de vir à tona que ele tentou pressionar uma subsecretária do seu ministério para ocultar informações da Justiça sobre a concessão de um passaporte ao narcotraficante Sebastián Marset.A notícia da renúncia foi divulgada pelo Telenoche e confirmada pelos jornais El País e La Diaria, que detalharam que Bustillo discutiu a decisão com o presidente Luis Lacalle Pou, que estava nos Estados Unidos hoje.Pouco tempo depois, a renúncia foi oficializada na conta oficial dos Meios Públicos na rede X e a carta com a qual Bustillo renunciou foi divulgada."Quero expressar que não houve nada ilegal na tramitação do passaporte para o Sr. Marset, no qual também não tive envolvimento ou conhecimento", afirmou o agora ex-ministro na carta."Obviamente, também não menti ou distorci a verdade durante o questionamento parlamentar", continuou, e acusou a ex-vice-chanceler: "A Dra. Ache descontextualizou conversas e agiu de má fé".Bustillo enfatizou que "as coisas não são como foram apresentadas, mas são suficientemente sensíveis para que eu apresentasse minha renúncia imediata ao presidente".A ex-subsecretária das Relações Exteriores, Carolina Ache, entregou hoje à Procuradoria algumas mensagens trocadas com o chanceler, nas quais ele sugeria que ela "perdesse" o celular para evitar entregar à Justiça conversas relacionadas à concessão do passaporte uruguaio ao narcotraficante Marset.Após essa informação se tornar pública, o Frente Amplio (FA) havia pedido a renúncia de Bustillo e uma explicação de Lacalle Pou.A mídia de Montevidéu reportou que Lacalle Pou esteve em contato com sua vice-presidente, Beatriz Argimón, e fontes do Executivo indicam que o presidente e a vice esperavam que Bustillo renunciasse por conta própria, sem que precisassem pedir explicitamente.O chefe de estado está nos Estados Unidos, onde se encontrará com seu homólogo, Joe Biden, e participará de uma cúpula da Aliança para a Prosperidade Econômica nas Américas (APEP).Marset é um criminoso que, na última década, atuou no Uruguai, Paraguai e Bolívia. Ele está envolvido no transporte de cocaína para o hemisfério norte, entre outros crimes graves, e em uma breve detenção que teve no Qatar, apresentou um passaporte uruguaio válido.Em agosto passado, conseguiu escapar de uma operação policial na Bolívia, onde agora se investiga se ele teve ajuda policial e de funcionários.No Paraguai, suspeita-se também que ele possa estar relacionado ao assassinato, em maio do ano anterior, do promotor paraguaio Marcelo Pecci, morto a tiros em uma praia de Cartagena, Colômbia, durante sua lua de mel.Na conversa vazada, Bustillo diz a Ache que o subsecretário do Interior, Guillermo Maciel, é "um idiota", mas que não fornecerá as informações requisitadas pela Justiça, relacionadas às conversas com ela sobre Marset, e advertiu que, se o fizesse, "se incriminaria sozinho".Maciel foi o primeiro funcionário a depor à Procuradoria e evitou falar com a imprensa sobre o caso.Bustillo se refere às conversas de 21 de setembro e 3 de novembro de 2021, nas quais Maciel consulta Ache sobre a prisão de Marset em Dubai e alerta que ele é um narcotraficante "perigoso e pesado"."Não acredito que Maciel seja tão idiota a ponto de revelar isso, seria um tiro no próprio pé. Maciel não se safará jogando você aos lobos. Os únicos que poderiam ter parado a expedição do passaporte ou não é o Ministério do Interior. Além do alerta que ele deu, isso não tira a responsabilidade dele, ainda mais quando sabia que havia uma investigação contra esse sujeito. Seria absurdo se ele fizesse isso, ele se incriminaria sozinho", disse Bustillo na conversa com Ache.Quando a ex-subsecretária mencionou que Maciel já tinha "vazado" essas conversas, Bustillo respondeu: "Sim, porque ele é um idiota, mas acho que até agora ele deve ter refletido e percebido que não vai se safar por aí; acredito que o cara é um idiota"."Que Maciel se denuncie, você perde o celular... Estou imaginando cenários... temos que ir navegando isso passo a passo", sugeriu o chanceler.Em outro áudio, Bustillo diz que tentará falar com Carlos Mata - diretor de Assuntos de Fronteira - para evitar entregar os chats na investigação administrativa e evitar o questionamento da funcionária Karina Antelo: "Que pelo menos ele não seja tão direto nas perguntas, que mande um terceiro e que não seja tão incisivo".Quando Ache diz que não há maneira de não entregar os WhatsApp, Bustillo responde: "Vamos encontrar uma maneira de você não ter que entregar isso, porque aí você ficaria muito exposta. Deixe-me falar com Mata para ver se há alguma maneira de ele conversar com ela (a funcionária sumariante) e influenciar".Ache disse a Bustillo que, de qualquer forma, depois esses mesmos chats serão solicitados pela Procuradoria na investigação criminal, ao que o Ministro das Relações Exteriores respondeu: "Isso é outra história, temos que ir ganhando tempo e levando".Além disso, Ache forneceu à promotoria documentação para provar que o assessor da Presidência da República, Roberto Lafluf, destruiu uma ata notarial do Ministério das Relações Exteriores que continha os chats e pediu a ela para apagar as mensagens e certificar com uma tabeliã que essas mensagens não estavam em seu celular.Nesse contexto, o promotor de Delitos Econômicos e Complexos do primeiro turno, Alejandro Machado, estava avaliando a possibilidade de determinar a confidencialidade dessa declaração, de modo que o caso continuaria sem que os advogados dos outros investigados tenham acesso à declaração de Ache.Ao sair de sua declaração, em coletiva de imprensa, Ache afirmou que renunciou ao seu cargo por se recusar a "cometer um crime".A declaração de Ache foi rapidamente acolhida pela oposição do Frente Amplio, que pediu a renúncia de Bustillo e explicações do governo por meio do senador Alejandro Sánchez. Além disso, o Secretariado do FA realizou uma reunião de emergência para avaliar o assunto.Sánchez deu uma coletiva de imprensa na qual exigiu "um ato de honestidade por parte do governo" de Lacalle Pou, pois se trata de "um escândalo de proporções inimagináveis para o Uruguai"."O governo tem que sair e explicar" a situação "ao povo uruguaio": como é que "altas autoridades do governo se reuniram para fazer desaparecer um celular, para não fornecer informações à Justiça, para vir e mentir ao Parlamento", continuou Sánchez.