Exu não é o diabo e o deus bíblico é uma criação humana
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O jogador Paulinho foi vítima de racismo religioso por manifestar a sua fé nas redes sociais
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Por mais que o viés religioso não esteja sendo apontado como o protagonista que motiva o genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestino, declarações de Netanyahu citando a Bíblia para justificar os seus crimes humanitários, e o apoio da maioria do segmento evangélico ao assassinato indiscriminado de crianças e mulheres pelo exército israelense, não nos deixa dúvidas do quanto o conceito judaico-cristão de sociedade precisa ser urgentemente destruído, para o bem da humanidade do Deus criador. A história, que é a minha grande aliada nesse artigo, não me deixa mentir. E a própria Bíblia, onde se encontram diversos textos apresentando genocídios de povos inteiros como mandamento divino, me absolve de qualquer acusação de injúria, calúnia ou difamação religiosa que tentem me imputar.É sempre bom lembrar que religião é cultura, e como somos um povo colonizado pelo eurocentrismo português, obviamente, fomos expostos a absorção da cultura europeia como o padrão de formação da nossa sociedade. Quando ouvimos que o Brasil é um país cristão, estão nos dizendo sobre a exclusão de outras identidades étnicas como os indígenas, os legítimos donos da terra, e os africanos que foram trazidos para cá sob escravização e que empregaram forçosa e gratuitamente a força do seu trabalho para o progresso econômico desta terra. O Brasil cristão é um país branco cultural, social e economicamente falando. Do aspecto religioso, a cultura cristã imposta tratou de inviabilizar quaisquer outras que pudessem ameaçar o pleno domínio dessa branquitude na sociedade. O processo de demonização das religiões africanas e do culto religioso dos povos originários, fez parte desse processo.Quando vimos as manifestações de ódio e intolerância sofridas pelo atacante Paulinho, do Atlético Mineiro e da Seleção Brasileira, por conta de uma postagem feita nas suas redes sociais onde ele agradece a Exu a sua convocação, é preciso entender que se trata de racismo. Os povos não brancos, sobretudo, os de origem africana, sempre estarão submetidos a esta opressão racial, social e cultural, enquanto o conceito de sociedade cristã, ou judaico-cristã, prevalecer em um determinado país. A solução para diminuir essa opressão é a chamada conversão religiosa. Ou seja, os não brancos negarem a sua ancestralidade para serem minimamente aceitos dentro do conceito de branquitude dominante. E nesse caso, a palavra do deus bíblico e opressor daqueles que não o servem como ele determina, é a carta de alforria que lhes garantirá a salvação da perseguição do corpo e a purificação da essência da alma não branca.Também é importante deixar claro que Jesus Cristo nada tem a ver com esse processo de dominação cristã. E tenho a certeza de que ele se recusaria a entrar na maioria dessas igrejas existentes por aqui. Da mesma forma que Deus, pelo menos, o verdadeiro criador, nunca mandou matar crianças inocentes e nunca ordenou que se cometesse genocídios contra povos que ele mesmo teria criado, segundo a teoria criacionista em que se baseia o conceito judaico-cristão. Até porque, se Deus sabe de todas as coisas antes mesmo delas acontecerem, ele já deveria saber quem iria ou não lhe obedecer. O que já deveria invalidar qualquer texto bíblico que se refira a esses genocídios como castigo por desobediência a ele. O que está por trás desses textos onde a violência é a arma divina empregada para combater um suposto mal, é a repressão social aos povos que não se submeteram ao deus de Israel. Um deus criado à imagem e semelhança dos desejos, vontade e aspirações dos homens que queriam impor um domínio absoluto sobre os demais.Exu é um orixá do panteão africano conhecido como mensageiro, e nada tem a ver com o diabo, que é uma criação judaico-cristã, a qual é atribuída a missão de roubar, matar e destruir. Curiosamente, algo que o deus bíblico também faz. Pelo menos, segundo as ações e comportamentos de profetas inspirados por ele. A narrativa da terra prometida a Israel que, na verdade, foi roubada da palestina com a benção desse deus, é um dos exemplos. O deus bíblico ordenou que os amalequistas e cananeus fossem completamente dizimados, como podemos ver em Deuteronômio 20:16-18, onde está escrito: "Contudo, nas cidades das nações que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança, não deixem vivo nenhum ser que respira. Conforme a ordem do Senhor, o seu Deus, destruam totalmente os hititas, os amorreus, os cananeus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Se não, eles os ensinarão a praticar todas as coisas repugnantes que fazem quando adoram os seus deuses, e vocês pecarão contra o Senhor, o seu Deus". E também em 1 Samuel 15:2-3, quando o deus bíblico comandou a Saul e aos israelitas dizendo: "Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Castigarei Amaleque pelo que fez a Israel: ter-se oposto a Israel no caminho, quando este subia do Egito. Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver, e nada lhe poupe; porém matarás homem e mulher, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos."Exu é a divindade responsável pela comunicação entre o mundo terreno e o espiritual. Segundo a tradição iorubá, ele é o senhor dos caminhos, o guardião do culto, e nada se faz sem a sua presença. Na nação angola, Exu recebe o nome de Aluvaiá ou Pambu Njila, de onde deriva o nome Pomba-Gira, uma entidade feminina do culto umbandista brasileiro, que seria um tipo de exu feminino para esse segmento. No candomblé jeje ele é chamado Lebá. Na Umbanda, uma junção entre o culto africano e o catolicismo e o espiritismo europeus, Exu não é orixá, mas sim uma egrégora de diversas entidades que trabalham de acordo com as missões que lhes são dadas. O que pode ter contribuído, a partir das diversas formas através das quais essa egrégora é apresentada nesse culto, para que a sua associação ao mal fosse possível. Assim como Hermes para os gregos, e Osíris para os egípcios, Exu para o culto africano também é uma divindade que pode trazer prosperidade, fartura e sucesso. O que explica o agradecimento feito pelo jogador Paulinho, após ser convocado para a seleção brasileira. O sonho máximo de qualquer jogador de futebol profissional.Das inúmeras postagens e mensagens em ataque a fé do jogador, me chamou atenção uma onde a imagem do jogador Neymar usando uma faixa “100% Jesus” na cabeça, se contrapõe à manifestação religiosa de Paulinho e fortalece a ideia de antagonismo e supremacia “cristã” europeia sobre as religiões africanas. Um resquício de séculos de colonização, escravização e desumanização dos povos africanos e sua cultura. Sem contar o contrassenso do personagem escolhido para representar Jesus no time de futebol do “bem”. Aliás, desde o surgimento do movimento chamado “atletas de cristo”, onde se destacavam nomes como o do polêmico Marcelinho Carioca, do ex-atacante Miller e do tetracampeão mundial Jorginho, que foi auxiliar de Dunga na seleção e quando treinou o América-RJ sugeriu a expulsão do diabo como mascote do clube, uma ideia de meritocracia cristã nas conquistas dos jogadores foi sendo instituída no esporte. Daí, veio a chatice sistêmica de se comemorar gols apontando o dedinho para o céu agradecendo a Deus pela assistência dada. Como se do outro lado, no time adversário, Deus não estivesse ajudando aos outros jogadores. É provável que nem esteja mesmo. Nem para um lado, nem para o outro. Mas sempre vale tentar fazer prevalecer a ideia de que o vencedor está com ele e o perdedor não. Em caso de empate, foi castigo divino para os dois times.É preciso cada vez mais falarmos sobre racismo religioso. Principalmente, quando temos um parlamento repleto de neopentecostais sedentos por poder e dominação sobre ovelhas incautas e mal instruídas. Se estamos escandalizados com o que acontece na Palestina, devemos também estar atentos ao que acontece no Brasil. Existe um projeto de poder evangélico cada vez mais ambicioso e que não medirá esforços e nem poupará vidas, se necessário, para se estabelecer definitivamente como uma teocracia no país. Se levarmos em conta que o controverso deus bíblico é a referência dessa gente, podemos esperar um genocídio particular em seu nome para fazer valer a sua vontade. Até porque, quem determina a vontade desse deus são os homens que o criaram. E eles costumam fazer justiça com as próprias mãos. Digo, com a mão do seu deus. Que o verdadeiro Deus criador se manifeste e nos livre desses impostores racistas e preconceituosos.