Déficit zero foi um erro de Haddad, avalia o economista em entrevista à TV 247
247 - O doutor em economia Paulo Kliass, em entrevista à TV 247, fez críticas à meta de déficit fiscal zero defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O economista alertou para as implicações desse modelo e ressaltou a urgência de uma mudança de rota na condução da política econômica do país.
Kliass destacou que o déficit zero é uma armadilha, frisando que o cálculo desconsidera despesas cruciais, como as financeiras. Ele enfatizou a importância de o presidente Lula assumir o comando dessa política. “O presidente Lula precisa assumir o comando da política econômica, do contrário, vai dar ruim. A perspectiva para o que pode acontecer ao longo do ano é que a meta de déficit zero se mantenha, e isso é muito grave”, afirmou.
O economista argumentou que a capacidade de fazer déficit não é um problema em si. Pelo contrário, em tempos desafiadores como o atual, o déficit poderia ser uma solução para os problemas enfrentados pelo Brasil, além de viabilizar as promessas feitas pelo presidente Lula durante sua campanha em 2022.
Kliass criticou a ideia de equilíbrio entre receitas e despesas (que exclui as financeiras), exemplificando os cortes orçamentários observados recentemente.
A proposta de manter uma margem de déficit entre 1% e 1,5% do PIB foi mencionada como uma alternativa mais razoável, defendida também por parlamentares de esquerda através de emendas à Lei de Diretrizes Orçamentárias. “Isso deixaria o governo muito mais ‘tranquilo’ para desenvolver a política econômica neste ano de 2024 sem ficar com a corda no pescoço como está ficando agora”, destacou.
O economista alertou para o impacto negativo que a pressão do Centrão poderia exercer sobre o governo, aproveitando-se de um cenário fiscal apertado para obter vantagens. Ele enfatizou que o cerne do problema remonta à proposta de déficit apresentada por Haddad no ano anterior, ressaltando que quanto mais apertado estiver o governo, mais poder de barganha terá o Centrão.
Kliass também trouxe à tona a preocupação com a rejeição iminente da MP da Reoneração, que, segundo ele, começava a gerar ruídos dentro do Congresso, sinalizando um desafio adicional para o governo.
O economista enfatizou a necessidade de flexibilizar a rigidez fiscal para permitir uma atuação mais equilibrada e eficaz do governo, afirmando que uma margem de déficit mais ampla traria mais estabilidade para as políticas econômicas em 2024.
“O projeto de deslanchamento da economia, da retomada do crescimento ainda não veio porque tem essa amarra da questão fiscal, e quando o Haddad diz que receita deve ser igual a despesas (menos as financeiras) significa, no concreto, aquilo que a gente viu no final de 2023 e que estamos vendo agora em 2024: a tesoura. Vai ter que começar a cortar para fazer o equilíbrio zero. E isso é uma coisa completamente desnecessária. O próprio relator da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) onde está incluído esse compromisso, é um cara conservador bolsonarista do Ceará, sugeriu que o governo alterasse esse artigo”, finalizou. Assista: