Milhões em obras de "fachada" eram usados para comprar imóveis ao ex-prefeito
Contrato de 2018 no valor de R$ 4.150.988,28 para cascalhar ruas da região do Prosa em Campo Grande – Jardim Noroeste e Chácara dos Poderes, principalmente – iniciou investigação que levou à Operação Cascalhos de Areia, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), deflagrada ontem. Atualmente, o serviço já está em R$ 24.705.391,35. A denúncia que originou a operação relata que a contratação é de fachada, os serviços não são executados e os valores previstos são usados para a compra de imóveis para o ex-prefeito, Marquinhos Trad e sua família. O denunciante diz ainda que os imóveis foram comprados em nome de laranja, dono da empresa AL dos Santos LTDA, que também seria do ex-prefeito. Ainda em 2018, ano do contrato, diz o denunciante que foi contratada apenas uma pá carregadeira por uma semana para que o fiscal do contrato tirasse fotos, mas que o valor do serviço foi usado para compra de imóveis. O caso foi relatado às 29ª e 31ª Promotorias de Justiça, dos promotores Adriano Lobo Rezende e Humberto Lapa Ferri, respectivamente, que identificaram a falta de serviços de cascalhamento na região do contrato, e assim, forte indício de corrupção. Para as buscas e apreensões de ontem, pedido foi feito à 5ª Vara Criminal, que negou. O caso então foi levado à 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça e o desembargador Zaloar Murat Martins de Souza acatou a pretensão ministerial em 1º de junho, liberando a operação. Além da AL dos Santos LTDA, também venceu licitação para outras regiões que não receberam cascalhamento, a empresa Engenex Construções, que também foi alvo da Cascalhos de Areia. Na mesma licitação, a Engenex ganhou dois lotes, mas nas regiões do Imbirussu e Lagoa. Na primeira, o contrato de R$ 2.331.229,37 já está em R$ 14.542.150,59 e na segunda, de R$ 3.448.107,58 saltou para R$ 22.631.181,87. A ação de busca e apreensão não detalha em qual dos contratos haveria suspeita de desvio. Alvos – Na lista de empreiteiros investigados e que tiveram casas e empresas vistoriadas, bem como celulares apreendidos estão André dos Santos, proprietário das empresas AL dos Santos e Cia e ALS Transportes; Mamed Dib Rahim, que representa a Engenex, assim como Edcarlos Jesus da Silva (sócio dele na MS Brasil Comércio e Serviços), Paulo Henrique Silva Maciel e Ariel Dittmar Raghiant. Pela mesma empreiteira foi ainda alvo de busca e apreensão, a funcionária Patrícia da Silva Leite. Outro empreiteiro investigado é Adir Paulino Fernandes, dono da empresa JR Comércio e Serviços. Servidores - Ainda são investigados o engenheiro civil Mehdi Talayeh, que foi admitido pelo município com cargo de chefia na Sisep, em janeiro de 2021. Ele recebe salário de R$ 9.651,64, conforme consta no Portal da Transparência da Prefeitura de Campo Grande. Outro alvo é Edivaldo Aquino Pereira, que trabalha como gestor de projetos, foi contratado também também em janeiro de 2021, com salário de R$ 8.984,59. Outros dois servidores da área técnica estão na lista: Erik Antônio Valadão Ferreira de Paula, que tem salário de R$ 3.380,00 desde fevereiro de 2021, e Fernando de Souza Oliveira, que trabalhava como assistente administrativo, com remuneração de R$ 6.387,03, ao menos até dezembro do ano passado. Fernando é funcionário público municipal há mais tempo, desde 2012, mas o último holerite dele divulgado no Portal da Transparência é referente ao pagamento feito em janeiro deste ano. Depois disso, ele recebeu valores bem baixos – R$ 462,96 e R$ R$ 39,70, em março e abril, respectivamente. No mês 3, o saldo dele com a prefeitura, após os descontos obrigatórios, ficou até negativo em R$ 6 .542,17. Por fim, foi alvo o ex-secretário da pasta na época de Marquinhos, Rudi Fiorese, cujo salário era de R$ 11 .619,70. A apuração é sobre crimes de peculato, corrupção, fraude à licitação e lavagem de dinheiro, relativos a contratos para manutenção de vias não pavimentadas e locação de maquinário de veículos.