Sobre a importância de fazer as pazes com o envelhecimento...
Nos últimos dias, os resultados do Censo vêm chamando a atenção das pessoas e ganhando destaque nos noticiários em conversas cotidianas. Dentre os diversos pontos do relatório, um deles, apesar de imaginado, agora encontra-se escancarado diante de nós: cada vez mais, o Brasil vem se tornando um país de velhos. Sim, velhos. Um termo em desuso, muitas vezes substituído por “melhor idade”, “terceira idade”, “coroa” e outros adjetivos que revelam o quanto ainda temos medo dessa etapa da vida e estamos despreparados para viver o nosso envelhecimento como um fenômeno da nossa natureza. Se por um lado, ficamos felizes diante da possibilidade de viver mais tempo e desfrutar de experiências que nos trazem a longevidade, de outro, passamos a travar uma luta constante e impotente contra o espelho e contra nossos próprios corpos. Segundo alguns estudos, a insatisfação com a imagem corporal, se acentua à medida que a idade também aumenta, gerando sentimentos de tristeza, isolamento social, podendo chegar a casos mais graves, como a depressão. De outro lado, ainda hoje, acreditamos que a juventude é sinônimo de beleza, agilidade, saúde e bem-estar. Ao longo das últimas décadas, acreditamos que o “novo” é sempre indicativo de algo melhor, com melhor desempenho e, portanto, mais valorizado. Já o velho é associado, por muitos, como algo ultrapassado, em desuso e adoecido, gerando uma verdadeira luta para ser distanciado de nós. Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de países que mais realizam cirurgias com finalidades estéticas, ocupando grande parte do orçamento dos brasileiros. Basta olhar ao seu redor para perceber o quanto somos bombardeados por propagandas e produtos que garantem eliminar os sinais do envelhecimento ou apagar as marcas do tempo, como se a idade fosse uma grande inimiga a ser combatida por meio de “armas” como a Harmonização facial, preenchimentos, peelings, implantes capilares, Botox, dentre muitas outras possibilidades. Essa pressão se torna ainda maior entre as mulheres que também são identificadas como aquelas que mais recorrem aos procedimentos estéticos rejuvenescedores, além de outras estratégias para parecer “mais jovens”. Em um outro estudo, publicado pelo Instituto Qualibest, revelou que 9 em cada 10 brasileiros tem medo de envelhecer. Diante desse cenário há, pelo menos dois caminhos possíveis, o primeiro é seguir na luta constante e infinita pelos novos tratamentos e pelos procedimentos rejuvenescedores mais avançados e com resultados, supostamente mais rápidos e eficazes e que escondam melhor os sinais do envelhecimento. Esse caminho é semelhante ao dos antigos que deram suas vidas em busca da Fonte da Juventude eterna ou dos adultos que, mesmo após os 30 anos seguem vivendo uma eterna vida de adolescentes, seja no seu modo de vestir, mas sobretudo no modo como se relacionam com os outros e consigo. O segundo caminho é assustador para a maioria de nós: reconhecer que somos seres de ciclos e fases, que estamos envelhecendo desde o nosso nascimento. É necessário abrir espaço em nós para recebermos a velhice como uma amiga, uma companheira ou mais uma etapa da vida, digna de ser vivida e capaz de nos trazer valiosas experiências. Isso não significa deixar de lado o autocuidado ou abrir mão daquilo que nos faz sentir bonitos e atraentes, mas sim de uma abertura à aceitação das nossas transformações e da nossa própria humanidade. Olhar a velhice de frente, talvez nos ensine a sermos gratos pelas experiências que nos agregaram tanta sabedoria de vida, mas também a abandonar hábitos e crenças que já ficaram no passado e que carregamos sem saber muito bem o por quê. Aceitar nosso envelhecimento pode ser um primeiro importante passo para uma velhice mais saudável e com maior qualidade de vida. Aceitar a velhice não é uma tarefa fácil, mas parece ser um caminho possível e que conduz à autenticidade. Como nos ensinou Sêneca, um importante filósofo do primeiro século cristão, “Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la”. (*) Alberto Mesaque Martins é Psicólogo, Doutor em Psicologia. Professor da UFMS.