'Assumindo’ assassinato, primeiro julgado da Villa viu liberdade reinar
Quando Campo Grande ainda levava Villa no nome, em 1912, o primeiro caso a ir para júri acabou com o suposto assassino vendo a liberdade falar mais alto. Na época, os depoimentos foram todos na base do “eu ouvi” e, no fim das contas, um esfaqueamento que acabou em morte entrou para história do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). Todo escrito à mão, o processo que começou em 1909 tinha como réu um homem chamado João Bernardes de Freitas, que teria matado Francisco Velloso com golpes de faca no dia 6 de junho daquele ano. Se desenvolvendo, Campo Grande era comarca e a “tranquilidade” da cidade permitia que os vizinhos contassem seus depoimentos na base do ouvido. Conforme o relatório da polícia, o crime aconteceu na “Rua Principal” da cidade, o que indica, na época, a 26 de Agosto. Narrando sobre o que aconteceu, a primeira pessoa a ser ouvida foi a mãe de João, Maria Claudina de Freitas, que contou ter fugido para um “brejo” quando viu que algo complicado estava acontecendo. “No dia, seu filho teria comparecido à residência acompanhado de José Rosa Pires e de Francisco Velloso, o qual chegou logo em seguida. Maria ouviu Velloso dizer a José Rosa Pires que hoje ‘eu estou por sua ou por minha conta’. Disse que teria iniciado uma briga entre os três e que nesse momento correu do local”, diz o processo. E, quando a mãe voltou, o corpo já estava no chão de sua casa. Tomando os vizinhos como testemunhas, a polícia recebeu vários “eu ouvi” como provas. Um homem, identificado como Juvenal, disse que estava nos Correios e ouviu um tiro, com o crime sendo repassado como fofoca, outro homem se bastou a dizer “sabe que o João Bernardo fez um serviço?”. Outra testemunha, Antonio Francisco de Almeida, contou que estava na igreja e que ouviu um tiro. Já Antonio Marcello de Almeida, outro vizinho, explicou à polícia que não só ouviu o tiro, mas também uma confissão de João Bernardes, “quando ambos ouviram um tiro, saíram na porta da casa e viram João Bernardo com uma faca gritando ‘matei Velloso’”. Em todos os casos, as testemunhas reforçaram que o homem, por vezes chamado de Bernardes e também Bernardo, “era homem de má recomendação”. Na época, a defesa do homem informou que as testemunhas não eram válidas justamente pelas provas de ouvidos e que as suspeitas também eram direcionadas para outras pessoas. Identificando João como um homem pobre, o advogado defendeu que o verdadeiro criminoso seria José Rosa Pires, um “homem rico e protegido”. Sobre o réu ter assumido o assassinato na rua ao dizer que tinha matado Velloso, o advogado também disse que o que ocorreu foi uma confusão. Na dinâmica contada pela defesa, Velloso teria disparado um tiro contra José e, enquanto João tentava o desarmar, José esfaqueou o homem. “Quando João Bernardo viu Velloso cambaleando, gritou ‘mataste Velloso’ e não ‘matei’, e este grito foi ouvido a 50 metros de distância. No fim das contas, o caso foi a júri popular com 8 jurados e, após João negar o crime, a decisão por cinco votos foi pela liberdade do homem. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) . Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News .