Carta-Saudade

Oi mãe. Tentei começar o dia, mas não consegui até que te escrevesse.  Hoje o calendário marcou 10 anos sem teu abraço.  O dia tá quente, lento e tô com um nó na garganta.  Eu tenho feito muita coisa todos os dias, e tenho organizado possíveis descansos, mas nem sempre são realizados com sucesso.  Tenho ouvido críticas de todos os lados o tempo inteiro, mas também tenho encontrado pessoas amáveis que veem minha potência e me convidam a caminhar.  Viver cansa um pouco, mas eu gosto bastante.  Aqui seguem fazendo atrocidades, matando o mundo, as pessoas, por mesquinharias e mediocridades, mas ainda tem gente que acredita no amor, e luta para que a vida seja possível para todo mundo que vive por aqui.  Eu queria aquele caldinho de fubá com couve e alho que você fazia quando eu tava fraca. E me dizia que eu era sensível demais, que não devia me envolver tanto com o mundo, com os outros ou comigo mesma.  Mas eu só sei ser assim, e sei o preço que pago por isso.  E sei que você também pagava um preço alto, por ter o coração doce, por ser poesia, por ser força, por ser bastante parecida comigo também, você é uma das pessoas mais sensíveis que já conheci.  Tenho olhado suas fotos, hoje acho que você era uma mulher super fashion e elegante.  Desculpe por achar na minha adolescência que você era cafona. Cafona era eu kkkkk.  E ainda sou um pouco.  Tenho tentado me reorganizar diante do espelho e diante do mundo. Eu sinto tanto a sua falta. Você sempre vai ser minha estrela preferida.  Ainda te escrevo na esperança de ser lida por você no Instagram do céu, ou no multiverso, ou só dentro de mim mesmo. Ligia Prieto