Comunidade no Três Barras se reúne para decidir futuro de cemitério

Moradores do Três Barras, comunidade rural de Campo Grande localizada às margens da MS-040, se reuniram na manhã desta quarta-feira (1) para discutir o destino do cemitério que também leva o nome do local.  A comoção foi causada pela hipótese de que o lugar poderia ser fechado pela prefeitura de Campo Grande, por estar com documentação irregular e ter corpos sepultados diretamente na terra, ação proibida pela Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).   Apesar de incorreto, a forma de enterrar diretamente no solo é tão antiga quanto o cemitério, que existe desde a década de 50 e reúne em torno de 260 jazigos. O assunto é tão importante para os moradores que a chuva não impediu que 88 pessoas estivessem presentes na entrada da área.  A Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande) e Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), pastas responsáveis pelo assunto, deram prazo de 15 dias para que a comunidade solucione o impasse quanto à documentação e afins. Entretanto, afirmam que não desejam o fechamento do cemitério e que os sepultamentos podem ser feitos normalmente, pois o lugar não está interditado.  Ao Campo Grande News , uma das 43 pessoas que construíram o local, Alexandre Bento Martins, de 95 anos, disse que inicialmente o lugar se chamava Cemitério do Rabicho e que foi registrado na prefeitura por José Gonçalves. O homem ajudou a arrancar árvores, construir muros e fazer algumas covas, ressalta que é o único vivo para contar a história. Apesar da idade, a memória da época mexe com os sentimentos do aposentado, que se exalta com a hipótese de fechamento.  “Aqui tem enterrado meu pai, mãe, esposa, irmão, meu filho, minha mãe e eu vou ser enterrado aqui também. Tá já tá marcado a cova daqui. Dos 43 que estavam arrancando as árvores aqui só tem eu vivo. Quem não morreu mudou”.  Nilson Antônio da Silva, neto de um dos fundadores do cemitério (Antônio Manuel da Silva) e um dos primeiros túmulos no lugar, explicou que a comunidade está disposta a regularizar o local pois há valor sentimental e histórico.  “A gente está disposto a fazer essa regulamentação. Eu, por exemplo,a minha mãe, meus familiares, todos querem ser enterrados aqui. Porque é da família isso. Meus avós, tios, tias, primos, todos estão aqui, então a gente quer permanecer usando isso aqui”.  Sobre o fechamento, Nilson acredita ter acontecido um mal-entendido, pois, segundo ele, nunca houve interesse da prefeitura pelo imóvel. Apesar da declaração, ele assume que há necessidade de regularizar o lugar.  “Eu espero que isso seja esclarecido. A Prefeitura nunca participou, nunca fez nenhum investimento, nunca participou disso aqui, agora vai querer fechar, não é assim, porque a notícia que a gente teve é que eles fariam o fechamento e fechamento nós não vamos permitir”.  Sentimento -  Emotiva sobre o futuro do local, Nerci de Almeida Lima, de 72 anos espera que o impasse seja solucionado o mais rápido possível. No cemitério estão enterrados o pai, mãe, filho e o marido da aposentada. Ao todo são umas 25 pessoas da família sepultadas no Três Barras. “Espero que a gente faça um negócio bem feito, pra gente pagar uma taxa de manutenção. Vamos fazer o túmulo, tem muitos meus que são direto na terra, mas aí a gente vê depois quando fizer pra arrumar. Tem que fazer alguma coisa, mas não tirar nada daqui”. Jaine da Silva ,76 anos, tem quase 50 familiares enterrados. Nascido na região, o homem tem tios, tias e avós, mãe sepultados. “A gente se criou praticamente nesta região”. Hélio Vicente Pereira, de 68, membro da Associação dos Amigos do Cemitério Três Barras, como o grupo pretende se chamar, disse que era comum sepultamentos feitos diretos no solo na década de 50 e que as gavetas surgiram depois.  “Logicamente que naquela época se enterravam na terra crua. Não tinha esse negócio de fazer gameta. Agora, por exemplo, meu pai, meus tios que já tão aqui eles tão enterrados já nas gavetas, até porque aqui é uma terra de areia quando você cava ela desbarranca, então tem que fazer”.  Hélio reafirma que a partir desta quarta-feira o grupo vai mexer com a documentação para regularizar o local. Ele acredita que há possibilidade do município declarar interesse em gerir o cemitério, mas que a decisão cabe aos familiares.  Reunião -  O vereador Ademar Vieira Júnior, conhecido como “Júnior Coringa” esteve presente para coordenar a reunião nesta quarta. Na ocasião, foi criada uma comissão composta por sete pessoas da comunidade, que devem discutir o assunto com a gestão municipal na próxima semana. A reunião ainda não tem data.  De acordo Edna de Castro Coutinho, auditora fiscal da Vigilância Sanitária Municipal; Denise Lima, fiscal da agência municipal de regulação e Sérgio Melo, auditor da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que também estiveram no local, as pastas não sabiam da existência do cemitério, tampouco quem é o responsável pelo local.  “A única coisa que chegou pra gente  foi através de denúncia e de uma reportagem, que dizia que tinha sido violado alguns túmulos ossadas roubadas. A gente veio pra entender. Entender qual era o contexto. Eles [moradores] vão definir várias situações dentre eles primeiro. Se a associação quer que seja privado, se eles querem que seja público, eles vão definir muitas possibilidades de ser público e ficar a cargo da prefeitura. Mas isso tem que ver com a prefeitura se ela tem interesse”, disse Denise Lima.  Edna de Castro ressaltou ao final da reunião que foi um encontro favorável. “Já criaram uma comissão que vai junto aos órgãos públicos buscar a regularização. Caso se mantenham privado a prefeitura atuaria apenas na fiscalização.  “A gente vai fiscalizar como os outros cemitérios e sempre vai se reportar à associação se ela for responsável. Então assim, quinze dias é pra descobrir quem é o responsável disso aqui. Ninguém é de ninguém, é todo mundo. Por mais que eles falem que está humanizado, tá por dentro tá irregular. Então a proposta da prefeitura primeiro é regularizar. De maneira alguma e fechar, essa cogitação que nunca existiu. O que a gente precisa é tornar ele um cemitério regular”.  História -  O cemitério fica a 19km da região central da cidade. São 11,4 km, partindo da saída para o município de Três Lagoa até o viaduto localizado na MS-040. Para chegar é preciso trafegar mais 5,4 km, após o trecho. Por último, percorrer mais 2,2 km em estrada de terra para chegar à entrada do local.  Alexandre Bento relembra a criação do cemitério. A história se confunde entre os netos dos fundadores.  O local era uma fazenda que foi doada parte para comunidade para que fosse feito um cemitério local. Alexandre narra que Antônio Rocha deu uma hectare de terra para e que José Gonçalves foi à prefeitura registrar. “Quem fez o muro foi eu. Zé Bernardo trazia as pedra, esse muro aqui, pode cavar ao redor dele todinho tem um metro de fundura. Feito na pedra. Nós fizemos para os tatu não cavarem, para não entrar".  Agora os moradores vão decidir se pretendem deixar a manutenção à cargo da prefeitura, caso ela aceite, ou se vão manter o local privado.  Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News .