Símbolo de resistência desde 2017, Laricas Cultural se despede
Foi por meio de um vídeo curto, compartilhado no Instagram, no dia 11 de novembro, que Luanna Peralta anunciou o encerramento do espaço físico do Laricas Cultural. Nas imagens, a criadora do projeto faz um breve agradecimento a todos que participaram do ciclo que se finaliza. “Eu encerro esse ciclo com grandiosidade e com a certeza do quanto que ele foi importante para a história para essa cidade. O quanto ele foi muito importante para os artistas que se destacam na cena cultural independente de Campo Grande. E agradecer especialmente ao Junior e a minha família que sempre me apoiou e sempre apoiou esse projeto. Agradecer a vocês que de alguma maneira sempre fizeram parte como um todo”, apesar de se esforçar, em meio ao discurso Luanna não conseguiu contolar as lágrimas. Em meio a tanta emoção, Luanna diz que apesar da dor que o encerramento gera nela, a ideia foi trabalhada por um tempo. Certa da decisão tomada, a idealizadora do Laricas Cultural ainda afirma: “sei que toda essa tristeza vai passar na verdade e que novas coisas vão surgir”. Para o Lado B , Luanna conta ser difícil resumir a história do Laricas Cultural por conter “muita coisa”. O primeiro espaço físico foi aberto em abril de 2017, em frente a Morada dos baís, e recebia outro nome ‘Vagão da Lu’. Foi um desafio e tanto, eu era concursada da prefeitura e o pai dos meus filhos trabalhava no privado. Manter os dois trabalhos foi um desafio durante 2 anos, mas o desafio maior era manter o vagão da Lú no meio da Cracolândia. Era difícil, mas foi um aprendizado, conheci a história de vida de muitos andarilhos. Ali é surpreendente e triste ao mesmo tempo”, relembra. Após dois anos o espaço cultural mudou de endereço, junto a Luanna pediu exoneração do cargo que exercia. Se dedicando totalmente ao Laricas Cultural, o novo prédio foi inaugurado em fevereiro de 2020. Pouco depois a proprietária do espaço recebeu o “balde de água fria”. “O decreto sobre a pandemia veio em 17/03/2020 foi um baque muito grande. E manter o espaço foi resistência pura, fiz marmitex, ovo de páscoa, faxina, o que foi preciso para sobreviver e manter aquele sonho acesso. Peguei Covid, fiquei internada 10 dias, a beira da morte. Tive 70% do pulmão comprometido. Fui acoplada e nesse momento pude ver o quanto o projeto era forte, o quanto a galera queria que ele existisse, tive um apoio gigante”, contou. Sem receber apoio governamental, Luanna diz que há quase sete anos vive de resistência junto aos seus clientes e amigos. Diante de tanta história e amizades construídas ao longo desses anos, a empresária relata estar recebendo muitas mensagens de carinho. Toda despedida gera dor, ainda estou sofrendo, foi muito trabalho, muita dedicação. Abrimos mão de muita coisa até aqui, meu conforto é saber o quanto o espaço Laricas Cultural pôde entrar na vida de muitas pessoas e receber mensagem de carinho, de apoio , de reconhecimento é gratificante. O Laricas acaba com espaço físico, mas as produções continuam por aí”, garante. A desistência, como é descrito o fechamento do espaço cultural, veio de pois de sofrer muitas perseguições, contou Luanna. “Fui perseguida por muito tempo, pela polícia, pela vizinha, respondo 3 processos, e dia 10/10 sofri uma opressão policial muito grave, séria e traumática para mim e minha família, esse foi o ápice de tudo. Ser tratada como criminosa apenas por fazer arte, por fomentar a cultura em uma cidade que não a coloca em primeiro plano, que não entende o quanto a arte é acolhedora, a arte resgata, liberta. Como diz a minha amiga e parceira Beca Rodrigues: ‘quem tem arte, tem tudo na vida’”, explicou. Próximos eventos - Antes de o espaço físico feche as portas, ainda há dois eventos marcados no Laricas Cultural. Um deles é a edição de despedida do torneio de bozó, que acontecerá neste sábado (18). Dessa vez o torneio terá dupla premiação, R$ 200 em espécie e mais R$ 100 de consumação. Para participar é preciso se inscrever previamente. O fechamento do ciclo, irá ocorrer no dia 8 de dezembro, quando Luanna fará um evento de encerramento. “Esperamos poder celebrar tudo que conquistamos até aqui. Espero receber muita gente que sempre apoiou o Laricas, que sempre acreditou nesse projeto de arte e Cultura tão lindo! Queremos encerrar como sempre foi, muita arte, exposição, intervenção, música poesia, será o ‘Sarau a arte não para’”, conta. Apesar do fim do Laricas Cultural, Luanna ainda estará trabalhando com os eventos culturais. O próximo foco dela é a Feira Ziriguidum, um projeto criado por ela ainda em 2014. Após 10 edições realizadas, neste ano a feira retornou ao formato de feira cultural e de economia criativa. A Feira Ziriguidum acontece todo 1°sábado do mês, na praça do preto velho, das 16h às 22h. Ajuda - Com dívidas de cerca de R$ 12 mil para quitar antes de entregar o imóvel locado para o proprietário, Luanna criou uma vaquinha para que os seus apoiadores possam ajudá-la. A doação de qualquer valor pode ser realizada através da chave Pix: (67) 98151-5511.