Paraíso sem água: Barra do Jacuípe fica até dez dias sem abastecimento no Verão
Aumento da demanda de veranistas e falta de planejamento estão entre as causas
Todo Verão é assim em Barra do Jacuípe: as casas, pousadas, restaurantes e bares ficam cheios enquanto as caixas d´água se esvaziam. E não é por apenas uma hora ou duas, uma interrupção momentânea no fornecimento. Na casa de André Souza, 49 anos, que trabalha com serviços gerais, o fornecimento de água foi interrompido por 10 dias no final de dezembro. "É assim, no verão a gente fica dias sem água. Não dá para lavar roupa, fazer comida e nem tomar banho".
O médico veterinário, Felipe Trancoso, 37 anos, tem uma casa dentro de um condomínio em Barra do Jacuípe e passou por falta d’água desde dia 31 de dezembro. No local, o abastecimento não chegou a ser interrompido por completo todos os dias, apenas entre 4 e 8 de janeiro, tempo mais do que suficiente para gerar transtornos.
“Geralmente em datas festivas tem essas faltas, mas no final do ano é certeiro. Ela vai e volta. No ano novo ela chegou, mas veio fraca e não deu para encher o tanque. Já no dia 2 tivemos que tirar a água da piscina para tomar banho, porque não caiu nada”, relata Felipe. Ainda segundo ele, o abastecimento ainda não foi normalizado, mas houve uma distribuição considerável nesta terça-feira (10).
Um outro morador de Jacuípe, que prefere não se identificar, traz o mesmo relato. Na casa dele faltou água por três dias na última semana. O que o deixa preocupado já que ele aluga sua residência para veraneio. "No ano novo ficou sem água. Agora, eles disseram que iam interromper por um dia. Passaram três e nada aconteceu. Se fica sem água é prejuízo para mim, porque no contrato de aluguel eu me comprometo a fornecer [água aos inquilinos]", explica ele, afirmando que já fez diversas reclamações junto à Embasa.
Sobre a falta de água da semana passada em Barra do Jacuípe, a Embasa explicou que se trata de uma situação pontual. "Devido a um problema eletromecânico em um dos poços que abastecem o sistema do Canto dos Pássaros e Jordão, o fornecimento de água vem ocorrendo com oferta reduzida desde a quarta-feira (4)", informa a empresa, em nota. Na sexta (6), np entanto, moradores ainda relatavam a falta de água.
A empresa confirmou também problemas de abastecimento em Arembepe, Jauá e Abrantes, todos distritos de Camaçari, assim como Barra do Jacuípe, ressaltando que, diferente do que os moradores dizem, em nenhum desses casos houve interrupção completa do fornecimento, mas sim uma redução na vazão.
Onde é pior
Se nas áreas dos condomínios falta água por três dias, nos bairros mais pobres de Barra do Jacuípe a situação é muito pior. Em vez de dois ou três dias, a ausência de água supera os 10 dias. Como solução, os moradores precisam se virar para garantir o mínimo.
"Os locais mais periféricos são os que mais sofrem. Na minha [casa] faltou água 10 dias, mas tem vizinho que diz que foi mais tempo na casa deles. A gente fica dependendo de comprar carro-pipa e da ajuda de quem tem poço artesiano. Falamos com a Embasa e nunca tem resposta", reclama André Souza.
Na casa da comerciante Tatiane Mota, 45, a situação é parecida. Ela reside no bairro conhecido como 'Minha Casa, Minha Vida', que apresenta constantes problemas no que diz respeito à falta de água durante o Verão.
"No meu bairro, na época do verão, falta direto. Tem um mês já de vários momentos em que leva três ou quatro dias sem cair água. E não tem resposta da Embasa. Quando volta, não é para todo mundo. Pode ter aqui, mas na rua de cima, não tem e vice-versa", conta.
Ela diz, ainda, que não é uma situação do ano inteiro, mas que ocorre sempre com a chegada dos turistas. E questiona porquê o problema não chega aos bairros considerados nobres.
"Quando fica assim, não dá para fazer comida e a casa fica uma nojeira. É uma questão de saúde. Se não tem água, a gente não tem nada. A verdade é essa, nem higiene. E a gente não entende porquê nos bairros de condomínio tem", fala Tatiane.
Maior demanda explica a escassez nos tanques
A região do Litoral Norte tem momentos de alta procura e demanda por água, mas a infraestrutura não está dimensionada para atender esses picos, analisa Ernesto Carvalho, doutor em Urbanismo e professor da Unijorge.
"É uma questão de planejamento. Uma coisa é o que a infraestrutura de um distrito foi pensada e instalada e a outra é o que a procura de mercado tem levado para lá. Principalmente, em determinados momentos do ano. Não é de hoje que isso acontece. Quando há um pico de procura, a rede não dá conta", explica Carvalho.
"Nesses casos, além do impacto no aumento da demanda, ocasionado pela população flutuante excedente dos municípios de Camaçari e Mata de São João, pode haver algum problema pontual na rede distribuidora", acrescenta.
O professor diz ainda que toda rede é pensada a partir de um plano vetor que depende do porte do município. No verão, o consumo de água cresce entre 20% e 30%, o que cria uma situação ainda mais difícil.
"O município deveria saber do problema que pode impactar até na saúde pública. É preciso reunião de planejamento para pensar como confrontar essa demanda. Não é só aumentar a rede de fornecimento e infraestrutura. É algo que vai também pela conscientização da população".
Como Carvalho aponta, a falta de água no verão não está só em Jacuípe, mas também em Arembepe, Guarajuba e Itacimirim, todos distritos de Camaçari. Além também de Praia do Forte, Imbassaí, Diogo e Costa do Sauípe, que pertencem a Mata de São João. Esses distritos de Camaçari e Praia do Forte estão na região chamada de Litoral Norte baiano.
As duas prefeituras foram procuradas, no domingo (08), para falar do problema e do que fazem para enfrenta-lo. A gestão municipal de Camaçari apontou que a responsável pelo fornecimento de água é a Embasa, sem dizer se dialoga com a empresa para resolver a situação. Já a prefeitura de Mata de São João disse que no último dia 31 de dezembro recebeu alerta sobre o desabastecimento de água na comunidade de Açuzinho e entorno. "A partir da denúncia, notificamos a empresa e estamos no aguardo da resposta", escreveu, em nota. No entanto, não explicou o que faz para resolver o problema de forma geral.
Procuradas novamente, nesta terça-feira (10), a prefeitura de Mata de São João reiterou o que havia dito no domingo. Já a gestão de Camaçari, até o fechamento da matéria, não havia respondido sobre a regularização do abastecimento de água em Barra do Jacuípe.
A Embasa confirma a percepção dos moradores de que falta mais água por conta da alta demanda do Verão e cita também problemas técnicos. A empresa ainda reforça que os canais para reclamações são o teleatendimento 0800 0555 195, o WhatsApp 71 99717-0999 e a Agência Virtual, no site: www.embasa.ba.gov.br.
*Colaborou Emilly Oliveira