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O lugar de Mestre Didi na arte nacional  

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 Expressivo conjunto de esculturas do artista baiano foi adquirido pelo Instituto Inhotim, em Minas Gerais

 A exposição reúne 26 trabalhos de Mestre Didi

Mestre Didi (1917-2013) tem esculturas em acervo de importantes museus, no Brasil e no exterior. Em Salvador, sua terra natal, também pode ser visto a céu aberto na Praia da Paciência, no Rio Vermelho, ou no Parque das Esculturas, no Solar do Unhão. Mas a chance de apreciar um conjunto expressivo de sua obra é pouca e depende de exposições temporárias e especiais, como a última que aconteceu no MAM, em 2018. 

Por isso, a chegada de Deoscóredes Maximiliano dos Santos ao Instituto Inhotim, em Minas Gerais, ganha um significado especial. Desde o dia 27 de maio, o artista plástico, escritor e sacerdote do candomblé ganhou abrigo no maior museu de arte contemporânea do país. A Galeria Praça, uma das mais visitadas do local, recebe a mostra Mestre Didi - Os Iniciados no Mistério não Morrem, com 26 das 29 obras do baiano adquiridas pela instituição de coleções particulares.

A iniciativa faz parte de um protejo maior, batizado de Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, que atualmente ocupa as quatro galerias temporárias de Inhotim e segundo a instituição “transformou” a programação artística de lá. A transformação ou empretecimento, para usarmos uma palavra muito recorrente atualmente, propõe um diálogo com artistas negros de diferentes gerações, iniciado em 2021, a partir da obra de Abdias Nascimento (1914-2011).

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As obras são feitas em nervura de palmeira, couro pintado, búzios e contas (Foto: Ícaro Moreno/Divulgação)

 

História branca

Curador convidado, o gaúcho Igor Simões destaca a importância de reposicionar o trabalho de Mestre Didi dentro de uma tradição modernista e afro-diásporica. “Nunca houve um silenciamento em relação a ele, o que houve foi uma escuta seletiva dentro de um projeto de Brasil estruturalmente racista. Então, o mistério do Mestre Didi aqui é retirar essa escuta seletiva e posicioná-lo como o artista que ele é, que não cabe em uma definição de arte brasileira, religiosa ou popular”, afirma.

Segundo Igor, essas classificações podem ser colocadas na conta do círculo artístico branco nacional – formado por historiadores, críticos, curadores e marchands. È ele que acaba determinando a entrada ou não de um artista em acervos e mostras.   

O título da mostra foi retirado de uma cantiga entoada durante as cerimônias fúnebres de um Ojé - sacerdote da tradição Egungun - seguida por Mestre Didi. Esse diálogo com o sagrado permeia toda a trajetória do artista, e é expresso nas obras feitas em materiais caros ao candomblé na tradição iorubá, como fibras do dendezeiro, búzios, contas, sementes e tiras de couro. 

“Estas peças são obras de arte poética de alguém formado do universo religioso, são esculturas tridimensionais, feitas com um domínio técnico muito preciso, não são objetos de culto”, reforça Igor. Ele chama atenção para a disposição das peças, em forma circular, em grupos que reúnem representações de pássaros, serpentes e ferramentas. 

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A videoarte Ijó Mimó (2019), de Ayrson Heráclito, está na exposição (Foto: Ícaro Moreno/Divulgação)

Diálogos possíveis

A construção da mostra foi feita em diálogo com integrantes do Ilê Axé Asipá. A equipe de curadoria esteve em Salvador para realizar a pesquisa e representantes do terreiro fundado por Mestre Didi estavam na abertura. A trilha sonora, por exemplo, é assinada por Edivaldo Bolagi, Oloyê e Omo Xangô do terreiro, que avalia que  “a exposição propõe essa transversalidade entre as várias vertentes do Mestre Didi”. Além do artista, o escritor e o religioso .
 
Edivaldo destaca, por exemplo, o lado educador de Desoscóredes e seu esforço para criar mecanismos de formação na comunidade, sobretudo com as crianças. Outro aspecto, completa, é seu interesse cultural nos afoxés. Segundo Bolangi, Mestre Didi criou o Afoxé Pai Burokô e esteve presente no primeiro ano do Filhos de Gandhy, em 1945. A trilha sonora traz trechos de canções  entoadas por ele.   

Todas essas pontas e trocas com outros artistas estão em documentos e fotos que complementam a exposição. E também em alguns trabalhos de outros artistas, como um totem de Rubem Valentim (1922-1991) e a videoarte Ijó Mimó (2019), de Ayrson Heráclito, com uma performance de dança de Negrizu e Inaycira Falcão, filha de Mestre Didi. 

“O Didi foi uma grande referência para minha trajetória de artista, de  alguém que ressignificou o sagrado. Quando começo a trabalhar com o dendê foi depois de ouvi-lo falar sobre a importância da comunicação, de Exu, de ter pertencimento”, afirmou Ayrson durante a vernissage. 

Ele detalha que, a partir das primeiras peças, que reproduzem objetos de culto, Mestre Didi começou a construir uma fabulação e uma arte escultória muito singulares. “O Brasil precisa se voltar para este universo mítico. Por que não estudá-lo?”, questiona, acrescentando que ter as obras na coleção do Inhotim é um grande passo. 

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Mônica Ventura assina instalação em Inhotim que integra o Programação Abdias Nascimento: ocupação de espaços (Foto: Ícaro Moreno/Divulgação) 

Outro diálogo possível é com a obra A Noite Suspensa ou o que Posso Aprender com o Silêncio, da paulista Mônica Ventura, que ocupa o vão central da Galeria Praça e foi inaugurada no mesmo dia. Para executar o trabalho, uma estrutura de 4m de altura e 9 de largura que usa palha e terra da região , ela conta que foi atrás de sua ancestralidade, buscando referências em culturas do Togo e do Golfo do Benin. “Mestre Didi e Abdias Nascimento têm muito a nos ensinar no campo da imaginação constitutiva”, diz.  

Com sua atuação de excelência em múltiplas frentes, Mestre Didi aprofunda esse diálogo tardio e necessário. Não por acaso, a concorrida abertura da mostra, no sábado passado, contou com muitos artistas e representantes da comunidade negra de Belo Horizonte. Como a Makota Kidoialê, do quilombo Manzo Ngenzo Kaiango, que entende o programa como uma espécie de “reparação” e “reocupação” da identidade territorial negra local. “Essa obra fala de resistência e pertencimento”, resumiu.  A jornalista viajou a convite do Instituto Inhotim 

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Mãe Senhora, importante ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, era mãe biológica de Mestre Didi (Foto: Ícaro Moreno/Divulgação)

Livro conta história do Ilê Asipá

Fundado em 1980 por Mestre Didi, o Ilê Asipá foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) em 2017, ano em que o religioso completou centenário de nascimento. Apesar da pouca idade da casa, localizada na Rua da Gratidão, nº 8, em Piatã, seu guardião tinha uma longa vivência no candomblé, pois fora iniciado aos 8 anos  por sua mãe, a ialorixá Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, a terceira ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá.  

Um pouco da trajetória do templo está contada no livro Ilê Asipá – Um Terreiro na História, lançado sábado (3) no local. Publicado pela Edufba, o livro é fruto da experiência, ao longo de décadas, do professor Marco Aurélio Luz na comunidade religiosa, na qual ocupa o importante posto de elebogi, e de seus estudos no âmbito da cultura africano-brasileira. 

A Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Asipá surgiu após uma viagem do sacerdote à África em 1966, para visitar o reino de Ketu, que se espalha por Nigéria, Benin e Togo.  Contratado pela Unesco, realizou pesquisas sobre a relação do continente africano com a diáspora, que embasaram vários de seus livros.

Enquanto a maior parte dos terreiros cultua os orixás, o terreiro Ilê Asipá se apresenta de forma distinta, cultua principalmente os eguns - os ancestrais e a cultura afrodescendente. Atualmente, o alagba da casa é Genaldo Novaes.

O terreiro é formado por diversas casas e espaços de cerimônias destinadas  para o culto de eguns, principalmente o Baba Olokotun, considerado como o Olori Egun, o ancestral primordial da nação nagô. Os membros do terreiro não residem no lugar e, aos sábados, ou em dias de comemorações, se dirigem ao terreiro.
  

* A jornalista viajou a convite do Instituto Inhotim
 











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