A parceria de Lula e Boulos - sem pito - na Vila Soma
img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20220129130112_e957d79a7e3ff2818a778db90b85193a6562b409c2fc18d8043ab31a66bd82fb.jpg" width="610" height="380" hspace="5" /
Quem milita nos movimentos sociais de base conhece o que é prioridade na vida real das pessoas, diz Willian Souza
br clear="all"
Pela segunda vez em pouco mais de um ano, li um artigo no Portal 247 escrito pelo mesmo autor e sobre o mesmo tema: a regularização fundiária da Ocupação Vila Soma, hoje um bairro da cidade de Sumaré (SP) (aqui https://www.brasil247.com/blog/dalben-lula-boulos-e-a-vila-soma e aqui https://www.brasil247.com/blog/o-pito-de-lula-no-boulos). Dessa vez, publicado no último dia 18 de setembro com o título “O ‘pito’ de Lula em Boulos”, julguei conveniente enviar ao prestigiado portal este texto porque, outra vez citado nominalmente, me vi obrigado a repassar cuidadosamente alguns pontos abordados na coluna, os quais, receio, não se deram da forma como foram expostos, o que contribui para interpretações errôneas.O equívoco já começa pelo título. O autor afirma, mesmo entre aspas, que Lula deu bronca em Guilherme Boulos durante a discussão sobre qual seria a melhor solução para o conflito, dizendo ainda que o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), hoje o deputado federal mais votado do estado de São Paulo e uma das vozes mais atuantes do Congresso Nacional, se comportava de maneira “irracional”, apegado a “disputas ideológicas”. Nada poderia ser mais enganoso do que essa afirmação sobre Boulos.A reunião a que faz referência a coluna foi organizada por mim e aconteceu no dia 18 de outubro de 2017. O objetivo era tratar sobre a regularização fundiária da Vila Soma contando com o apoio e a medição de Lula, por isso o encontro foi realizado no instituto que leva seu nome, em São Paulo. Lula conhece bem a Vila Soma. Naquela altura, já havia visitado a Ocupação duas vezes, no ano anterior. A terceira visita aconteceu em maio do ano passado, às vésperas da campanha que o reconduziu à presidência da República (Dona Marisa Letícia não chegou a conhecer a Ocupação). Diferente do exposto, a reunião não “prometia ser tensa”. Em seu primeiro ano de mandato como prefeito de Sumaré, Luiz Dalben já havia visitado a Vila Soma e recebido uma comissão de moradores. O deputado estadual Dirceu Dalben, pai do prefeito, esteve presente nos dois momentos e ambos sempre demonstraram disposição em resolver a questão. Como vereador e representante das famílias na Câmara, eleito em 2016, eu mantinha produtivo diálogo com a Administração Municipal, avançando em conquistas para os ocupantes. Minha militância no movimento de moradia em Sumaré remonta há pelo menos duas décadas, e faço parte da coordenação da Vila Soma desde seu início, em junho de 2012 – não em 2002, nem ocorreu no governo de Dirceu Dalben quando prefeito, como apontado na coluna. Foi na Ocupação que conheci Guilherme Boulos e por quem passei a nutrir imediata admiração justamente por identificar nele qualidades completamente opostas às descritas na coluna. Qualidades e competências, inclusive, que o levaram a ser candidato à Presidência da República em 2018 e, depois, ao segundo turno nas eleições municipais em São Paulo. Quem milita nos movimentos sociais de base conhece o que é prioridade na vida real das pessoas. Me reuni inúmeras vezes com Boulos para traçar a melhor estratégia para resolver a questão da Vila Soma e defender a moradia digna para milhares de famílias sumareenses. Estivemos juntos em Sumaré, São Paulo e Brasília com diferentes autoridades, em diferentes esferas de governo e poder e testemunhei sua atuação e liderança, sempre pautado pelo diálogo e fielmente comprometido em garantir direitos sociais básicos negados as populações mais pobres. Por esse histórico que tantas vezes presenciei pessoalmente, afirmo com tranquilidade que Boulos jamais considerou submeter famílias sem-teto à sacrifícios desnecessários ou em favor de meras “disputas ideológicas”.Outros pontos da coluna poderiam ser abordados, mas tornariam este texto demasiado longo. Afora pormenores, o imprescindível aqui é que se faça justiça à reputação de Guilherme Boulos enquanto líder de um dos movimentos sociais mais necessários do Brasil, organizado em todo o país para exigir que a moradia seja tratada como um direito tal como previsto na Constituição, nunca confundido com um “menino mimado” e “birrento” que chega a reuniões com “cara feia”. Seis anos depois do encontro do prefeito de Sumaré com Lula e Boulos, sem que houvesse “pito” ou bronca do presidente, o Residencial Vila Soma se tornou um bairro regularizado. O processo de regularização fundiária e consolidação desta singular comunidade tem sido uma grande e enriquecedora jornada política e social, sem fórmulas mágicas e frases de efeito, mas construída pela coragem e mobilização das famílias, diálogo e compreensão do poder público, e (boa) vontade política dos atores envolvidos. Neste espaço, inédito para mim, quero registrar, em nome da Vila Soma, nossos agradecimentos a Luiz Dalben, Dirceu Dalben, Guilherme Boulos e, de maneira muito especial, ao presidente Lula. A Vila Soma estará sempre pronta para recebê-los.A luta por moradia digna continua! Viva a Vila Soma!