Dois povos, dois Estados
É condenável a tentativa da direita brasileira de partidarizar a dor e o sofrimento alheio diante da escalada da violência entre Israel e o grupo palestino Hamas. É abjeta essa posição, pois se utiliza a morte de civis e inocentes para alimentar uma guerra política e ideológica com base em mentiras e fake news. Essa prática da direita ficou visível nos últimos dias, com distorção dos fatos, da história e até da clássica e pacifista posição do Brasil diante da questão entre Israel e Palestina.A bancada do PT no Congresso, assim como o partido, desde o primeiro momento repudiou a série de bombardeios e ataques terrestres realizados em Israel a partir da Faixa de Gaza, provocando a morte de centenas de cidadãos israelenses e até de brasileiros que lá estavam. Manifestamos condolências aos familiares das vítimas e solidariedade ao povo de Israel.Ao mesmo tempo, o PT repudiou a reação desproporcional das forças militares israelenses contra os civis palestinos na Faixa de Gaza, uma minúscula faixa de terra onde se espremem 2 milhões de pessoas lá confinadas há mais de uma década em um verdadeiro campo de concentração, sem direitos e sem perspectivas. Pior, são tratados agora como sub-humanos pelo ministro da Defesa de Israel, sem acesso a água, comida e energia.Não há justificativa para o recurso à violência por ambas as partes, sobretudo contra civis, incluindo crianças, idosos e mulheres. Nesse momento, como saída, é preciso usar todos os recursos diplomáticos para evitar a escalada da violência e a deterioração da situação.A retaliação militar, sob o pretexto da segurança de Estado, configura um genocídio que a todo custo deve ser evitado pela comunidade internacional. Daí a importância de o governo brasileiro atuar com firmeza, no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, por um cessar-fogo imediato e pela construção da única saída pacífica possível: a existência de dois Estados, Israel e Palestina, com pleno direito à soberania, ao desenvolvimento econômico e às tradições históricas de cada um. E que ambas as partes reconheçam reciprocamente a existência legítima da outra.A desproporcional ofensiva militar anunciada pelo governo de extrema-direita de Netanyahu só vai resultar em mais ódio e destruição e exposição de inocentes a armas letais. Assim, é elogiável o apelo do presidente Lula para que haja, no mínimo, um cessar fogo para retirada de crianças e mães palestinas e israelenses que estão em meio à guerra na Faixa de Gaza.Como disse Lula, crianças jamais poderiam ser feitas de reféns, não importa em que lugar do mundo. O Hamas deve libertar as crianças israelenses que foram sequestradas de suas famílias e Israel deve cessar o bombardeio para que as crianças palestinas e suas mães deixem a Faixa de Gaza através da fronteira com o Egito. A insanidade da guerra deve ser debelada.Diante da gravidade do quadro atual, a comunidade internacional deve persistir na importância do compromisso de instituir um Estado palestino, junto com o de Israel, e que convivam em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. É preciso, com a máxima urgência, retomar as negociações de paz, para encaminhamento da questão israelo-palestina. A guerra e a violência não interessam a ninguém. A comunidade internacional precisa se unir para construir uma solução pacífica e duradoura para o problema. E o caminho da paz na região pressupõe, entre outras coisas, o cumprimento dos acordos de Oslo, que completam 30 anos em 2023, e o cumprimento das Resoluções da ONU, inclusive a que garante um Estado palestino, nunca concretizado em 75 anos.O Brasil, como presidente interino do Conselho de Segurança da ONU, poderá cumprir papel estratégico como mediador deste conflito histórico. Em pleno século 21, é preciso reforçar o papel da diplomacia, das negociações. Armas e violência deviam ser símbolos de um passado que nos envergonha a todos.*Deputado federal por Minas Gerais e vice-líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados