Oleg, um refugiado de guerra acolhido pelos amigos brasileiros

As imagens de uma guerra que já chega a um ano, um país destruído, o abandono do lar e da família, não faltam motivos para abater o ânimo, mas o ucraniano refugiado Oleg Kukhtinov, de 32 anos, não aceita considerar-se uma vítima. Ao contrário, ele se revela uma pessoa com muita fé e otimismo.  Oleg é professor e intérprete, falando vários idiomas e quando a guerra na Ucrânia começou, ele tinha uma rotina agitada de trabalho. Ensinava russo a brasileiros através de aulas online, por vezes recebia e acompanhava os amigos que foram fazer turismo e atuava como intérprete de jogadores brasileiros no Shakhtar Donetsk. Ali, ele uniu duas paixões: o futebol e línguas. Como intérprete, ele conheceu nomes ilustres do futebol, como Júnior Moraes e Alan Patrick.  Com a guerra, ele não conseguiu mais trabalhar. Primeiro se protegeu com a família em um bunker em sua cidade, Konstantinovka, e depois precisaram se mudar para longe dos conflitos. Os amigos que Oleg fez ao longo dos anos foram essenciais para os tempos difíceis, que ainda não ficaram para trás. Ele recebeu ajuda para viver enquanto permaneceu na Ucrânia. Quando decidiu deixar o País, porque tinha sido alistado, os amigos jogadores enviaram a passagem e receberam-no em casa por uma temporada, em São Paulo.  No Brasil desde agosto, a solidariedade só se renova. Os alunos e conhecidos passaram a recebê-lo. Como deixou a Ucrânia apenas com uma mala pequena e uma mochila com documentos, Oleg conta que em Porto Alegre amigos ucranianos deram a ele um notebook, o que permitiu retomar as aulas e traduções. Ele deixou o país sem levar o que tinha porque temia ser roubado.  Oleg também conta ter recebido roupas e lembra que não precisou pagar um dia sequer de hospedagem desde que chegou. Ele obteve refúgio no Brasil e também no Canadá. Há cerca de dez dias, Oleg veio para Campo Grande, também recebido por amigos. O futuro ainda não está claro.  Diante de tanto cinza e incerteza em meses assistindo a destruição da guerra, nem poderia ser diferente. Mas Oleg tirou muitas lições. Quando falamos sobre relatar sua história, ele logo disse que precisava dizer muitas coisas. Oleg teve um aprendizado forçado e quis passar isso adiante.  “Quero que as pessoas entendam que não se deve valorizar as coisas, mas a amizade, a família. São tesouro que não se compra”, expõe. Ele também fala sobre a guerra, que primeiro afetou seu destino em 2014, com a invasão da Crimeia, e, agora, na região do Donbass, ambas pela Rússia, forçando-o a sair do País para não pegar em armas. “Dinheiro se torna papel, é preciso valorizar a paz, não correr atrás de armas.”