Com salários atrasados, funcionários da Santa Casa paralisam trabalho
Com faixas reclamando do atraso de pagamento referente a fevereiro, enfermeiros e outras categorias da Santa Casa paralisaram os trabalhos na manhã desta quinta-feira (9). Os pagamentos foram depositados com atraso nos últimos meses, segundo o presidente do Sintesaude MS (Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores e Estabelecimentos de Serviços de Saúde), Osmar Gussi. Ele estima que os pagamentos totalizam R$ 15 milhões. O vice-presidente da Santa Casa, Jary de Carvalho e Castro, alega que o atraso é decorrente da espera por recurso da Prefeitura de Campo Grande, previsto em contrato. Ele explica que o hospital tem 3,5 mil funcionários e 30% estão parados hoje. Nós prestamos serviços de atender a população e a prefeitura nos paga e houve um pequeno atraso que está sendo recorrente. Precisamos que seja honrado esse pagamento. A Santa Casa é um hospital privado, que presta serviço ao SUS (Serviço Único de Saúde)", disse. Os funcionários gritam “pagamento já” e seguram faixas com as frases "Santa Casa a mercê do descaso público” e “Salário em dia não é obrigação, é um direito do cidadão”. Os trabalhadores são de departamentos como copa, cozinha, lavanderia, manutenção, limpeza, recepção, faturamento, administrativo, psicologia, terapia ocupacional, entre outros. É uma situação constrangedora, porque o atraso acontece quase todos os meses. É difícil para os trabalhadores. As pessoas trabalham porque têm compromissos e não podem arcar com seus compromissos. São pais e mães de família. Estamos em assembleia contínua, aguardando a decisão do poder público. Se isso não acontecer, se esse dinheiro não chegar no crédito da Santa Casa para ser repassado para a folha, provavelmente amanhã estaremos com indicativo de greve geral”, disse Osmar. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Área de Enfermagem de Mato Grosso do Sul, enfermeiro Lázaro Santana, o hospital alega que não tem dinheiro para pagar os salários por falta de repasse do município e a superlotação também prejudica as condições de trabalho. “Urgência e emergência é prioridade. O quantitativo de profissionais é 70%, as equipes estão se esforçando para fazer o atendimento. Nenhum paciente está deixando de ser assistido. O que está acontecendo é um pouco mais de morosidade também por conta do déficit que já temos aqui de profissionais”, comentou Lázaro. Funcionários - Escriturária do faturamento, Marcela Katiuce, de 22 anos, trabalha no hospital há 6 meses e conta que, nesse tempo, sempre recebeu os salários com atraso. “Acho uma total falta de respeito porque não podemos parar nosso serviço, senão a Santa Casa não recebe e eles não nos dão uma satisfação do porque estão atrasando. Terça-feira foi o 5° dia útil e até agora não deram nenhum esclarecimento”, lamentou Marcela. Há dois anos, como técnica de enfermagem no hospital, Paola Campos, de 30 anos, também reclama dos atrasos constantes. "É uma situação precária, humilhante e constrangedora. Nossas contas têm juros e não recebemos com juros, sempre temos que paralisar. Tenho uma filha de 6 anos para criar, tenho casa para sustentar. Se chega atrasado ou se falta desconta da gente. O passe de ônibus demora pra carregar quando tem atraso do salário e você tem que arcar do seu bolso. Se não tem essa pressão não tem o pagamento. Já paralisamos por três dias uma vez por conta desse atraso salarial”, reclama Paola. Possível greve - Em nota, a Santa Casa informou ainda que não houve notificação oficial de indicativo de greve de nenhum sindicato até o momento. "A ação mobilizada por estes representantes, na manhã desta quinta-feira, dia 9 de março, é uma paralisação e que não há risco assistencial, tendo em vista que uma parte dos profissionais segue no posto de trabalho. Ressaltamos que assim que os valores contratuais forem repassados ao hospital, faremos o pagamento dos profissionais celetistas", diz a nota. A reportagem aguarda reposta da Prefeitura de Campo Grande sobre a alegação do hospital de atraso no pagamento de recurso previsto em contrato.