Leite e derivados, carne e frango são os itens mais encontrados nas mãos de quem foi flagrado furtando alimentos em Campo Grande. Além disso, 100% das mulheres, presas no período de 1 ano e que precisaram ser representadas por um advogado público em audiências de custódia, eram mães. Todas elas foram pegas com leite e proteínas. Os dados constam em levantamento feito pelo Nucrim (Núcleo Criminal) da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul com os casos atendidos entre 1º de julho de 2022 a 30 de junho de 2023. Conforme a análise, divulgada nesta terça-feira (11), das 28 pessoas que acabaram na cadeia após serem pegas furtando comida, duas delas reincidiram ao longo deste 1 ano. “Esse tipo de furto é completamente diferente dos casos em que a pessoa se apropria de algo para lucrar. Os dados apontam que essas pessoas flagradas com alimentos furtaram para consumo próprio e de familiares, ou seja, sobrevivência. Vale lembrar que esse número pode ser maior já que esses casos são subnotificados”, destaca o defensor público Daniel de Oliveira Falleiros Calemes, coordenador do Nucrim. O levantamento mostra ainda que dentre os oito produtos na lista de alimentos furtados, as proteínas aparecem em 17 casos. Depois disso, embutidos (como linguiça) e guloseimas estão entre os mais comuns. Quem são? - O perfil dos presos também chama a atenção. A maior parte tem entre 31 e 40 anos (pais e mães), se autodenomina parda e têm baixo grau de escolaridade (o que dificulta a inserção no mercado de trabalho formal). Todas as 10 mulheres pegas têm filhos. Dos 28 autuados em flagrante, 16 sequer havia concluído o Ensino Fundamental, 14 disseram estar desempregados e 22 declararam viver de “bicos”. A vulnerabilidade também fica escancarada em outro detalhe: 8 assistidos pela Defensoria nem documentos tinham. Em 2022, a mesma análise divulgada pelo Nucrim apontava que 32 pessoas haviam passado por audiência de custódia na Capital por furto de comida. Fome – Até o ano passado, a fome estava presente em 5% dos lares sul-mato-grossenses – pouco mais de 40 mil domicílios –, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A insegurança alimentar rondava 37% das famílias em setembro de 2020, última vez que o IBGE fez a sondagem. Em setembro de 2022, pesquisa divulgada pela Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) mostrava que o problema atingia 266 mil pessoas em Mato Grosso do Sul.
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