Memorial Cambahyba, Ditadura Nunca Mais, Memória, Verdade e Justiça, em Campos dos Goytacazes (RJ), é um monumento aos presos políticos incinerados pelo regime
247 - No próximo dia 6 de dezembro, às 14h30, no parque industrial da extinta Usina Cambahyba, na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), será inaugurado o Memorial Cambahyba, Ditadura Nunca Mais, Memória, Verdade e Justiça, marcando o início da caminhada para relembrar os 60 anos do golpe de 1964. Esta iniciativa, que busca transformar os fornos da "Usina da Morte" em símbolo de resistência, é apoiada pelo Ministério dos Direitos Humanos, familiares de presos, mortos e desaparecidos políticos, além de diversas entidades da sociedade civil.
Em uma recente entrevista no programa Casa das Manas, da TV 247, a jornalista Denise Assis, autora do livro Cláudio Guerra: Matar ou queimar, a psicanalista Vera Vital Brasil do Coletivo RJ Memoria, Verdade, Justiça e Reparação e do Coletivo Psicanalistas Unidos pela Democracia, e a educadora Cristina Capistrano, filha do desaparecido político David Capistrano, discutiram a importância do memorial para que os assassinatos perpetrados pelo Estado no passado recente da história do Brasil não sejam esquecidos e jamais voltem a acontecer. A escolha do local, onde corpos de presos políticos foram incinerados durante a ditadura militar, destaca a relevância do evento como um esforço coletivo para preservar a memória, buscar a verdade, fazer justiça, reparar danos e promover a reforma agrária.
Nos fornos desta usina foram incinerados os corpos de diversos presos políticos que enfrentaram a dura repressão da ditadura militar. Doze desses corpos já foram identificados, tornando-se símbolos de resistência e luta pela justiça:
Ana Rosa Kucinski Silva (ALN)
Armando Teixeira Frutuoso (PCdoB)
David Capistrano (PCB)
Eduardo Collier Filho (APML)
Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira (APML)
João Batista Rita Pereda (VPR)
João Massena Melo (PCB)
Joaquim Pires Cerveira (FLN)
José Roman (PCB)
Luiz Inácio Maranhão Filho (PCB)
Thomáz Antônio da Silva Meirelles Neto (ALN)
Wilson Silva (ALN)
Diversas organizações e movimentos, como ABI, ABJD, Associação de Pós Graduandos da UFF Mariele Franco, ANPG, CTB, CUT, MST, entre outros, apoiam e participarão do evento, destacando sua importância como parte de um esforço coletivo para preservar a memória, buscar a verdade, fazer justiça, reparar os danos causados e promover a reforma agrária.
Há mais de 20 anos, o MST luta pela desapropriação do Complexo Cambahyba, classificado como improdutivo em 1998 devido à falta de cumprimento da função social. A ocupação da Usina Cambahyba visa não apenas a busca por território, mas também a preservação da memória daqueles que foram silenciados durante a ditadura militar. A usina, cujo proprietário foi cúmplice de práticas desumanas, utilizou seus fornos para incinerar os corpos de 12 presos políticos e opositores do regime, tornando-se um símbolo da crueldade desse período histórico.
Em agosto de 2023, o Governo Federal anunciou que irá destinar a área da antiga Usina Cambahyba para a reforma agrária, transformando-a em assentamento do MST. A região, disputada por quase três décadas e considerada improdutiva em 2012, foi desapropriada e destinada ao Incra em 2021. O local receberá o nome de Assentamento Cícero Guedes, em homenagem a um ativista do MST.
O apoio de entidades como a Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Comissão dos Direitos Humanos e Cidadania da ALERJ e Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça, reforça o compromisso de diferentes setores da sociedade na construção de um país mais justo e democrático. O Memorial Cambahyba não é apenas um monumento físico; é um símbolo de resistência, uma promessa de que as violações dos direitos humanos durante a ditadura militar não serão esquecidas. Mais do que isso, é um chamado para que nunca mais aconteça. A união de diferentes setores da sociedade em torno deste ato ressalta a importância de se manter vigilante contra qualquer tentativa de retrocesso democrático. O dia 6 de dezembro ficará marcado como o início da caminhada para relembrar, aprender e garantir que as gerações futuras não vivam sob a sombra de um regime autoritário. O Memorial Cambahyba é uma afirmação de que, mesmo após 60 anos do golpe de 1964, a luta por memória, verdade, justiça, reparação e reforma agrária continua mais viva do que nunca.