Pacote de arrocho fiscal anunciado reduz drasticamente a participação do estado e deteriora a vida dos argentinos em todos os aspectos”, escreve Aquiles Lins
No terceiro dia de Javier Milei como presidente, os argentinos estão começando a comer o pão que o diabo do ultraliberalismo está amassando, desta vez com vigor muito maior. Desde que tomou posse no domingo (10), uma das primeiras medidas de Milei foi o fim do acordo que o governo tinha com produtores de alimentos, supermercados e outros setores econômicos para aliviar o impacto da inflação, que deve ultrapassar a já estratosférica taxa de 143% ao ano. Com isso, as máquinas de marcação de preços dos alimentos e produtos de primeira necessidade estão trabalhando a todo vapor pelo país. O resultado já são filas enormes nos supermercados argentinos, com as pessoas cientes de que não conseguirão comprar a mesma quantidade de itens com o mesmo dinheiro. Algo que os brasileiros mais velhos conhecem bem durante os governos de José Sarney e Fernando Collor de Mello.
O pacote de arrocho fiscal anunciado pelo ministro da Economia argentino, Luis Caputo, em um pronunciamento gravado, é draconiano. As medidas reduzem drasticamente a participação do estado, pioram a vida da população em todos os aspectos e representam a verdadeira contratação de uma convulsão social no país para os próximos meses ou até semanas.
Para começar, 1 dólar passará a valer 800 pesos, ao invés dos 365 pesos da cotação atual. Isso, por si só, já representa um tsunami nas contas familiares. Mas não é só: energia elétrica e transportes não terão mais subsídios, o que aumentará exponencialmente as contas de luz, gás, além das despesas do povo com trens e ônibus. Todas as licitações públicas estão suspensas e os cargos públicos com menos de um ano de ocupação não serão renovados. Também foi cortada toda publicidade oficial do governo na mídia argentina por um ano. Repasses constitucionais para os estados foram reduzidos ao mínimo, que deverá levantar a ira dos governadores. O “plano Motosserra” de Milei prevê o fim da exigência de licença prévia para importações. Além disso, o novo “governo libertário” também anunciou a redução de 106 para 54 secretarias, e os ministérios de 18 para nove. Só para se ter uma ideia da destruição que vem por aí, o Fundo Monetário Internacional classificou as medidas como “audaciosas”. O FMI manda no orçamento da Argentina desde 2018, quando o ex-presidente Mauricio Macri pegou US$ 44,5 bilhões em um empréstimo onde ninguém aonde foi parar o dinheiro.
Javier Milei tem dito que o corte dos gastos públicos será equivalente a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina. Com 40% da população na linha de pobreza e com inflação de 143%, viver se tornará insustentável na Argentina. E aí, sem comida na mesa, sem dinheiro para trabalhar ou sem trabalho, e sem perspectiva, os argentinos, que já estavam cansados da estagnação dos últimos anos da era peronista, vão conhecer o inferno na terra. E o resultado pode estar no reino do imponderável.