Na disputa declarada de pobres contra ricos, o Hamas contra os poderosos de Israel, estes, ao contrário do que imaginam, não lograrão vencer
Guerra não se ganha apenas em campos de batalha. A opinião que gera possui importância fundamental. Antes de ser derrotado em Stalingrado, Hitler já se havia envolvido com uma opinião mundial contrária a seus métodos e interesses. O mesmo aconteceu no Vietnã, primeiro com os franceses e depois com os norte-americanos. No Iraque, as tropas de Washington se viram às voltas com uma animosidade surda e sempre presente contra a sua ocupação. Na Palestina, não será diferente. O que se iniciou com impressão geral inclinada em favor de Tel Aviv, mudou de direção e hoje se custa a crer que alguém, em sã consciência, assista indiferente à matança de velhos, mulheres e crianças, enquanto os adversários se refugiam nos túneis habilmente construídos – e resistem.
Manifestações de rua em toda parte clamam por paz e culpam os israelenses pela catástrofe. Os sistemas de comunicação estampam imagens da miséria conjugada à crueldade em todos os níveis por ação das tropas comandadas por Netanyahu e seu projeto de eliminar todos, TODOS, os palestinos que estiverem em seu caminho. Ele se esquece que aquela população ali se encontrava há dois mil anos e que não se deixarão expulsar com facilidade. Que têm eles a ver com os destemperos de Hitler? Não perseguiram os judeus e, ao contrário, de início os receberam bem. A ONU, cabe reconhecer, meteu os pés pelas mãos em 1948. E agora, aparentemente, temos um problema insolúvel. Seja como for, guerra é guerra. Pouco a pouco, nota-se que desperta a animosidade da maioria. Biden, antes pomposo no apoio bélico e político contra o Hamas, começa a hesitar e reconhece a virada na opinião pública. O isolamento se revela às claras quando a Assembleia Geral da ONU, acima da decisão de seu Conselho de Segurança, votou por 153 votos, contra 10 e 23 abstenções pelo cessar fogo imediato.
Mudanças na opinião constituem reviravoltas importantes em quaisquer discussões que atinjam o Planeta. Israel caiu nessa armadilha. Caiu igualmente na armadilha dos túneis, cuidadosamente cavados sob o solo para pegar adversários de surpresa e vitimá-los. Claro que as perdas não se comparam entre um contendor e outro. No entanto, chorar a morte de um tenente coronel e um coronel na paisagem lunar em que Gaza se transformou, ao lado de soldados espalhados pelo chão, impressiona ao mais desavisado dos observadores. A exibição de prisioneiros manietados e sujeitos ao cano das metralhadoras e às bandeiras do colonizador também mancham a boa imagem que por ventura se pretenda construir. Não nos iludamos. Na disputa declarada de pobres contra ricos, o Hamas contra os poderosos de Israel, estes, ao contrário do que imaginam, não lograrão vencer.
A duração dos conflitos em tamanha proporção na desigualdade de forças demonstra que a luta continuará sendo árdua para os dois lados, mas a verdade é que o “passeio” prometido por Netanyahu a seus soldados não se efetivou. Será uma luta de longa duração, com perdas de parte a parte e desgastes para a população judaica internacional. Hoje está provado que as armas convencionais não resistem a uma boa guerrilha. A justiça se acha com os palestinos. Eles resistirão.