“Milene Bagalho Estevam era reconhecida pela competência profissional e foi vítima da violência promovida pelo governo Bolsonaro”, escreve Aquiles Lins
A policial civil Milene Bagalho Estevam, de 39 anos, estava em pleno sábado (16) trabalhando na investigação de um furto no rico bairro dos Jardins, na capital paulistana. Junto com um colega de trabalho, a profissional foi requisitar imagens da câmera de segurança da residência vizinha. Mas infelizmente ela foi assassinada a tiros de pistola calibre 45, a uma distância entre 8 e 10 metros, pelo proprietário da casa, o empresário Rogério Saladino, de 56 anos. Milene nem teve tempo de reagir, estava ao telefone falando com o delegado do caso sobre a diligência.
Além da pistola 45, Saladino usou ainda outra pistola, calibre 380, para atirar contra os policiais. O homem acreditava se tratar de um suposto golpe. Seus disparos acertaram um veículo Uber que estava estacionado, bem como o portão da casa em frente. Na troca de tiros, o colega de Milene, o também policial civil Felipe Wilson da Costa, 44 anos, revidou e atingiu o empresário Rogério Saladino, que também morreu. A tragédia ainda deixou uma terceira vítima, o vigilante Alex James Gomes Mury, 49 anos. Ao ver o patrão atingido, Alex teria pegado a pistola 380 de Saladino e atirado contra o policial Felipe, sendo também baleado por ele.
Segundo a Revista Brasileira de Ortopedia, uma bala de pistola 45 provoca um pequeno orifício de entrada e uma maciça destruição no seu trajeto, principalmente se na região do abdome ou do tórax. Rogério Saladino tinha armas de fogo registradas em seu nome no Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal. No entanto, a Polícia Civil paulista não confirmou se as pistolas usadas por ele na troca de tiros estavam registradas.
A tragédia que matou três pessoas na região rica da capital paulistana é mais um reflexo dos decretos de liberação desenfreada de armas promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro. Durante os quatro trágicos anos de seu mandato, foram concedidos 904 mil novos registros de armas para caçadores, atiradores e colecionadores. Foram em média 619 novas armas liberadas por dia para CACs. E mais, 47% dos registros foram realizados em 2022, ano das eleições presidenciais que Bolsonaro tentou invalidar por meio de um fracassado golpe. É bom lembrar que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi ministro de Bolsonaro e é defensor da liberação de armas promovida pelo governo de extrema-direita. Tarcísio também defendeu o massacre realizado pela Polícia Militar na periferia da cidade de Guarujá em reação à morte do soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos. A retaliação da PM, batizada de Operação Escudo, resultou na morte de 27 pessoas, em sua maioria pobre e de pele preta.
Milene Bagalho Estevam era uma policial competente e respeitadíssima no Departamento Estadual de Investigações Criminais, o Deic. Tida como referência por sua eficácia na resolução de crimes como homicídios e latrocínios. Durante o seu velório, Milene foi homenageada por muitos policiais civis. Com sirenes ligadas e muitas pessoas a pé, viaturas seguiram em cortejo do local onde o corpo foi velado até o cemitério. Ela deixou uma filha de cinco anos.
Tragédias lamentáveis como esta reforçam a importância das decisões tomadas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que reverteram parte das facilidades para adquirir armas de fogo no Brasil. Tarcísio se manifestou contra as medidas. Além de grande parte das armas adquiridas irem parar nas mãos do crime organizado, a posse de revólveres, pistolas, fuzis e outras armas de grosso calibre estão em posse de ditos “cidadãos de bem” que, munidos de qualquer interpretação equivocada de um evento, não hesitam em abrir fogo e tirar a vida de outra pessoa, colocando a sua própria vida em risco.