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Январь
2023

Kênia Medeiros: “Ser mãe foi uma experiência que me fez mais forte”

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Professora, doutora e pesquisadora, Kênia é mulher sensacional com visão científica e experiência pessoal com os “pés no chão”

Ano novo, vida nova e conversas que precisam URGENTEMENTE serem debatidas em pleno 2023 democrático e esperançoso. Por isso, a mãe que vai participar hoje do “Conversas de Mãe” é ninguém menos que Kênia Medeiros: Doutora em História, professora do IFG Campus Formosa, pesquisadora de História das Mulheres e Relações de Gênero e integrante do GT Mulheres Cientistas e Maternidades Plurais da FH/UFG/CNPq. Uma mulher sensacional que sem dúvida tem uma visão científica e uma experiência pessoal com os “pés no chão” do Centro-Oeste Brasil e os olhos no Horizonte infinito de um mundo mais equitativo e justo para todas as pessoas.

Aqui é um espaço para mães conversarem e para quem não é mãe também. Afinal, o mundo é povoado de crianças e TODAS AS VOZES importam! Venha conosco nesse bate-papo que vai invadir 2023 e trazer muitos debates sobre maternidades, carreira, justiça social e afetos. Vamos conversar?

Manda um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com e venha construir esse espaço conosco!

Ana Carolina Coelho – Primeiro, conta um pouco para gente: como é para você ter uma carreira acadêmica e ser mãe?

Posso afirmar sem dúvidas que há dias insanos (risos). Dias nos quais além das atividades cotidianas, um prazo de um artigo ou um relatório coincidem com uma atividade dela, como uma prova de matemática ou uma apresentação numa feira de ciências. De modo geral, estou sempre atarefada, apressada e tenho que conciliar minha agenda com a dela e com a do meu companheiro, que também é professor e pesquisador. Nossa rotina frequentemente é atravessada pelas nossas pesquisas. Apesar desses dias difíceis, há também acontecimentos relativos à minha condição de mãe cientista, que considero muito legais, repletos de emoções únicas. Hoje a Malu tem 12 anos e a chegada dela a adolescência nos levou a ressignificar algumas coisas na nossa relação, a cada dia tenho buscado me aproximar e ser escuta nessa fase, mas também tenho mostrado a ela mais de mim, mostrado uma pessoa que sabe outras coisas além de ser mãe. Houve, por exemplo, um dia em que minha filha viu um vídeo no Youtube sobre um tema histórico e veio me dizer como achou interessante e foi um momento muito legal poder mostrar a ela que eu tinha um texto publicado sobre o assunto. Ela me olhou surpresa, com os olhinhos brilhando, me olhou com admiração. Evidentemente, nessa tentativa de conciliar as coisas, já tive que abrir mão de muita coisa tanto na carreira quanto na maternidade. Já perdi oportunidades acadêmicas por ela e também perdi muitos momentos com ela em nome da carreira. Claro que todas as mães que estão no mercado de trabalho, acabam passando por isso e tendo que lidar, inclusive, com a culpa que infelizmente, porventura, nos afeta.

Ana Carolina Coelho – O que você considera que os Institutos Federais precisam modificar para se tornarem mais acolhedores às demandas das mães docentes?

Os institutos, assim como outras instituições de ensino e pesquisa tem avançado no debate sobre as maternidades, sobretudo, no reconhecimento das especificidades das trabalhadoras e estudantes que vivem essa condição. Mas ainda é preciso fazer mais. Acredito que ainda é preciso que as comunidades acadêmicas entendam a maternidade como uma experiência que é pessoal, afetiva, mas que também é uma condição política. Ser mãe impacta os estudos e as carreiras das mulheres, bem como, as atividades profissionais impactam o maternar. Vivemos buscando um equilíbrio ainda difícil na nossa sociedade e precisamos de que esse fator seja reconhecido para além dos discursos, que cada vez mais a maternidade seja critério para a elaboração e implementação de políticas institucionais. Adequações nos horários, espaços físicos para amamentação, editais específicos, são exemplos que penso que devem começar a ser mais frequentes nas instituições, pois muitas mães e suas crianças fazem parte das mesmas e devem se sentir acolhidas.

Ana Carolina Coelho – Você é uma grande pesquisadora de História e Relações de Gênero no Centro-Oeste. Como você avalia as permanências e rupturas culturais da história das maternidades nessa região do país?

Acredito que estamos vivendo um momento muito interessante. Tenho percebido uma movimentação acadêmica e política em favor dos debates sobre os desafios que fazem parte das maternidades. Há algum tempo atrás, não apenas na nossa região, mas em outras, não víamos a maternidade como categoria nos eventos acadêmicos ou nas linhas de pesquisa cadastradas nas instituições. Hoje estamos vendo os primeiros passos das maternidades plurais como fenômeno social digno de investigação científica e de cuidado institucional. Você, Ana, tem um papel fundamental nisso, dentro e fora da nossa região, pois suas escritas e falas sobre o assunto tem encorajado muitas mães cientistas e estudantes a verem a maternidade como uma experiência a ser partilhada também nos espaços acadêmicos. Esse ano, por exemplo, na minha instituição, o IFG, iniciamos a elaboração de um projeto de um núcleo de pesquisa em estudos de gênero aqui no campus Formosa e uma das nossas linhas de pesquisa será a maternidade, essa possibilidade ocorre pela necessidade sentida na vida prática, mas também pelo acúmulo de debates já realizados sobre esse tema. Estamos vendo, cada vez mais pessoas querendo discutir e escrever sobre as maternidades, cada vez mais mães cientistas e estudantes que não se deixam intimidar por essa vivência pessoal.

Tenho percebido uma movimentação acadêmica e política em favor dos debates sobre os desafios que fazem parte das maternidades.

Ana Carolina Coelho – A “Revolução Malu”, parafraseando o livro da Manu D’Ávila mudou de que maneira a sua forma de ver o mundo e às necessidades políticas do país?

Mudou tudo! Primeiramente eu quero dizer que eu não acho que a maternidade deva ser compulsória ou romantizada, mas para mim, ser mãe foi uma experiência que me fez mais forte, mais corajosa, mais atenta ao outro, ao mundo à minha volta. Há 12 anos eu saí com um bebê da maternidade e eu não estava bem, eu como estudante de mestrado, tive medo, ouvi piadas grosseiras e insinuações maldosas de muita gente, como se a maternidade fosse “o erro” que encerraria minha carreira. Ao contrário disso, cada vez mais senti necessidade de entender e atuar no mundo, de ajudar a transformar a sociedade da qual minha filha faz parte. Acho que ser mãe fez com que cada vez mais, minhas pesquisas e minha docência se vinculasse a essa luta pela transformação social. Acho que muitas mães são movidas por essa utopia, a de ajudar a construir um mundo melhor para suas filhas e filhos. Eu entendi que meu modo de fazer isso é escrevendo e ensinando História. Quero que minha filha veja em mim, que uma mulher pode realizar seus sonhos, pode estar nos espaços e debates públicos, pode ser uma mãe amorosa sem se limitar a isso.

Ana Carolina Coelho – Eu quero apenas te agradecer pelo tempo, carinho e conversa. Agora esse espaço é seu: há algo que você queira falar que eu não abordei?

Ana, eu que agradeço a honra de poder falar a você, uma pesquisadora a quem eu tanto admiro e em quem me inspiro, agradeço também ao Jornal Opção. Acho muito importante esse diálogo público aberto por vocês nessa parceria. Eu gostaria de me dirigir especialmente às mulheres que estejam lendo essa coluna agora, que estejam passando por dificuldades para viverem maternidade, profissão, estudos. Eu gostaria de dizer que as dificuldades e as necessidades de adaptação são reais, mas que assim como a sua criança se desenvolve e aprende a cada dia, você também está se desenvolvendo como mãe. Nem todos os dias as coisas vão dar certo, mas não podemos nos conformar com a ideia de que a maternidade deva encerrar nossos sonhos, desejos, ambições. A nossa identidade deve continuar existindo após a maternidade, pois nossos filhos merecem nos conhecer para além do carinho, das broncas e obrigações que cumprimos com eles cotidianamente no maternar, eles merecem saber do que somos capazes de realizar como profissionais, como pessoas que atuam no mundo. Assim, no âmbito pessoal, ofereço meu incentivo para a persistência, para a vivência da “estranha mania de ter fé na vida”; no âmbito público, deixo o convite para que cada mãe trabalhadora da maneira que puder, participe dessa onda crescente de luta por reconhecimento das especificidades da vida de quem acumula essas funções.











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